Com siderúrgica no coração da cidade, cocaienses temem por agravamento de doenças respiratórias
Prefeitura não tem sistemas para medir qualidade do ar no município, mesmo com uma usina no centro da cidade
Matéria publicada na edição 70 do Jornal DeFato
Mesmo com uma atividade tão impactante para a atmosfera como é a siderurgia, bem no coração da cidade, de acordo com o Secretário de Meio Ambiente, Rafael Pereira, Barão de Cocais não realiza a medição de qualidade do ar. “A medição de qualidade do ar é um procedimento extremamente complexo. Não conheço uma prefeitura que realize. São ‘N’ parâmetros que precisam ser avaliados”, argumenta.
Moradora da área central da cidade e vizinha à Gerdau, Maria Aparecida Silva, de 42 anos, sofre constantemente com problemas respiratórios. A auxiliar administrativa conta que desde criança enfrenta a asma e, depois de uma pneumonia, há cinco anos, precisou recorrer à fisioterapia respiratória durante um tempo.
“Eu não sei o que é respirar bem. Desde menina lido com os problemas respiratórios: rinite, sinusite, mas, principalmente, a asma. Aqui na cidade é difícil encontrar alguém que não tenha [problemas respiratórios]. E o medo vem. Com esse coronavírus aí, o que ouvimos falar sobre sintomas é a falta de ar. E quem naturalmente já tem esse problema? Dá muito medo mesmo”, relata a cocaiense.
Maria Aparecida ressalta que apesar do avanço tecnológico em relação às máquinas para produção do aço da cidade, ainda é possível notar os impactos que a siderurgia causa na população. “Antigamente, a Gerdau soltava nuvens de fumaça constantemente de suas chaminés, vezes preta, vezes marrom. Minha mãe passava o dia todo limpando a fuligem da varanda. Hoje, a poluição visível parece ser menor, mas os tempos mudaram, são outras tecnologias. Mas percebemos por nossas ruas. Elas têm o aspecto sujo. Parece uma cidade sempre suja, independente da limpeza pública”, diz.
O medo também impera entre os mais novos. O adolescente Paulo Carmo, 14 anos, faz uso constante de medicamentos para asma. O temor de algo mais grave é relatado pela mãe do rapaz, Irene Carmo, que frequenta o hospital da cidade desde os primeiros anos de vida do jovem por conta das crises de falta de ar.
“O Paulo desde muito novinho tem essas crises de asma. Faz uso constante de bombinha para melhorar a respiração quando a crise ataca. Esse período de inverno normalmente já é tumultuado por conta do tempo seco e frio. Agora ainda tem o coronavírus. Aqui na cidade ainda não há casos confirmados, mas estamos tomando todo o cuidado possível”, diz.
Combate ao coronavírus
Para conter o vírus na cidade, a administração pública mapeou uma série de medidas junto ao Comitê Covid-19. Dentre as principais estão a abertura de 10 novos leitos exclusivos para internações ocasionadas pela enfermidade; fechamento do comércio não essencial; distribuição de cestas básicas para 100% das famílias dos alunos da rede municipal de ensino e para a família dos inscritos no bolsa família que estão matriculados na rede estadual.
De acordo com a Assessoria de Comunicação da Prefeitura, o município está utilizando o antigo Pronto Atendimento do Hospital, que foi desativado devido a inauguração da Unidade de Pronto Atendimento, e está preparando 10 leitos a mais exclusivos para covid-19, sendo que alguns leitos serão preparados para semi-intensivo. A Prefeitura cita ainda a contratação de novos profissionais para 90 dias, entre médicos, enfermeiros e técnicos de enfermagem.
O que diz a Gerdau?
Procurada pela DeFato, a Assessoria de Comunicação da Gerdau em Barão de Cocais afirmou, em nota, que a empresa está atenta às demandas das cidades onde atua e tem realizado ações para auxílio do poder público no combate à pandemia do coronavírus.
A empresa citou que doou equipamentos de proteção individual (EPIs) a profissionais de saúde, ajudou na desinfecção de locais públicos e na manutenção de aparelhos de ar condicionado dos espaços de armazenamento de remédios e vacinas. A siderúrgica ainda disse que “adotou uma série de rigorosas medidas para evitar o risco de contaminação nos locais de trabalho”.
Sobre a reclamação dos moradores quanto à qualidade do ar, a Gerdau afirmou que possui certificado de conformidade por atender aos requisitos da Associação Brasileira de Normas Técnicas relacionados às questões ambientais. O documento da ABNT exige que as empresas considerem todas as circunstâncias relativas às suas operações, como a poluição do ar, água e esgoto, gestão de resíduos, contaminação do solo, mitigação e adaptação às alterações climáticas e a utilização e eficiência dos recursos.