O comportamento do mercado financeiro global e brasileiro na semana passada mostrou na prática o conceito de volatilidade. A intensidade e velocidade de oscilação dos preços dos ativos reais e financeiros nos remeteu aos piores dias de abril de 2020, quando o mundo se deparou com a pandemia do Covid-19. A descoberta da nova variante do vírus, a Ômicron, causou pânico na segunda e virou preocupação na terça.
Na quarta-feira, o presidente do Banco Central americano, Jerome Powell subiu o tom contra a inflação e aumentou a possibilidade de retirada de estímulos da economia americana de uma forma mais rápida e de alta de juros no início de 2022 derrubando as bolsas e, em especial, o índice NASDAQ que abriga empresas de tecnologia que precisam de dinheiro abundante e barato para tocarem seus projetos de investimento e crescimento.
Na Europa, a inflação ao produtor disparou e atingiu 21,9% a.a., só em novembro os preços subiram 5,8%. As vendas ao varejo cresceram apenas 0,2 %, mas o PMI composto que mede a atividade do setor industrial e de serviços avançou ligeiramente, de 54,2 para 55,4 em novembro. O número maior do que 50 indica que a atividade econômica está em expansão.
Na sexta-feira, foi divulgado o payroll, os números do mercado de trabalho americano. A criação de apenas 210 mil empregos formais em novembro veio bem abaixo dos 570 mil esperados, mas queda da taxa de desemprego de 4,6% para 4,2% da população economicamente ativa na maior economia do mundo pode sinalizar para o FED, banco central americano, que a inflação pode ser a prioridade neste momento de quase plena recuperação do emprego.
Em um primeiro momento, a reação dos mercados de risco foi positiva já que uma geração bem mais tímida de postos de trabalho pode adiar a retirada de estímulos e a alta da taxa de juros nos EUA, mas como dissemos antes, o nível de emprego começa a ficar confortável ao contrário da perda de poder aquisitivo das famílias que vem sendo corroído pela maior inflação ao consumidor em 30 anos.
O mercado brasileiro acompanhou a volatilidade produzida pelo risco sistêmico de uma nova onda do Covid, mas precificou a diminuição das incertezas fiscais com a votação da PEC dos precatórios, o surpreendente comportamento das contas públicas em outubro e no ano, a geração de empregos formais pelo décimo mês consecutivo, segundo o CAGED, e a queda na taxa de desemprego de 14,2 % no segundo trimestre do ano para 12,6% no terceiro trimestre de acordo com os números da PNAD contínua do IBGE.
A queda de 0,1% no PIB do terceiro trimestre poderia ter sido uma leve alta se não tivéssemos tido a queda de 8% do PIB do setor agropecuário em razão de eventos climáticos. A seca e a geada inesperada comprometeram a produção de café, milho, algodão, laranja e cana de açúcar. A indústria ficou estável em relação ao segundo trimestre porque apesar do bom desempenho da construção civil e da indústria extrativa mineral, a indústria automotiva foi penalizada pela falta de componentes em decorrência do desarranjo das cadeias produtivas globais provocado pela pandemia e que também prejudicou outros setores da indústria.
O crescimento de 1,1% do setor de serviços segurou a estabilidade do PIB terceiro trimestre, e deve ser destaque positivo também na formação do PIB do quarto trimestre do ano. Na sexta, a divulgação do desempenho da produção industrial de outubro que recuou 0,6% em relação a setembro juntamente com a votação da PEC dos precatórios acalmou o mercado de juros futuros com a leitura de que o Banco Central pode elevar os juros em 1,5 ponto percentual ao invés de 2 pontos na reunião do COPOM que acontece nesta quarta-feira.
Resumo da ópera: apesar da maior volatilidade em razão do aumento das incertezas globais (ômicron e inflação americana) o nível de incertezas em relação ao equilíbrio fiscal brasileiro diminuiu substancialmente com a votação da PEC dos precatórios, enquanto a economia dá sinais positivos com recorde de arrecadação da receita, bom comportamento das contas públicas, aumento contínuo na geração de empregos formais e queda consistente na taxa de desemprego.
Rita Mundim é economista, mestre em Administração e especialista em Mercado de Capitais e em Ciências Contábeis
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