Relatório da Vale dá mais um ano de prazo para exaustão das minas de Itabira: 2029

Nova edição do Form-20, direcionado ao mercado internacional, foi protocolado pela mineradora no fim da semana passada e tem previsão diferente das apresentadas nos dois últimos anos para o fim das atividades em Itabira

Relatório da Vale dá mais um ano de prazo para exaustão das minas de Itabira: 2029
Mina de Conceição da Vale em Itabira – Foto: Esdras Vinícius
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Relatório da Vale direcionado ao mercado internacional traz uma informação ligada diretamente ao futuro econômico de Itabira. Segundo consta no Form-20, protocolado pela empresa no fim da semana passada, o prazo para a exaustão das minas operadas pela empresa na cidade ganhou um ano a mais. Se a previsão estipulada nos dois últimos formulários apontava para o fim das atividades em 2028, o deste ano, sustentado por dados de operação da mineradora em 2019, estima que o minério itabirano perdure até 2029.

O relatório anual Form-20 é uma exigência da Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos para empresas com operações na Bolsa de Valores de Nova Iorque. O documento traz informações detalhadas sobre as operações da Vale em todo planeta durante o ano anterior. Na edição mais atual, apresenta um panorama após o rompimento da barragem de Brumadinho e traça estimativas caso a pandemia do coronavírús prejudique o funcionamento das minas da companhia ao redor do mundo, seja de minério de ferro, carvão, níquel ou cobalto.

Nos relatórios publicados em 2018 e 2019, a Vale informou que a vida útil das minas de Itabira venceria em 2028. Até então, era com essa estimativa que as autoridades políticas e econômicas da cidade trabalhavam para preparar a cidade para o futuro pós-mineração. Agora, as tratativas ganham um novo referencial.

Vida útil das minas da Vale - Foto: Reprodução/Form-20
Vida útil das minas da Vale – Foto: Reprodução/Form-20

Mesmo com queda na produção, redução de reserva acelera 

O Form-20 da Vale mostra que a produção nas minas de Itabira em 2019 foi a menor nos últimos três anos. Mesmo assim, a redução das reservas na cidade foi percentualmente maior no ano passado do que no período imediatamente anterior.

Em 2019, a Vale produziu 35,9 milhões de toneladas de minério de ferro em Itabira. Em 2018, maior índice dos últimos anos, foram 41,7 milhões de toneladas. Em 2017, o resultado havia sido de 37,8 milhões de toneladas. A queda se dá, especialmente, pela suspensão das atividades da barragem de Itabiruçu, que interrompeu a produção na mina de Conceição.

Apesar dessa queda, a diminuição das reservas da Vale em Itabira foi maior no ano passado do que no anterior. Entre 2017 e 2018, as reservas caíram de 920,2 milhões de toneladas para 861,4 milhões, uma redução de 6,38%; já entre 2018 e 2019, a quantidade de minério a disposição foi de 861,4 milhões para 796,2 milhões de toneladas, retração de 7,5%.

Produção da Vale em 2019 - Foto: Reprodução/Form-20
Produção da Vale em 2019 – Foto: Reprodução/Form-20

Um dado que chama atenção na diferença entre os relatórios de 2019 e 2018 é a redução drástica na chamada “reserva provada”, aquela que é comprovadamente economicamente lavrável. No ano retrasado, esse tipo de reserva representava 687,5 milhões de toneladas; no ano passado, despencou para 418,9 milhões de toneladas, uma queda de 39%.

Do outro lado, as “reservar prováveis”, que ainda demandam mais estudos técnicos para ter a comprovação econômica, aumentou. Era 173,9 milhões de toneladas em 2018 e saltou para 377,4 milhões de toneladas em 2019, alta de 117% de um ano para o outro.

No relatório, a Vale esclarece que os dados de Itabira incluem apenas as minas de Conceição e do Meio, já que em Cauê não há mais extração. O teor de ferro no minério extraído na cidade no ano passado foi de 45,6%, um dos mais pobres beneficiados pela Vale em todo Brasil.

Reservas da Vale em 2019 – Foto: Reprodução/Form-20

Preocupação com o futuro 

Mesmo com um ano adicionada à previsão da exaustão mineral, a preocupação com o futuro de Itabira pós-mineração é grande. Somente no ano passado, a cidade recebeu R$ 140,5 milhões com a Compensação Financeira por Exploração de Recursos Minerais (Cfem). Foi o segundo município que mais gerou royalties em Minas Gerais, perdendo apenas para Congonhas. Com a exaustão das minas, os cofres locais deixariam de receber essa grana e ficariam apenas com uma porcentagem de 15% dedicada às cidades impactadas pela mineração.

“É uma preocupação nossa desde que assumimos o governo, em 2017. Tivemos uma discussão ampla com a Vale, durante dois anos, e conseguimos o recurso na ordem de R$ 100 milhões para as obras na Unifei Itabira. Nós entendemos que, para o desenvolvimento futuro, a educação superior, juntamente com o Parque Científico Tecnológico, é um caminho muito importante. Abraçando esses dois projetos e tornando um só, macro, vamos avançar”, comentou o prefeito Ronaldo Magalhães (PTB), em entrevista concedida a DeFato Online ainda no mês passado.

Quando falou ao portal, em março, Ronaldo dizia acreditar que a previsão da Vale de exaustão em 2028 seria dilatada. Na opinião dele, as minas itabiranas continuarão por mais tempo. “Eu não acredito que isso encerre em dez anos. A questão da mineração em Itabira já vem ao longo dos anos e a Vale tem que apresentar às bolsas mundiais as suas previsões. Ela não pode divulgar que as atividades de Itabira durem mais 20 anos, porque não tem essa certeza, mas eu acredito que isso vai ser ampliado um pouco mais”, comentou o prefeito, que fez questão de frisar que compartilhava um sentimento pessoal, e não uma informação obtida.

“Não será um futuro muito longo, mas temos esse tempo para nos organizarmos e mantermos Itabira forte economicamente”, encerrou Ronaldo Magalhães.