No bom português, “NÓS CONSEGUIMOS, JOE”. Foram estas as palavras de Kamala Harris, a nova e primeira mulher a se tornar vice presidente dos Estados Unidos. E agora Joe? O próximo presidente americano ganhou pelo voto, e recebeu a maior votação da história dos EUA. Mas Trump já está questionando o resultado na Justiça e, com isso, colocando em cheque o processo eleitoral da maior democracia do mundo.
No sábado (7) à tarde, quando a mídia americana reconheceu a vitória de Joe Biden, Donald Trump foi jogar golfe depois de ter postado em seu Twitter que Joe Biden não deveria se declarar presidente dos Estados Unidos, depois de emitir uma nota oficial de sua campanha alertando para o início dos questionamentos dos resultados, a partir desta segunda (9).
É bom deixar claro que Joe Biden ainda não é oficialmente o novo presidente americano, isso só será sacramentado no dia 8 de dezembro e, até lá, Trump terá o direito de protestar. A vitória de Biden está baseada em projeções feitas pela mídia e que terão que ser testadas no voto do dia 8 de dezembro.
Oficialmente o novo presidente será conhecido no dia 14 de dezembro e tomará posse no dia 20 de janeiro de 2021. Nos EUA, o eleitor vota naquele que votará por ele no dia 8 de dezembro. O voto não é direto mas indireto e os 50 Estados são representados por seus delegados no colégio eleitoral composto por 538 membros, e o número de membros de cada estado é proporcional à sua população e participação no Congresso, o que explica a relevância de estados mais populosos (com mais delegados) na definição da corrida presidencial.
Existe um ritual na democracia americana onde o candidato derrotado reconhece o candidato vitorioso através de um pronunciamento e um desejo de sucesso na condução do País, e, pela primeira vez na história, Trump se recusa a assumir a derrota e vai além, ao questionar todo o processo.
Sob o ponto de vista do mercado e da economia americana e global, o pior cenário seria a vitória de Biden por uma margem pequena que levasse à contestação de Donald Trump. E , pelo que parece, é o que está acontecendo.
Donald Trump é Donald Trump e ele vem falando e contestando a votação via correios desde meados deste ano. Logo após a mídia apontar a vitória de Joe Biden, grandes líderes mundiais se apressaram em parabenizar a chapa Biden/Harris, e dentre eles, vale destacar, a premier alemã Ângela Merkel e o presidente francês Emmanuel Macron, que podem ser considerados desafetos de Trump.
Trump, desde sua eleição, implementou uma política nacionalista e virou as costas ao mundo, desfazendo de forma proposital tudo que havia sido costurado pelo seu antecessor Barack Obama e ignorou regras e tratados feitos ao longo de décadas pela OMC, Organização Mundial do Comércio.
O jeito Trump de fazer negócios é personalista e nacionalista o que impôs e impõe incertezas para o comércio global e para as relações entre EUA e China, EUA e União Europeia e EUA e qualquer país do mundo, inclusive o Brasil.
Se confirmada, a vitória de Biden pode retomar o diálogo global e facilitar o fluxo do comércio com regras mais claras e estáveis, o que nesse momento de recuperação, será bom para todo o planeta. Seria a vitória de uma política globalista sobre o nacionalismo em um momento de extrema dificuldade global em que a solidariedade e o diálogo são fundamentais.
Essa semana será decisiva sobre o nível de incertezas globais em função da força e das evidências que poderão ou não serem apresentadas por Donald Trump. Se houver recontagem de votos, e, se provas concretas de fraude puderem mudar o resultado da eleição, a maior democracia e economia do mundo passará por turbulências capazes de atrasar ainda mais o processo de recuperação econômica em um momento de segunda onda de Covid-19.
O diálogo entre democratas e republicanos ficará mais difícil assim como a aprovação do pacote trilionário. tão necessário neste momento, e, os mercados , com certeza, precificarão essas incertezas. Se Trump reconhecer a derrota, tudo tende a ficar mais fácil e mais rápido, incluindo aí a transição de governo e as medidas necessárias para a preservação e recuperação da economia. Biden terá mais governabilidade e Trump sairá como o maior líder republicano da atualidade, e , como o presidente que levou os EUA ao pleno emprego.
Se Trump insistir nas fraudes e essas não forem comprovadas… Trump poderá sair da história, pela porta dos fundos. Mas é bom lembrar que em 2000, Al Gore foi presidente eleito pelas projeções da mídia por 37 dias, e, após a recontagem dos votos, George W. Bush assumiu. Essa semana promete…
Rita Mundim é economista, mestre em Administração e especialista em Mercado de Capitais e em Ciências Contábeis
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