A Vale irá descomissionar diques em pelo menos três barragens de Itabira: Pontal, Rio de Peixe e Conceição. As estruturas, erguidas pelos métodos a montante, estão na lista da mineradora para deixarem de existir. Ainda não há um cronograma definido, mas, de acordo com a direção da empresa no município, a expectativa é de que ao fim do primeiro quadrimestre do ano que vem os projetos já estejam mais maduros e prontos para uma “discussão ampla” com a comunidade.
Até então, a notícia que se tinha, apresentada pela própria Vale em reunião com prefeitos da Associação dos Municípios Mineradores de Minas Gerais (Amig), era de que apenas o Dique 02 do complexo de Pontal seria descomissionado. Agora, a informação é de que estruturas em outras duas importantes barragens da mineradora em Itabira também serão desativadas.
O que são?
Os diques são estruturas que funcionam como braços alimentadores e aumentam a capacidade das barragens. Pontal, por exemplo, possui sete contenções desse tipo. Dessas, pelo menos duas, foram erguidos pelo método a montante, considerado o mais perigoso: o Cordão do Nova Vista e o Dique 02. A empresa não confirmou quantos são os diques a serem desativados em Rio de Peixe e Conceição.
É importante frisar que apenas os diques desses complexos foram alteados pelo método a montante, quando se usa o próprio rejeito para aumentar a capacidade da estrutura. As barragens foram erguidas pelo método a jusante, apontado como mais seguro e diferente das contenções que se romperam em Mariana e Brumadinho.
“São diques internos que foram construídos para se obter o melhor aproveitamento das barragens. A visão da época era de que esses barramentos tinham segurança, o que agora foi comprovado que não tem. E por isso a Vale vai descaracterizar”, disse o gerente-geral das minas de Itabira, Rodrigo Chaves, durante audiência pública realizada no último dia 9.
De acordo com o número um da Vale no município, a empresa quer chegar até abril do ano que vem com os projetos já definidos. A partir daí, segundo ele, a execução passa para a segunda fase, que seria a discussão com a comunidade sobre a implantação.
“Então, se tudo ocorrer conforme o planejado, a gente tende a iniciar o processo de descomissionamento – que vai iniciar por etapa de informação e não por etapa de obras – no próximo ano”, afirmou o gerente.
Remoções
Um dos pontos mais debatidos em Itabira desde a tragédia de Brumadinho, a segunda em menos de quatro anos na mineração – Mariana aconteceu em 2015 -, é a remoção de comunidades instaladas nas chamadas zonas de autossalvamento (ZAS), aqueles distantes a menos de 10 quilômetros das barragens. A própria Vale estipula que 13 mil pessoas, em 5 mil imóveis, estejam nessa situação no município.
O tema foi o mais abordado durante a audiência pública realizada no início de dezembro. Moradores demonstraram temeridade por estarem tão próximos às barragens e falaram também sobre a desvalorização de seus imóveis. Uma das sugestões foi de que a Vale faça a remoção temporária das pessoas até que as estruturas estejam descomissionadas. A ideia recebeu aceno positivo do gerente da empresa.
“É interessante a recomendação de remoção temporária. Pode ser o melhor para as regiões afetadas. E depois que o descomissionamento acabar, as pessoas voltariam para as suas casas. É isso que a comunidade quer? Então é isso que a gente pode discutir”, disse Rodrigo Chaves.
Níveis de risco
Itabira tem hoje três barragens em nível 1 de risco de rompimento: Pontal, Itabiruçu e Santana. A primeira porque a Vale não conseguiu a declaração de estabilidade para um dos diques que compõe o complexo (justamente o 02, que será descomissionado), e as outras duas por necessidade de estudos geotécnicos mais detalhados.
Em caso de obras de descomissionamento, as estruturas poderiam ser elevadas ao nível 2, o que demandaria a retirada de comunidades nas zonas de autossalvamento. Nesses casos, segundo a mineradora, as remoções seriam amplamente discutidas com a comunidade e órgãos públicos para que se chegue ao melhor método.
“Nossa área de relações com a comunidade está sendo quadruplicada. Queremos discutir com todo mundo”, afirmou o gerente da Vale.