Auditoria das relações

Já não é novidade para ninguém que estamos vivendo um momento histórico em que as relações sociais foram fortemente alteradas. Agora a maior parte da população passa grande parte do tempo em sua casa. Caso tenham que sair para trabalhar, é bastante provável que as horas de lazer e folga serão gastas em casa, pois bares, restaurantes e cinemas por enquanto não podem ser frequentados.

Quem mora com sua família, foi impelido a passar mais tempo com ela. A rotina anterior, pautada pela constante pressa, que fazia com que casais quase não se vissem, agora se modificou e os faz passar todo o dia juntos. Muitos casais que estão juntos há pouco tempo, que ainda não se conhecem muito bem, estão também passando esse período próximos. Pais, filhos, avós, pessoas com hábitos diferentes, buscando dividir um mesmo espaço, compartilhar refeições e momentos de descanso. Além disso, há quem está solteiro ou mora sozinho e está passando por esse período vendo pouca gente em seu dia-a-dia, com as possibilidades bastante reduzidas de conhecer alguém novo.

É um momento em que as relações estão sendo revisadas: casais que estavam juntos por conveniência percebem que o convívio diário não é mais suportável, e casais que fortalecem ainda mais a relação e reinventam formas de viver juntos. Famílias que passam os dias em conflito, com discussões, e famílias que conseguem viver em grupo, mas sabendo respeitar as individualidades de cada um. Pessoas que moram sozinhas que não suportam a solidão e percebem que desejam estar em uma relação e outras que descobrem que é possível estabelecer uma rotina saudável consigo mesmo.

É verdade que nos países em que o confinamento já acabou as taxas de divórcio aumentaram, mas o mesmo aconteceu com o número de casamentos. Há pessoas que desistiram de ter filhos, contudo, há da mesma maneira casais que resolveram aumentar sua família. Revisar as relações em que estamos não quer dizer necessariamente que elas devam terminar. Pode ser que elas se reestruturem, que algo que não estava bom há tempos deva ser repensado e modificado. Mudando pouco ou muito, o fato é que nenhuma relação, seja ela qual for, vai sair deste período como começou.

Arthur Kelles Andrade é psicólogo, mestrando em Estudos Psicanalíticos

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