Itabira e mineração caminham junto desde muito antes de o antigo vilarejo conquistar sua emancipação política e ser elevado ao status de cidade em 1848. Desde a exploração do ouro, no decorrer do século XVIII, até a extração do minério de ferro, décadas depois, o município e as minas sempre foram vizinhos próximos. Agora, ao completar 171 anos neste 9 de outubro, a cidade mira o futuro e corre contra o tempo para diversificar sua economia e minimizar o baque que certamente terá com a exaustão das atividades da Vale.
A Vale confirmou neste ano que suas minas em Itabira serão fechadas em 2028. São nove anos até lá, prazo que o governo atual e os próximos têm para estabelecer uma atividade econômica capaz de suportar a queda dos recursos provenientes da mineração. Atualmente, o município recebe cerca de R$ 100 milhões ao ano de Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais (Cfem). Com a exaustão das minas, por mais que a Vale afirme que continuará na cidade beneficiando o minério de ferro extraído em regiões vizinhas, Itabira deixa de ter direito ao grosso dos royalties e passa a ser considerado um município impactado, com um percentual bem menor de compensação.
O projeto principal para tornar essa diversificação possível é transformar totalmente o perfil econômico de Itabira. A ideia é fazer da cidade um polo de educação, inovação e tecnologia, tendo o campus local da Universidade Federal de Itajubá (Unifei) como indutora de um Parque Científico Tecnológico. Para que isso ocorra, Prefeitura e Vale anunciarão, em duas semanas, investimentos de R$ 100 milhões para a construção dos três próximos prédios da instituição.
O plano do atual governo é de que até 2028 a Unifei Itabira tenha 9.660 alunos, 640 técnicos administrativos e 535 professores. Estudos elaborados pela própria universidade apontam que essa população poderia acrescentar até R$ 260 milhões ao ano na economia do município. Atualmente, com 2.250 alunos e cerca de 300 funcionários, a Unifei injeta algo em torno de R$ 52 milhões em Itabira.
Para concluir o campus e tirar o Parque Científico Tecnológico do papel, além de construir um aeroporto, a administração municipal ainda busca recursos com um grupo de investidores da China. Os trâmites seguem emperrados em Brasília, por causa de legislações que precisarão ser alteradas. A Prefeitura, no entanto, afirma que segue tendo a parceria como factível e que continua com as articulações junto ao Governo Federal.
Educação
A mudança do perfil econômico de Itabira pela educação não passa somente pela Unifei. Quem passa pelo Centro da cidade, por exemplo, não consegue deixar de notar o prédio do Centro Universitário Una. O que antes era chamado de elefante branco agora é um chamativo ambiente escolar com 8 mil m² de área e capacidade para 13 cursos de graduação e outros três de pós-graduação.
A cidade ainda abriga mais instituições, como o Pitágoras, que já projeta uma sede própria, a tradicional Fundação Comunitária de Ensino Superior de Itabira (Funcesi) e outras redes com ensinos presencial e à distância.
Saúde
Na saúde, os olhos se voltam para a implantação do serviço de radioterapia no Hospital Nossa Senhora das Dores (HNSD). Credenciado pelo Ministério da Saúde, a instituição passará a oferecer tratamento completo contra o câncer em Itabira, consolidando-a como referência para uma população de 500 mil habitantes. A previsão é de que o projeto esteja completo no fim do ano que vem.
No Hospital Municipal Carlos Chagas (HMCC) chamam atenção os números da maternidade. Desde que foi reaberto, em 2016, o setor já realizou 3,7 mil partos. A ala é referência para 12 cidades da região.
Infraestrutura
A infraestrutura é um fator que preocupa para o desenvolvimento de Itabira. Para atrair novas empresas é necessário ter um ambiente propício. E o que mais pega no município hoje é a questão do abastecimento de água. Dois projetos em andamento visam atacar esse problema. O primeiro é o anel hidráulico, já em execução, que vai interligar todos os sistemas de captação da cidade. O outro é a parceria público-privada para captação de água no rio Tanque, tido como solução definitiva para acabar com a falta d’água em Itabira.
Apesar desse gargalo, os últimos meses já apresentaram novos investimentos para a cidade. O setor supermercadista é o mais movimentado. A rede MartMinas foi a primeira a inaugurar um hipermercado no bairro Gabiroba. O Villefort está em fase avançada de construção no bairro Areão. Por fim, o Epa já anunciou que chegará à cidade com uma loja na avenida Mauro Ribeiro, no Esplanada da Estação.
No Distrito Industrial, a Prefeitura tem adotado estratégias de concessões para popular a área. Recentemente, quatro empresas ganharam direito a explorar o local pelos próximos anos, com projeção de geração de até 200 empregos. O local, segundo estimativas do governo, possui hoje quase 50 empresas em atividade.
Durante muitos anos, a diversificação foi debatida e almejada em Itabira. Com a confirmação do inevitável, o senso de urgência se aflorou. Faltam nove anos para que a mineração se desprenda de Itabira como nunca antes na história do município. Neste 9 de outubro, se preparar para o futuro é melhor presente que a cidade pode dar para si mesma.