Mudanças precisam de tempo

Há um ponto muito pertinente a ser discutido que existe no imaginário das pessoas em relação a iniciar um tratamento psicológico. Acredita-se que a psicoterapia – não importa muito aqui qual a sua abordagem teórica – é um processo demorado, lento demais. Os benefícios que ela pode trazer podem ser invalidados unicamente por esse fator.

Vivíamos sempre com pressa. Nossos dias eram agitados, não parávamos para descansar ou para fazer coisas que nos davam prazer. Com esse modo de viver, passamos a esperar resultados cada vez mais rápidos. Se a encomenda demora duas semanas para chegar, perco a paciência. Se vejo um vídeo na internet de cinco minutos, não consigo terminar porque é muito longo. Um filme de duas horas e meia? Nem pensar. Vou ao advogado e quero que no dia seguinte meus problemas legais estejam resolvidos. Invisto dinheiro na bolsa de valores e imagino que já na semana que vem estarei mais rico.

A gente sempre busca uma resposta rápida e indolor, que não nos dê trabalho. Para que fazer exercícios para deixar meu corpo fortalecido se posso tomar aquele “suco mágico” que me faz perder gordura rapidamente? Para que me aprofundar em um tema se posso realizar um curso de um fim de semana e me declarar especialista? Sempre estamos buscando atalhos, soluções rápidas. No entanto, ao lidarmos com nosso psicológico as coisas não funcionam desta maneira.

Trabalhar nossas questões emocionais não deve ser algo fácil e rápido. Somos seres tão complexos, repetimos certos padrões durante anos e isso não muda de um dia para o outro. Não vamos dormir uma noite após uma sessão de terapia e acordar no outro dia magicamente melhores e sem problemas. Não parece estranho que algo que aflige uma pessoa durante décadas, que interfere em todas as suas relações, sejam elas familiares ou de trabalho, simplesmente desaparecer em uma semana, sem esforço?

Ao surgir o desejo de iniciar um processo terapêutico que trabalhe aspectos psíquicos e emocionais, não devemos esperar uma mudança de tudo que nos aflige de forma rápida. Ela ocorre pouco a pouco, nas pequenas ações, nos mínimos detalhes, até o momento que olhamos em retrospectiva e percebemos como estamos agindo diferente com aquela mesma questão ou como finalmente temos a força que precisávamos para tomar aquela grande decisão. Tudo a seu tempo.

Arthur Kelles Andrade é psicólogo, mestrando em Estudos Psicanalíticos

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