“Eu vou te matar aos poucos…” sobrevivente de tentativa de feminicídio e violência doméstica narra drama vivido em cárcere

A mulher conta como passou dois dias em cárcere e levou 20 facadas e tesouradas do marido

“Eu vou te matar aos poucos…” sobrevivente de tentativa de feminicídio e violência doméstica narra drama vivido em cárcere
A vítima recebeu diversos golpes nos braços e torso. Ao seu lado, o carretel de linha que usava para costurar ao ser atingida, sujo com seu próprio sangue. Foto: Júlia Souza / DeFato
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A violência e o feminicídio são realidades constantes na vida das mulheres, especialmente as brasileiras. Nosso país registrou mais de 31 mil denúncias de violência doméstica ou familiar contra as mulheres até julho de 2022. Entre as tantas vítimas de relacionamento abusivo, está uma itabirana que sofreu uma tentativa de feminicídio e passou dois dias em cárcere, presa pelo próprio companheiro, entre os dias 6 e 7 de setembro, em Itabira. Essa mulher, de 44 anos, relatou a vivência, que, infelizmente, é comum em milhares de lares brasileiros, em entrevista exclusiva ao Portal DeFato.  

 

Toda a situação começou já há quase duas décadas, a vítima, que preferiu não se identificar, natural de Congonhas, conheceu o companheiro, de 49 anos, naquela cidade, enquanto ali morava e trabalhava em casas de família. Fugida de casa aos 11 anos, ela não tinha familiares ou pessoas de confiança com quem contar.

Ao entrar na vida adulta, ela permanecia nas mesmas circunstâncias. Não era escolarizada, não tinha registros de identidade ou quaisquer outros documentos, nem sua própria casa, quando se envolveu com o homem. 

Já no começo do relacionamento, ele incentivou a mulher a fazer os seus registros de identidade e, com isso, ganhou um grande poder sobre a companheira. Com o passar do tempo, o casal acabou se casando e, assim, foram viver sua vida a dois. 

A partir dali começou o pesadelo dessa mulher. O companheiro, que inicialmente a amava, se transformou em um marido violento e abusivo. Ela conta: 

“Ele falava: ‘quando eu te conheci você não tinha nem documentos’… ele é quem falou: ‘vai tirar seus documentos’. (…) é o que ele fala até hoje, eu acho que era uma pressão psicológica e eu achava que ele estava certo. Ele falava: ‘você é feia, ninguém vai querer você… você acha que outra pessoa vai ficar com você? E até hoje eu acredito nisso. Então, eu fiquei muito presa a ele, de certa forma. Eu acho que ele se sentia um proprietário de mim, mas eu não percebia isto. Eu achava que ele me amava demais, porque minha mãe nunca gostou de mim… chegava no natal, ela comprava presente para todos os meus irmãos e não comprava para mim. E eu pensava: ‘nossa, ele gosta tanto de mim, ele faz tanta coisa por mim… ’, é isso o que eu pensava.”

A vítima também relata que, após o casamento, o companheiro, que atua na área de mineração, foi transferido de Congonhas para trabalhar em Itabira. Ao chegar na cidade, ela perdeu a proteção que recebia de sua sogra, que morava em Congonhas, pois esta interferia nas violências e agressões que ela sofria, protegendo-a. 

Com o passar do tempo, a escalada de violência somente aumentou e, com isso, sua fragilização psicoemocional: 

“Demorou muito tempo para que eu me percebesse refém. Eu fumava, e ele não gostava que eu fumasse. Então, em uma ocasião, ele disse que não ia vir da cidade em que trabalhava para casa. E eu tinha uns amigos, resolvemos sair para um barzinho e tomar um chopp… ele chegou e eu estava fumando. E aí, na frente das pessoas, ele tomou o cigarro, queimou minha boca, e saiu me puxando para o meio da rua, para todo mundo ver. Essa foi a primeira vez que ele começou a me agredir. E depois pedia desculpas, chorava… e eu pensei que eu quem tinha que parar de fumar.”

Com essa situação, a mulher passou a vivenciar diversos episódios de agressão em casa. A violência aumentou cada vez mais e, assim, ela passou por momentos em que foi agredida física e verbalmente em público, o que não acontecia no começo do casamento. 

O companheiro, por sua vez, passou a limitar sua convivência em sociedade, por ciúmes e possessão. Em Itabira, ela não possuía relacionamentos ou rede de apoio, e passou a viver no que pode ser considerado um regime de cárcere. 

