A Saúde nas Empresas

“O Custo Invisível das Doenças no Trabalho”

A Saúde nas Empresas

Recentemente, ao ler o jornal “Estado de Minas”, nas páginas esportivas, deparei com a notícia que o Cruzeiro Esporte Clube havia contratado um Psicólogo para fazer um trabalho junto aos jogadores profissionais do time de futebol. O curioso é que a reação destes profissionais foi de que eles não eram, ou não estavam, “loucos” e, portanto, não precisavam de um Psicólogo.

Mas, vamos ver se isto é verdade. Muitas empresas têm tentado intervir na área de saúde, seja no próprio local de trabalho ou indiretamente. Isto requer clareza na compreensão dos custos reais que elas estão bancando. Enquanto os custos diretos são todas as despesas visíveis para um tratamento, os custos indiretos incluem a perda de produtividade que resulta das doenças. Os gastos com despesas médicas, feitos pelas empresas privadas, em relação ao que elas desembolsam com salários têm crescido assustadoramente. Em 1991, essa proporção chegou a quase 9% contra 2% em 1965. E tem aumentado cada vez mais.

Dentre os gastos indiretos (não computados) podemos citar as doenças que comprometem a qualidade de vida dos funcionários. O que pode reduzir a produtividade, causando tanto a incapacidade quanto o absenteísmo. Nos casos extremos, a saúde comprometida do empregado pode levar a morte prematura.

Numerosas doenças como asma, artrite, distúrbios decorrentes da ansiedade, dores na coluna, hipertensão, enxaquecas (dores de cabeça), fibromialgia, abuso de álcool e drogas, possuem uma relação de causalidade importante com o estado psíquico do indivíduo (Doenças Psicossomáticas). Deve-se ressaltar que cada uma delas afeta um alto número de indivíduos, no local de trabalho, resultando em perdas de produtividade substanciais.

A fim de entender as implicações de um enfoque restrito apenas aos custos diretos, vamos analisar um problema que afeta pessoas de todas as faixas sociais: a depressão.

Apesar da sua alta incidência (a cada ano 5% da população é afetada), os médicos (que tendem a concentrar seu diagnóstico e tratamento nos sintomas físicos), frequentemente não reconhecem este distúrbio mental.

Como resultado, tanto desta visão preponderante quanto das evidentes, dificuldades no diagnóstico e tratamento, a depressão impõe uma carga enorme à sociedade. Entretanto, a maior parte destes custos não aparecem como resultado do tratamento direto dessa doença. Quase ¾ dos custos são indiretos e resultam de uma combinação de redução de produtividade de funcionários deprimidos e suicídios.

O Instituto Nacional de Saúde Mental (E.U.A), descobriu que entre 80% e 90% dos indivíduos que sofrem de algum tipo de depressão podem ser tratados com sucesso. Mas, somente um terço procura um tratamento. Além disso, como a depressão quase nunca é reconhecida e, frequentemente, é tratada de modo incorreto, uma porção ainda menor recebe tratamento apropriado. Para completar há um estigma social associado a doenças mentais de toda espécie, contribuindo para que as pessoas relutem em procurar tratamento.

Geralmente, um indivíduo que sofre de depressão consulta um ambulatório geral que o envia a uma romaria de médicos de diversas especialidades. O profissional trata de cada queixa em vez de se voltar para a origem dos sintomas físicos. Por causa de diagnósticos impróprios, feitos pelos clínicos quando são procurados pela primeira vez, o processo do diagnóstico pode levar vários meses e até anos.

Desta maneira, não é de se e admirar que as pessoas que sofrem de depressão estejam entre os maiores usuários do sistema de assistência médica.

Sintomas de depressão como fadiga, falta de concentração, indecisão e falta de motivação, ansiedade e pânico, uso abusivo de álcool e drogas, resultam em menor capacidade para o trabalho, quebra de produtividade e elevam substancialmente os gastos indiretos com a doença.

Daí as razões para que um tratamento efetivo da depressão, e outras doenças relacionadas ao funcionamento psíquico, podem reduzir os custos diretos e indiretos da saúde; melhorando, consequentemente, a qualidade de vida em geral.

A conclusão que chegamos é que os gastos com assistência médica são vistos como uma desvantagem. Entretanto, ignorando os custos indiretos das doenças as empresas acabam tratando de maneira inadequada seus próprios recursos ao tomar decisões que envolvam a saúde dos seus funcionários. Uma resposta possível é que uma boa assistência em saúde aumenta a produtividade (levando em consideração os fatores indiretos) e o pagamento de benefícios médicos bem administrados pode ser a melhor forma de reforçar este resultado.

Portanto, vencendo-se a resistência inicial que existe, como no caso dos jogadores do Cruzeiro, empregados e empresas podem beneficiar-se com uma abordagem que vise tratar os conflitos psíquicos e suas implicações no trabalho de maneira mais objetiva e eficaz.

Vinícius Braga é psiquiatra. O conteúdo expresso é de total responsabilidade do colunista e não representa a opinião da DeFato.

MAIS NOTÍCIAS