Buscando resgatar uma tradição, itabiranos enfeitam ruas à espera do hexa
O clima de Copa está destacado nas mais de 50 decorações de rua, incentivadas pelo projeto ”Nossa Rua é Hexa”.
A bola já está rolando, as zebras começaram a acontecer e o primeiro jogo do Brasil na Copa do Catar já é amanhã (24). Mas o clima de ansiedade e empolgação paira no ar de Itabira desde bem antes da abertura do Mundial. Animados pela boa fase da Seleção Brasileira e estimulados pelo projeto da Prefeitura, ‘‘Nossa Rua é Hexa’’, mais de 50 ruas da cidade foram decoradas de verde e amarelo. As cores estão no asfalto, nos muros, nas calçadas e bandeirinhas espalhadas em todas as regiões da cidade.
Natália Lacerda, secretária municipal de Esporte, Lazer e Juventude, afirmou em entrevista à DeFato, que o engajamento da população itabirana surpreendeu positivamente. Foram 92 inscrições prévias, que se tornaram em mais de 50 decorações em toda a cidade. Devido a alguns itens do regulamento, como por exemplo, a obrigatoriedade mínima de 100 metros de decoração, 32 ruas foram selecionadas para votação popular do projeto, que divulgará na noite desta quarta-feira (23) as 6 ruas escolhidas para transmissão dos jogos do Brasil na Copa.
A primeira transmissão será realizada amanhã (24), na Rua Eufórbia, localizada no bairro Água Fresca. O resultado foi informado pelo prefeito Marco Antônio Lage, na manhã desta quarta-feira (23). Em todos os dias de jogos haverá telão, barraquinhas, shows e outras atrações. Todas as ruas escolhidas receberão troféu personalizado como premiação, independente da classificação da Seleção Brasileira para as fases eliminatórias da competição.
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Para alguns, pode ser algo sem importância ou pouco interessante. Mas pra muita gente, essa atividade movimenta um elo afetivo que as pessoas constroem com Itabira por meio de sua rua, seu bairro e da história de já ter feito isso no passado com seus familiares. ‘‘Agora essas pessoas estão se mobilizando com seus próprios filhos, netos, amigos e vizinhos’’, comenta Natália.
Jefferson Santos Perdigão, tem 24 anos e é morador da Rua Turmalina. Nascido em 1998, ele relata ter em sua memória pequenos flashs da conquista do pentacampeonato mundial de 2002, a última Copa vencida pelo Brasil. Para Jefferson, os fracassos da Seleção nos mundiais e os escândalos de corrupção que envolvem a CBF, foram ajudando a minar essa tradição brasileira de reunião, mobilização e festa.
Animado pela boa fase da Seleção e disposto a resgatar esse clima de Copa em seu bairro, Jefferson inscreveu a Rua Turmalina no projeto ‘‘Nossa Rua é Hexa’’ e convidou outros cinco amigos do Areão para somar na iniciativa. A partir daí, começou a convocar outros amigos pelas redes sociais. Alguns deles, inclusive, não moram no bairro, mas toparam a ideia. Para custear os gastos do projeto, foram atrás de parcerias e doações para uma rifa, onde o valor arrecadado das vendas foi utilizado na aquisição de tintas, pincéis, enfeites e afins.
José Luis de Barros Torres nasceu em 1982 e mora na mesma rua que Jefferson. Ele não estava sabendo da iniciativa, mas ao ver o movimento, resolveu levar seu filho para ajudar na decoração. José quer que em 2022, seu filho viva a mesma sensação que ele viveu nos títulos de 1994 e 2002: ‘‘Espero que possamos assistir a Copa aqui na rua, com nossos vizinhos e familiares, comemorando o Hexa’’.
Gabriel Clemente é morador do bairro Praia, e antes de saber do concurso da Prefeitura, já havia mobilizado seus vizinhos e amigos para enfeitar a Rua Carmésia. Segundo Gabriel, a ideia surgiu da intenção de passar aos seus primos e sobrinhos, o amor que ele sente pela Seleção, oriundo de seus pais e irmão.
Infelizmente, a decoração da Rua Carmésia não cumpriu com todas as exigências do edital, ficando de fora do grupo de votação. Mas segundo Gabriel, isso tornou a ação ainda mais especial.
‘‘Valeu mais a pena do que se estivéssemos concorrendo. Todo mundo da rua está ansioso e empolgado com a Seleção, principalmente as crianças, que agora sabem como é enfeitar a rua e brincar. Mesmo que não conseguimos ganhar o concurso, vamos nos reunir para assistir e torcer juntos.’’
Outro ponto destacado por Gabriel, é o clima de união de todos por um só objetivo e torcida. Para ele, essa semente foi plantada, e deve continuar a ser cultivada.
‘‘As crianças têm muito amor pelos seus clubes, mas acho que eles não entendiam que quando chega a Copa do Mundo, todos torcem juntos pelo Brasil. Para uma só nação, para o bem de todo um povo, em um momento de felicidade e convivência, que nos distrai dos problemas do dia-a-dia.’’
Confira as fotos de algumas das 32 ruas finalistas do projeto, a montagem da decoração da Rua Turmalina e o resultado final da Rua Carmésia.