O homem retia seus documentos pessoais, ela não podia ter conta bancária, trabalhar normalmente, nem tampouco conviver com outras pessoas sem ser assediada pelo ciúme do marido. 

relacionamento abusivo e violência contra a mulher - “Eu vou te matar aos poucos…” sobrevivente de tentativa de feminicídio e violência doméstica narra drama vivido em cárcere
A vítima com o rosto ferido e ensanguentado, após ter sofrido as agressões pelo companheiro
Foto: arquivo pessoal

Em busca de alternativas para escapar da prisão que o ambiente doméstico se tornara, a vítima fez cursos profissionalizantes, se formando como auxiliar de enfermagem e também em curso superior de enfermagem. No entanto, não pôde exercer as profissões porque o marido não permitia: 

“Quantas vezes eu pedi, calmamente, para ele ir embora… eu falava: ‘segue sua vida… você é um rapaz inteligente, vai viver sua vida.’ E ele falava: ‘mas você precisa de mim, porque você é doente’. (…) ele me deixou de uma tal forma que eu achava que eu era doente mesmo! Então, tudo ele tinha que fiscalizar porque eu era doente.”

A vítima é pessoa com deficiência auditiva e, por isso, a relação de dependência se agravou, justamente porque o companheiro a hostilizava por suas características e insistia que, sem ele, ela não teria chances de viver em paz por não conseguir cuidar de si mesma, o que era uma manipulação. 

Com as constantes violências e crises de ciúmes do marido ao longo dos anos, a convivência foi se tornando cada vez mais complicada. Segundo a vítima, ela buscou apoio policial e, mesmo com isso, não conseguiu se livrar do marido agressor. 

A escalada de violência prosseguiu, culminando em uma série de eventos em que ela foi agredida. Até que, por fim, o casal passou a viver em separação de corpos, morando na mesma casa e dormindo em camas diferentes. 

Após episódios de agressão, humilhações públicas, violência doméstica e outras, a mulher decidiu pedir oficialmente a separação. Essa ação foi o que teria motivado o homem a mantê-la em cárcere privado e atentar contra sua vida: 

“A gente já estava separado de corpos há três anos, ele dormia no sofá e eu no quarto. Observação, ele tem uma namorada que está grávida de oito meses. Quer dizer, ele já tinha outra vida… e eu nem me importo não, podia ir, eu só queria que ela levasse ele. E mesmo assim, ele insistia em ficar aqui. E eu procurei o socorro, porque ele sempre foi agressivo comigo e eu não tive respaldo algum.” 

Segundo a vítima, o companheiro já tem outra parceira que está gestante. Contudo, mesmo tendo uma nova relação e um filho a caminho, ele prosseguia com a escalada de violência e opressão contra ela.

Apesar disso, a mulher decidiu procurar um advogado, em busca de seu divórcio. O marido foi informado da solicitação no dia 6 de setembro, em que promoveu o cárcere e atentou contra a vida de sua esposa:

“Ele recebeu um telefonema, e eu nem me liguei no que ele estava conversando, porque tem que estar bem perto para eu escutar a pessoa. Ele estava na cama e eu encostada ali perto da parede, costurando. E ele falou que o advogado ligou, eu não ouvi o conteúdo da ligação. Mas daqui ele já foi falando: ‘você está tramando contra mim, o advogado acabou de me ligar’… só isso e já pegou a tesoura que eu estava usando para cortar e me atacou. Eu dei sorte que a tesoura não tem ponta, ela é reta porque é para cortar feltro, porque se fosse qualquer outra tesoura com ponta ele teria me matado.” 

O homem desligou a ligação e, imediatamente, avançou contra a vítima, desferindo lances contra ela com a tesoura, golpeando-a diversas vezes com o instrumento em várias partes de seu corpo. 

Além da violência com as tesouradas, ele a manteve em cárcere dentro de sua própria casa e a esfaqueou diversas vezes. Ao todo, foram 20 estocadas contra seu corpo, desferidas ao longo dos dois dias em que ela ficou sob seu comando: 

“Para ele vir pegar água, ir ao banheiro, ele veio me arrastando pelo cabelo. Ele dizia: ‘eu vou te matar, mas vou te matar aos poucos… hoje eu te mato, mas vou matar aos poucos’.”

Ela também conta que o companheiro contava com a total impunidade, sem acreditar que seria detido ou punido por violentar sua companheira: 

“Ele estava ciente (da impunidade), ele mesmo falava comigo: ‘eu não vou ser preso, se eu te matar nem preso eu vou’, ele estava ciente.”

