Gritos por “Mister” vão além de uma saudade dos flamenguistas

Renato Gaúcho, atual treinador do Flamengo, foi bastante hostilizado na última quarta-feira

Gritos por “Mister” vão além de uma saudade dos flamenguistas
Jorge Jesus teve passagem bastante vitoriosa pelo Rubro-Negro carioca entre 2019 e 2020. Foto: Alexandre Vidal/Flamengo

Na última quarta-feira (27), o Flamengo amargou uma dura eliminação da Copa do Brasil para o Athletico-PR. Aliás, não foi qualquer eliminação: uma derrota por 3 a 0 em pleno Maracanã, que recebia bom público. A ira dos torcedores, obviamente, se voltou a várias figuras, mas o principal alvo foi o técnico Renato Gaúcho. Além de ouvir um sonoro “vai plantar caju”, Portaluppi ainda precisou lidar com o coro da torcida, que gritava “Olê, Mister”, em referência a Jorge Jesus, cuja passagem em 2019/2020 foi um sucesso.

Muitos enxergaram os gritos como um pedido pelo retorno do técnico português ao clube carioca. Não seria surpreendente, visto que, para além dos títulos, JJ se identificou bastante com uma enorme parcela da torcida. Mas acredito que vai além. O fracasso na Copa do Brasil e as atuações recentes no Campeonato Brasileiro demonstram a diferença gritante entre os dois trabalhos. Aliás, se levarmos em conta que Renato Gaúcho é considerado um dos melhores técnicos brasileiros dos últimos anos, fica exposta a distância entre a escola brasileira de treinadores e os estrangeiros.

Com pouco tempo para conhecer o elenco e dar uma cara ao seu time, Jorge Jesus montou um Flamengo que sobrou nos campos brasileiros. Bruno Henrique, Gabigol, Arrascaeta, Everton Ribeiro e outros atropelaram seus adversários sem dó nem piedade, levando o Brasileirão e a Libertadores de 2019.

Já Renato, que conta com as mesmas peças (a exceção é De Arrascaeta, machucado) e um elenco ainda mais encorpado, transformou o Rubro-Negro em um bando. Não é difícil perceber como os jogadores atuam de maneira totalmente intuitiva, com poucos movimentos planejados, sem saber como atacar ou defender. Por se tratar de atletas de alto nível, que atuam juntos há vários anos, claro que saem coisas boas dentro da partida, mas isso não tem quase nada do dedo do treinador.

E repito: estamos falando de um dos técnicos mais prestigiados do país, alguém cujo nome era ventilado na seleção brasileira até pouco tempo. E o torcedor está atento a isso. Repare nos nomes preferidos por flamenguistas, atleticanos, gremistas e outras torcidas quando um clube está à procura de um novo comandante. A maioria tem preferido os professores de outros países.

Por isso, creio que o grito de “Mister” não é uma simples exigência pelo seu retorno. É uma demonstração de cansaço e insatisfação com a falta de conteúdo dos técnicos brasileiros, capazes de desfigurar, até mesmo, uma potência como este Flamengo.

Victor Eduardo é jornalista e escreve sobre esportes em DeFato Online.

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