Isolamento social aumenta agressões contra as mulheres em Itabira
O grupo “Itabira por Eles”, com foco na atenção ao agressor, pode ajudar a mudar essa realidade
O dia 25 de novembro marca o Dia Internacional da Não-Violência Contra as Mulheres. Porém, os números das agressões, nesse período de isolamento social, não são nada animadores. A juíza da 2ª Vara Criminal e de Execuções Penais, Cibele Mourão Barroso de Figueiredo Oliveira explica que durante a pandemia do novo coronavírus, segundo os dados nacionais, a violência contra a mulher aumentou.
“Esse aumento não representa ainda um aumento na demanda judicial. Acreditamos que não seja em razão da diminuição de casos, e sim da dificuldade das mulheres de sair de seus lares para pedir ajuda. A pandemia exacerbou a violência em razão de um maior contato entre vítima e agressor e, na mesma proporção, reduziu as possibilidades de acionamento dos sistemas de justiça, por essas mulheres”, detalha a juíza.
A psicóloga e presidente da Comissão Municipal de Enfrentamento à Violência Doméstica e Sexual de Itabira, Janaína Aparecida de Ávila Couto Lage, conta que no começo da pandemia ainda era difícil trazer esses números para a realidade itabirana. Agora os dados demonstram o aumento no número de casos.
“Os dados apontam tanto para o aumento, quanto para a piora no tipo de agressões contra mulheres. É possível perceber que as agressões verbais evoluíram para as físicas. Isso exemplifica o que a gente sempre fala: a violência é uma espiral que tende a piorar e aumentar. E o que estamos assistido acontecer em Itabira”, frisa.
Combate à violência
Uma das alternativa adotadas pelo governo federal, e seguido em Itabira, é a ampla divulgação da campanha Sinal Vermelho. Nela, as farmácias se tornaram aliadas das mulheres vítimas de agressões. Ao sofrer qualquer tipo de violência, basta a mulher apresentar um sinal vermelho para os atendentes desses estabelecimentos, que eles vão acionar a Polícia Militar.
Janaína Ávila informa que a comissão de enfretamento à violência segue monitorado os casos de Itabira, independente de estar em isolamento ou não. “A gente tem tentado dar suporte e discutir com o poder público como suprir os equipamentos de assistência, como o Centro de Referência da Mulher (CREAM). Nós contamos também com os hospitais para que os profissionais tenham o entendimento de como receber e atender uma vitima quando ela chega”.
Ações voltadas para os homens
Para Janaína Ávila não basta agir apenas em prol das mulheres que são vítimas. Assim, depois de alguns anos discutindo as possibilidades, foi criado o grupo “Itabira por Eles”, com foco na atenção ao agressor. Dessa maneira, os agressores condenados pela Lei Maria da Penha e com medida protetiva em desfavor deles, são encaminhados para um grupo que é coordenado por duas psicólogas, um advogado e um voluntário.
“A gente vem percebendo que temos uma atenção para a vítima relativamente eficaz, mas não tinha ao homem. Eles precisam participar por 16 encontros em que promovemos a reflexão sobre temas que dizem respeito ao crime que cometeram”, esclarece Janaína Ávila.
Cibele Mourão complementa deixando claro que o grupo tem sido um sucesso e que vem rendendo bons frutos. “A intenção é que eles possam entender mais sobre a sociedade patriarcal, compreender a igualdade de gênero e as questões relacionadas ao modo cultural em que estamos inseridos e que fomenta a violência contra as mulheres”.
A presidente da comissão de enfrentamento relata que tem sido uma experiência muito gratificante.
“Notamos que quando tratamos o homem, conversamos com ele e permitimos que ele reflita, ajudamos a tentar encerrar esse ciclo. Ao percebermos o quanto estamos imersos nesse machismo estrutural, descobrimos que muitos dos agressores não tem noção nem da gravidade do que fazem e nem do quão errado é. Isso tem um impacto gigantesco nos relacionamentos em geral desses homens e eles descobrem como reagir de outras formas que não a violência”, conclui Janaína Ávila.