Com a situação de abuso e violência, a mulher decidiu fazer artesanatos para ter uma fonte de renda, o que foi uma ferramenta crucial para poder ser salva nessas circunstâncias. Em um determinado momento em que o agressor foi ao banheiro, ela conseguiu pegar seu telefone e acionar a Polícia Militar (190) para denunciar a situação vivida: 

“Eu chamei a polícia porque foi uma coisa de ação, foi o que eu vi na hora para tentar fazer. Eu já tinha conseguido acalmar ele um pouquinho, tanto é que ele saiu do banheiro e não me levou porque ele estava no telefone com alguém do serviço, porque ele faltou no serviço. E aí, foi uma coisa de ação… mas se ele chegasse e percebesse que eu tinha ligado, eu estava morta e ele teria ‘rachado fora’ dali.” 

Ali, ela pediu socorro, passou seu endereço e se afastou do telefone. Com isso, a Polícia Militar acabou sendo direcionada até sua residência e, por se tratar de um condomínio, os militares precisaram de apoio dos vizinhos para acessar as dependências do prédio. 

Ao ouvir a batida do socorro na porta, a vítima fingiu que iria entregar produtos artesanais a uma pessoa que supostamente estava esperando, enganando o agressor e recebendo o apoio policial. Naquele momento, a polícia entrou em sua casa e flagrou o autor com a faca que usara para esfaquear a esposa sob o travesseiro do quarto e, portanto, preso em flagrante por lesão corporal. 

A vítima sofreu dezenas de golpes de faca e tesoura, desferidos ao longo de dois dias, e foi direcionada para o Pronto-Socorro Municipal de Itabira para receber atendimento médico. Ela perdeu muito sangue ao longo dos dois dias em cárcere, e também ficou com as feridas expostas. Durante o período em cárcere o agressor não permitiu que a companheira cuidasse dos ferimentos ou mitigasse os efeitos dos mesmos. Um dos golpes desferidos sobre sua perna atingiu um músculo, que ficou exposto: 

A mulher levou uma facada lancinante que rompeu seu músculo da coxa
Foto: Júlia Souza / DeFato

“Eu cheguei ao hospital e fui atendida, imediatamente já fui para o consultório de cirurgia. A médica realizou todo o procedimento lá, fazendo os pontos cirúrgicos… ela costurou e colocou o músculo de volta no lugar. (…) eu não tinha visto meu braço, só a perna, ele cortou meu músculo. A médica teve que costurar aquilo, colocar para dentro e fazer a sutura. Por dentro está muito machucado, imagina cortar o seu músculo e você ter que emendar ele de novo. Esse golpe doeu muito na hora e está doendo muito agora, é a única reação que eu posso te falar.”

Entre os diversos golpes, a vítima foi torturada vagarosamente pelo agressor que, inclusive, quebrou a tesoura em seu peito com um dos golpes. Ao ser questionada sobre como se sentia naquele momento e se acredita que seria morta, ela responde: 

“Com certeza ele tinha intenção de me matar, ele falou a todo momento… e ele ia me matar. Tinha hora que ele fazia assim com a faca (aproximando do rosto) e parava, fazia e parava. Ele não chegava a golpear… e eu fui conversando com ele também. Falei com ele que eu não ia chamar a polícia, que eu estava errada, como ele falava toda vez: eu tinha desobedecido ele, que eu apanhava porque eu desobedecia.”

A mulher ficou coberta de hematomas e feridas, após sobreviver ao ataque do companheiro
Foto: Júlia Souza / DeFato

Ao ser questionada sobre, a vítima também falou como é para ela ter passado por essa situação e responde algo surpreendente: 

“Se eu te disser que eu me sinto aliviada, você não vai acreditar… Eu estou me sentindo aliviada. Se fosse para eu passar isso tudo de novo, e que ele fosse embora, eu passaria. Só para ele ir embora.” 

Ela não se arrepende de ter pedido o divórcio, que foi o gatilho para que tudo isso acontecesse. Mesmo com a fragilidade imposta a ela pelas agressões constantes vindas do marido, ela se encorajou para tentar se ver livre dele: 

“Eu estava me libertando. Algo que eu não gosto, eu reclamo, e desse mesmo jeito eu não estava aceitando esse homem mais: ‘vou te matar’, pois então tu mate porque com você eu não fico! Só se me estuprar aqui dentro dessa casa, porque com você eu não fico. E o tempo inteiro eu estava tentando tirar ele de dentro de casa.” 

