Polícia Federal descobre 11 depósitos para “Arthur” em investigação que envolve ex-assessor de Lira

A revista Piauí teve acesso aos relatórios da polícia sobre as buscas e apreensões realizadas até então pela operação Hefesto

Polícia Federal descobre 11 depósitos para “Arthur” em investigação que envolve ex-assessor de Lira
Presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira – Foto: Pablo Valadares/Câmara dos Deputados

Segundo informações da revista Piauí, agentes da Polícia Federal (PF) realizaram busca e apreensão em endereço de propriedade de Wanderson de Jesus, motorista de Luciano Cavalcante, ex-assessor de Arthur Lira (PP-AL). No local foi encontrado um caderno-caixa com anotações de pagamentos a uma pessoa identificada como “Arthur”. A suspeita, agora, é de que esses repasses ocorreriam em benefício do presidente da Câmara dos Deputados.

Batizada de Hefesto, em referência ao deus grego da tecnologia e metalurgia, a operação da PF que investiga fraude em licitação e desvio de R$ 8 milhões na compra de kits de robótica pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento pela Educação (FNDE).

A operação vem ocorrendo desde o dia primeiro de junho, e, na ocasião, Arthur Lira, tentando afastar as suspeitas sobre sua pessoa chegou a dizer: “Cada um é responsável pelo seu CPF nesta terra e neste país”.

Polícia Federal descobre 11 depósitos para "Arthur" em investigação que envolve ex-assessor de Lira
Documento com anotações de supostos repases para Arthur Lira – Foto: Reprodução/Revista Piauí

Investigação

A revista Piauí teve acesso aos relatórios da polícia sobre as buscas e apreensões realizadas até então, indicando que a situação de Arthur Lira tende a se complicar, já que no endereço do motorista de Wanderson de Jesus, os federais localizaram e apreenderam um caderno-caixa mostrando saldos, repasses, destinatários e datas.

As anotações, feitas a mão, se encontravam dentro de um veículo Corolla e se referem aos meses de abril e maio deste ano, onde o nome “Arthur” aparece 11 vezes e vem acompanhado dos maiores valores, totalizando cerca de R$ 265 mil. A soma de todos os depósitos anotados no caderno-caixa chega ao montante de R$ 496 mil.

As anotações referentes a abril consta que “Arthur” recebeu R$ 20 mil no dia 8; uma semana depois, R$30 mil. No dia 17 do mesmo mês, houve um gasto de R$ 3.652 mil, registrado como “Hotel Emiliano=Arthur”. Coincidência? Quando o presidente da Câmara dos Deputados vai a São Paulo costuma hospedar-se nesse hotel, que fica no bairro Jardins. Além disso, os registros da Aeronáutica confirmam que Arthur Lira embarcou num avião da FAB com destino a São Paulo, partindo de Brasília.

O maior volume de repasses ocorreu no dia 28 de abril, quatro no total:

  • R$ 6.026,87 endereçados para “carro Arthur”;
  • R$ 844,47 para Pix almoço “Arthur”;
  • R$ 29.200 em favor de “Djair=Arthur”;
  • R$ 100 mil para “Arthur”.

As coincidências complicam a situação do deputado-presidente, já que, embora a PF não informe quem é Djair, o beneficiário dos R$ 29.200, ele tem em seu gabinete um funcionário de nome Djair Marcelino, que já foi denunciado como integrante de um esquema de “rachadinha”, que, segundo o Ministério Público Federal (MPF), Lira comandou na Assembleia Legislativa de Alagoas um esquema similar quando era deputado estadual.

As anotações registram pagamentos adicionais, pelo menos dois, um deles tendo sido realizado no dia 10 de abril, no valor de R$ 12.509,71 em favor do “Hotel Emiliano”, no entanto, sem a menção do nome Arthur.

Em outros registros da Aeronáutica (FAB), comprova-se que o deputado viajou para a capital paulista no dia 4 de abril, partindo de Maceió para SP e, posteriormente, para Brasília, no dia 9 de abril, período em que passou por cirurgia e precisou ficar em repouso na capital paulista.

Outro pagamento foi feito no dia 29 de abril, no valor de R$ 4,8 mil, em favor do telefone de “D. Ivonete”. A PF desconfia que tenha sido em favor da mãe do deputado, que se chama “Ivanete”.

No dia 8 de abril ainda aparecem mais dois registros: um de R$ 1 mil e outro de R$ 4 mil em favor de Álvaro. Em 26 de abril, Álvaro recebeu mais R$ 700,00. A PF desconfia que tenha sido creditado em favor de um dos filhos de Lira, que se chama Álvaro.

As anotações de maio têm registros mais modestos, com créditos no dia 2, de R$ 8.170,00 para pagamento “Fábio engenheiro/Arthur”. No dia seguinte, foram R$ 23.850,00 para “materiais elétricos fazenda= Arthur”.

Em 5 de maio houve mais dois pagamentos: um de R$ 24.884,00 em favor do mesmo “Fábio engenheiro/Arthur” e mais R$ 8,5 mil para “pagamento irrigação=Arthur” — Arhur Lira tem fazendas em Alagoas.

No endereço de Wanderson de Jesus, a PF encontrou também, junto ao valor de R$ 150mil, um manuscrito em que os signatários declaram ter recebido de Arthur Lira a importância de R$ 40mil referentes a uma área de 11,5 tarefas (medida
agrária) do Sr. Manoel Pacheco Filho e Joana Martins Pacheco, “pelo qual dou plena quitação”. Não há data no recibo.

No endereço de Luciano Cavalcante, a PF encontrou e apreendeu duas agendas contendo manuscritos que podem ter relevância nas investigações, documentos diversos relacionados à pessoa de Arthur César Pereira de Lira, documentos descritos como “Passagens Família Arthur”.

Outro lado

O deputado Arthur Lira, por meio de sua assessoria, enviou nota à revista Piauí: “Toda movimentação financeira e pagamentos de despesas do gabinete do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, seja realizada por ele e, às vezes por sua assessoria, tem origem nos seus ganhos com agropecuarista e da remuneração como deputado federal”.

O advogado de Wanderson de Jesus e de Luciano Cavalcante, também enviou nota à redação da Piauí: “Vamos aguardar as investigações para qualquer manifestação. Após o relatório do delegado e a análise dos autos, podemos nos manifestar”.