Galo: que tal “Arena Rei Pelé”?
Em meio à indefinição sobre o nome do novo estádio, o colunista Fernando Silva sugere uma homenagem ao maior jogador de todos os tempos
A morte de Pelé comprovou toda a magnitude do inigualável futebolista brasileiro. É impressionante. A notícia do falecimento do “Rei do Futebol” repercutiu no mundo inteiro. O eterno “Camisa 10” é a maior personagem planetária do Brasil, em todos os tempos. De longe, inalcançável. Habitante algum da “Terra de Santa Cruz” cintilou como Edson Arantes do Nascimento.
Alguém até pode relativizar e mencionar Ayrton Senna. É até um interessante contraponto. O piloto de Fórmula 1 – imensamente talentoso – também brilhou em todos os continentes. O automobilista nativo foi o maior astro da história da categoria? Acredito que sim, mas não tenho tanta convicção. Afinal, dois outros nacionais literalmente correram na mesma raia de Senna: Nelson Piquet e Emerson Fittipaldi. Contudo, sempre fui incondicional senista. Mas veja bem. Pelé é mais exuberante que Ayrton. Um fator essencial contribui para o desequilíbrio dessa comparação (entre Senna e Pelé): o futebol é disparadamente o esporte mais popular do planeta.
Na sequência, vem a pergunta que insiste em não silenciar, só para variar. O mineiro de Três Corações foi o maior jogador de futebol da história? Aí, cravo sim, sem medo de errar. Outro questionamento: Pelé foi superior a Diego Maradona e Lionel Messi? A minha conclusão não se sustenta em comparações. Não uso a balança para aferir qualidades. E a justificativa é simples. Os três jogaram bola em épocas distintas e o futebol não é um sistema estático. As técnicas e teorias dos gramados estão em constantes mutações.
Cada seleção vitoriosa conquistou a Copa do Mundo com uma tática específica. O “scratch” de 1970, por exemplo, foi maravilhoso. Já o grupo vencedor do mundial de 1994, nos Estados Unidos, apresentou um futebol feio, medíocre e burocrático. Mas fez o suficiente para conquistar o tetracampeonato. E isso é o que conta. E tem mais. Boniteza nem sempre rima com triunfo. A seleção de Telê Santana encantou na Copa da Espanha, em 1982. E daí? Não conseguiu chegar nem à finalíssima. Ficou precocemente pelo caminho.
Mas, então, por que Pelé é considerado o maior “boleiro” dessa existência? A resposta é simples. O santista foi o atleta mais completo do século passado. Ele foi uma sumidade em todos os fundamentos do ludopédio. Era ágil com a bola nos pés, driblava como ninguém, passava a “pelota” com rara maestria, tinha uma visão de jogo privilegiada, cobrava faltas com pontaria letal, cabeceava com precisão e tinha força nas duas pernas. Estava apto, portanto, para desempenhar a sua função na defesa, meio-campo e ataque. E mais incrível ainda. Às vezes, atuava como eficiente goleiro. Sempre se sobressaía nessa posição nos treinos do Santos.
Além de jogador de futebol magistral, Pelé foi um atleta excepcional. A sua explosão muscular era fora do comum. O craque tricordiano apresentaria um bom desempenho em outros esportes. Pelé provavelmente se daria muito bem no vôlei, basquete, natação e atletismo. O biótipo dele se enquadraria em qualquer modalidade.
Agora, a causa do título dessa coluna. O presidente da Fifa – Gianni Infantino – sugeriu que todos os países do mundo construíssem um estádio em homenagem a Pelé. Essa indicação do cartola maior seria um bálsamo para o Clube Atlético Mineiro. Os bastidores do alvinegro ardem com uma tóxica fogueira de vaidades. O principal combustível para o fogaréu é a futura designação da “Arena MRV”. Alexandre Kalil tentou emplacar o nome do pai. É justo. Elias Kalil foi um dos grandes mandarins do clube. Mas não deu. O conflito de egos falou mais alto e a pretensão do ex-prefeito da capital virou pó.
Nessa conjuntura, a conversa de Infantino soaria como suave música aos ouvidos dos atleticanos. Que tal batizar por “Arena Rei Pelé” o novo estádio do Galo? Essa escolha teria outro ponto positivo. O Atlético seria o primeiro grande clube a homenagear o mais planetário de todos os brasileiros, o Rei do Futebol. E mais. A “Arena Rei Pelé” apagaria as intensas e perigosas labaredas dos bastidores. É claro. Pelé foi também um embaixador da paz.
Enfim: Pelé foi mais completo que as estrelas argentinas. Maradona, normalmente, só finalizava com a perna esquerda. Ele e Messi jamais foram bons cabeceadores. A mais famosa cabeceada de Diego foi com “La Mano de Dios”. O currículo do “Rei do Futebol” é muito mais recheado. Maradona e Messi, por exemplo, só ganharam uma Copa do Mundo. O brasileiro conquistou três. “La Pulga” até pode tentar outra em 2026, mas jamais conseguirá a terceira.
Fernando Silva é jornalista e escreve sobre política em DeFato Online.
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