O agressor foi encaminhado para a delegacia da Polícia Civil, onde foi realizado um Auto de Prisão em Flagrante Delito do autor (marido da vítima) no dia 7 de setembro, pela prática dos seguintes crimes: lesão corporal agravada pela situação de violência doméstica, ameaça e cárcere privado. Agora, o autor se encontra no Sistema Prisional.

A vítima pontua: 

“Eu espero que, pelo menos desta vez, eles consigam manter ele longe de mim. Eu não quero que ele seja nem feliz, nem triste, não rezo e nem ‘desrezo’ para ele… quero que ele não exista para mim, que ele fique para lá, pague o que tem que pagar, bem longe de mim. Se algum dia ele esbarrar comigo, se eu passar por ele, eu não reconheço. Eu não vejo ele mais.” 

Relações abusivas 

Para entender como acontece essa escalada de agressões e abusos contra as vítimas de violência doméstica, conversamos com Karina Mendicino, psicóloga clínica, mestre em Psicologia na perspectiva de gênero, pós-graduada em Antropologia da Mulher e Ecofeminismo e idealizadora do projeto ‘Ser Inteira – Psicologia para Mulheres’, em Belo Horizonte. Karina é especialista em relações abusivas e pontua sobre as características desse tipo de união: 

“Todo ser humano tem seus complexos e lado sombrio. A característica desses relacionamentos tóxicos e desfuncionais é que esse lado sombrio é constantemente convocado à cena, sempre sendo chamado a atuar, virando um relacionamento entre complexos. No relacionamento abusivo, especificamente, existe uma característica muito importante que é uma disparidade de poder, uma hierarquia… é isso que caracteriza o relacionamento abusivo, ou seja, uma das pessoas da relação exerce poder sobre a outra.”

Karina Mendicino é especialista em atender mulheres que passam por relacionamento abusivo /  Foto: arquivo pessoal

A profissional também destaca a influência da estrutura da nossa sociedade nessas relações: 

“É por isso que na maioria massacrante dos casos, o homem, nos relacionamentos heterossexuais, está no papel de abusador e a mulher no papel da vítima. Não é 100% dos casos, mas são quase 100%, porque a gente já tem um contexto sociocultural em que existe uma hierarquia sexual entre masculino e feminino, a qual é muito marcada. Então isso favorece muito que o homem acabe conseguindo exercer poder sobre a mulher num relacionamento íntimo.” 

Ela explica como se manifestam essas ações de imposição de poder entre o masculino e o feminino em relações heterossexuais em que existe essa disparidade de poder e hierarquia: 

“Esse poder vai ser exercido através de manipulação, chantagens, punições desproporcionais… isso é algo muito importante nesses relacionamentos, porque é um comportamento comum de pessoas abusadoras usar de punições muito desproporcionais. Isso significa que, aquela pessoa, você tem um desentendimento ou faz algo que ela não gostou, ela vai usar de uma punição do tipo ficar dias sem conversar, ter uma explosão de raiva, fazer um ‘barraco’… algum tipo de punição que seja desproporcional àquilo que gerou a insatisfação. E aí começa o ciclo do controle, a parceira vai ficar com medo da maneira como aquela pessoa age e de ela agir assim de novo.” 

Karina também esclarece que é assim que começa a lógica do abuso e da violência: 

“Você começa a ficar ‘pisando em ovos’ na relação, por medo da maneira como aquela pessoa age, por não saber do que ela é capaz. E quando se passa a ter medo da maneira como o parceiro se comporta, já se está dentro da lógica do abuso, sendo controlada. E isso é uma maneira de se exercer o poder sobre a outra pessoa.” 

Ela também explicou o que leva muitas vítimas de abuso e violência doméstica a ficarem presas às suas relações, mesmo com o abuso: 

relacionamento abusivo e violência contra a mulher - “Eu vou te matar aos poucos…” sobrevivente de tentativa de feminicídio e violência doméstica narra drama vivido em cárcere
Carta escrita pelo agressor para a vítima – ilustra a fase da ‘lua de mel’ no relacionamento abusivo.
Foto: Júlia Souza / DeFato

“É importante lembrar que nenhum abusador é abusador o tempo todo, não é assim 100% do tempo. Então, esse abusador vai ter suas ‘qualidades’, tendo momentos em que será um parceiro carinhoso… e isso confunde muito a vítima, a mulher, que vai se apegar muito a esses momentos em que o abusador demonstra esse outro lado para ela.”

