Educação remota: pais e professores sobrecarregados e um sistema ultrapassado
“O ensino remoto exige uma estrutura educacional e uma infraestrutura nas casas dos alunos que definitivamente não são realidades”
Se há algo que eu desejo a todos neste momento é paciência, muita paciência. Aos pais ou responsáveis que, assim como eu, se dividem entre trabalho e aula online dos filhos, a intensidade do meu desejo é multiplicada incontáveis vezes. E ouso afirmar: essa é apenas a ponta do iceberg de uma reformulação educacional há muito necessária.
Sou jornalista e mãe de um menino de nove anos. Ele continua na escola (particular e com mensalidade sem desconto, mesmo em meio à pandemia, diga-se de passagem) para que não esqueça a rotina e responsabilidade para com os estudos. E só. Aceitei isso como verdade. E só foi quando reconheci isso que percebi que não sou heroína, que não me formei em Pedagogia, que não tenho que saber de tudo e que a professora do meu filho não é a responsável pela pandemia. Ela não criou o vírus, eu não criei o vírus e muito menos meu filho. Ufa!
Feito o desabafo, é preciso ter ciência de que a aula online não é uma transferência de responsabilidade. Na verdade é um compartilhamento. E esse compartilhamento não tem no dia a dia a graça ou humor que vemos em memes na internet. O ensino remoto exige uma estrutura educacional e uma infraestrutura nas casas dos alunos que definitivamente não são realidades. A desigualdade de renda e de oportunidade são agora refletidos na educação. A bem dizer, da mesma forma que o sistema de saúde não está preparado para lidar com a pandemia do coronavírus, nosso sistema educacional também não. Por isso, repito: a sobrecarga vivida hoje pelos pais e mestres é apenas a ponta do iceberg.
Ouvimos de maneira recorrente que nada será como antes. Tomara que não seja. É preciso modernizar a matriz educacional, inclusive com incentivo ao aprendizado além do universo escolar. A nós, pais e responsáveis, cabe incentivar nossos filhos ao estudo, mostrar a eles o quanto é preciso respeitar e admirar os professores. O isolamento social não é justificativa para ausência de empatia!
Cíntia Araújo é jornalista no Grupo DeFato e mãe do Gabriel
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