Vladimir Putin fez uma aposta de altíssimo risco

Não deixe de ler o novo texto do jornalista e colunista da DeFato, Fernando Silva

Vladimir Putin fez uma aposta de altíssimo risco

Vladimir Putin fez uma mexida radical nas peças do tabuleiro das relações internacionais e assumiu o protagonismo planetário perdido. Com o esfacelamento da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), em 1991, a Rússia entrou em franca decadência. O fim da Guerra Fria (entre URSS e USA) não foi um bom evento histórico para o Kremlin.

A polarização capitalismo/socialismo – que quase provocou a catastrófica Terceira Guerra Mundial – manteve o antigo bloco comunista em evidência por quatro décadas. Ainda bem que as duas superpotências não saíram literalmente “no tapa”. O confronto fatalmente poria um ponto final na aventura humana na Terra (outras formas de vida também desapareceriam, noves fora as simpáticas baratas).

A crise diplomática pela instalação de mísseis nucleares soviéticos, em Cuba, colocou o mundo na iminência do apocalíptico conflito derradeiro, em 1962. Foi o momento mais tenso das relações entre Estados Unidos e Rússia.  

Mas o tempo passou. O Muro de Berlim desabou. E, desde então, o gigante do Leste Europeu enfrentou sérios problemas socioeconômicos. Após a derrocada da onda marxista, a Rússia saiu literalmente de cena. O espaço da geopolítica deixou de ser disputado por meio de aparatos bélicos e discursos ideológicos. As novas ferramentas de disseminação de influências passaram a ser economia e tecnologia – afinal a sociedade global vivencia a terceira Revolução Industrial. Em outras palavras, estamos na a era da informação.  

A China e os EUA começaram a duelar nessa nova arena do teatro internacional. E a coisa, muito naturalmente, virou briga de cachorros grandes. O embate é entre duas megas nações capitalistas. Não há equívoco conceitual nessa afirmação. Note bem. A China é um estado radicalmente capitalista gerenciado por um partido comunista. Simples assim. Na verdade, essa realidade configura tremenda aberração ideológica. 

Mas tudo caminhava muito bem, sem maiores perigos para a paz mundial. Americanos e chineses limitavam-se a esporádicas trocas de insultos-um fato corriqueiro nas relações internacionais. Era uma guerra de bravatas. A retórica do momento era sobre a “nacionalidade” do novo Coronavírus

Tudo ia nessa monótona toada, até que o cão Putin levantou a perna e mijou na Europa. O conterrâneo de Rasputin decidiu demarcar território no Leste Europeu. O autocrata, porém, não avaliou os riscos da ousadia. As duras reações dos principais estados nacionais foram totalmente inesperadas. A coisa, então, ficou russa para o morador da Praça Vermelha. Os protestos contra a invasão da Ucrânia pipocaram em todas as regiões do planeta.  

E pior. A Rússia sofre a mais radical retaliação econômica da história. Vladimir, nesse, aspecto, foi colocado contra a parede. Mas essa pendenga denota um fator de muita preocupação. O mandatário soviético ressuscitou a beligerância da velha Corrida Armamentista. E isso é uma péssima notícia. Afinal, a Rússia é dona do maior arsenal de armas nucleares do planeta. O país conta com cerca de 6.000 artefatos atômicos. EUA – o segundo colocado- tem um estoque de 5.500 armamentos dessa natureza.  

A aposta de Putin é num tudo ou nada. As sanções internacionais provocaram o caos na pátria de Tolstói. A oligarquia local contabiliza prejuízos bilionários. E tem um complicador a mais nesse quadro. A insatisfação popular aumenta, cada vez mais, nas principais cidades russas.  A repressão policial, porém, cresce na mesma proporção. A população mais carente já sente na própria pele os reflexos do intenso boicote transnacional. 

As consequências desse imbróglio são totalmente imprevisíveis. Putin até pode ser apeado do poder. Mas é aí que mora o maior dos perigos: um homem maluco acuado tende a tomar decisões irracionais. Ele pode entrar no modo “morro, mas levo todo mundo comigo”. E BUUUUM!!!!  A explosão de uma bomba atômica. Essa possibilidade tira o sono da gente.

Fernando Silva é jornalista e escreve sobre política em DeFato Online.

O conteúdo expresso é de total responsabilidade do colunista e não representa a opinião da DeFato

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