A psicóloga também destaca que esse processo é fundamental para a compreensão sobre o ciclo do abuso: 

“Isso tem tudo a ver com a maneira como acontece esse ciclo do abuso. Começa com a explosão que caracteriza o abuso, seja ela de raiva, uma agressão física, verbal, psicológica, ou qualquer uma das cinco violências contra a mulher tipificadas pela Lei Maria da Penha. Após esse episódio violento com um comportamento desproporcional que caracteriza o abuso, vem a fase de arrependimento – caracterizada como fase lua de mel – em que o homem se arrepende, pede perdão e reconhece seus erros… muitas vezes, ele pede desculpas, mas tenta justificar culpabilizando a mulher por seu comportamento, que o teria feito agir daquela forma.”

A profissional esclarece, contudo, que a fase de lua de mel e alegria não dura muito em uma relação abusiva e violenta: 

“Nessa fase da lua de mel existem promessas e ‘flores’, a mulher realmente acredita que aquela cena do abuso nunca mais vai acontecer… contudo, ela dura um período e, em seguida, vem a fase da escalada da tensão, em que essa tensão aumenta gradativamente até chegar, novamente, na cena de abuso. Aí se fecha o ciclo do relacionamento abusivo… esse relacionamento sempre é um caso onde existe violência, seja ela física ou não.” 

As polícias

O Portal DeFato procurou os comandos das Polícias de Itabira, tanto Civil quanto Militar, para que se posicionassem sobre o caso e esclarecessem como as vítimas de violência contra a mulher podem agir para denunciar e receber socorro. Em nota, as instituições se posicionaram oficialmente: 

A Polícia Militar, responsável pelos primeiros atendimentos à vítima, disse: 

“NOTA A IMPRENSA

No dia 07/09/2022, por volta das 06 h, houve um acionamento da PM via 190 para atendimento de uma ocorrência onde a solicitante informou que teria sido agredida pelo marido na noite do dia 06/07/2022, por volta das 23 h, conseguindo ligar para a Polícia Militar só  na manhã da quarta-feira. 

De imediato a viatura deslocou até o local onde foi constatada a agressão de um homem de 49 anos, contra sua companheira, uma mulher de 44 anos, sendo efetuada a prisão do autor e prestado toda assistência a vítima.

Agência Local de Comunicação Organizacional do 26º BPM”

Já a Polícia Civil, responsável pela prisão do autor das violências, afirmou:

“Foi realizado um Auto de Prisão em Flagrante Delito do autor (marido da vítima) no dia 07/09/22, pela prática dos seguintes crimes: lesão corporal agravada pela situação de violência doméstica, ameaça e cárcere privado. O autor se encontra no Sistema Prisional.

Em Itabira, a Polícia Civil atua 24 horas para atender qualquer situação de crime. Quando se trata de situação de violência doméstica, durante o horário de expediente  conta inclusive com uma equipe multidisciplinar do CREAM (Prefeitura de Itabira) para o primeiro acolhimento às vítimas. Esta equipe é composta por uma psicóloga, duas assistentes sociais e uma profissional da área do Direito. 

As vítimas de violência doméstica no município de Itabira podem acionar a Polícia Militar (190) ou a própria delegacia (3839-2709 ou pessoalmente) para relatar a prática de algum crime. Poderão também utilizar o Disque Denúncia (181) ou o Disque Direitos Humanos (100).

O mesmo vale para as testemunhas: poderão comparecer em delegacias pessoalmente para denunciar algum caso, ou utilizarem o Disque Denúncia 181, ou o Disque Direitos Humanos 100.”

A Lei Maria da Penha tipifica cinco tipos diferentes de violência contra a mulher: física, psicológica, moral, patrimonial e sexual. E o relacionamento abusivo é um relacionamento onde existe violência, sejam elas quais forem. No entanto, a escalada da tensão que leva o abusador a cometer violência física depende necessariamente do perfil desse abusador. 

É importante que as mulheres entendam que, se o abusador tem a violência física como parte do repertório comportamental dele, ele vai usar disso e se tornar um agressor quando esse complexo for ativado. Ou seja, não existe nada que as mulheres companheiras possam fazer para impedir que esse homem se comporte como um abusador violento, essa mudança depende exclusivamente do parceiro, a culpa jamais é da vítima.