Vendas de carros despencam mais de 50% em Minas Gerais

Os dados são da Fenabrave/Senatran e reunidos pela Cavalcante Consultoria

Vendas de carros despencam mais de 50% em Minas Gerais
Foto: Divulgação

Os primeiros 20 dias de junho foram amargos para as revendedoras de veículos em Minas Gerais, com uma queda nas vendas em torno de 53% em relação a maio — quando no País o mesmo índice aponta redução de 5,6% na comercialização de veículos. Os dados são da Fenabrave/Senatran e reunidos pela Cavalcante Consultoria.

Esse cenário poderia ser mais drástico para o setor automotivo mineiro. Porém, as locadoras de veículos têm tido um papel importante para o setor, já que, atualmente, são responsáveis por 70% dos veículos emplacados no Estado. Esse alto percentual se deve a algumas condições favoráveis oferecidas pelo Governo de Minas, como taxa de IPVA menor do que a praticada em outros estados, assim como a simplificação do processo de transferência de veículos para as locadoras estabelecidos pelo Dentran-MG, que retirou a necessiade de vistorias.

“Com um território gigantesco, quase todo o emplacamento de veículos [em Minas] se deve às locadoras, como resultado de mudança no valor da taxa de IPVA, menor que em outros estados brasileiros, o que fez com que elas [locadoras] instalassem aqui suas sedes”, explica Marcelo Cavalcante, consultor automotivo.

Com os incentivos recentes aprovados pelo governo federal para a compra de veículos novos, as locadoras, que adquirem cerca de 40 mil novos carros por mês, optaram por adiar suas compras de veículos até R$ 120 mil para usufruírem do benefício.

O plano governamental, inicialmente, deixaria de fora essas empresas nos primeiros 15 dias, mas o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) aumentou o prazo exclusivo às pessoas físicas para 30 dias, o que impactou o mercado de forma negativa ao fazer com que as locadoras “empurrassem” as suas compras para o período em que poderão ter acesso ao benefício da União.

Segundo Cavalcante, “as locadoras jogaram um xadrez para mostrar ao governo o seu valor. Adiaram suas compras o quanto puderam, o que fez com as vendas caíssem, apesar do programa do governo. Mas é fato que, em algum momento, terão que repor seus estoques. Lembrando que estamos falando do principal cliente da indústria, responsável pela compra de 30% dos carros vendidos no ano passado”.

No entanto, o consultor avalia que o retorno dessas empresas às compras de carros de até R$ 120 mil pode ocorrer ainda nesses últimos dia do mês, mas não na quantidade represada.

A Associação Brasileira das Locadoras de Automóveis (ABLA) manifestou insatisfação com a decisão do presidente Lula em adiar a participação das empresas no programa.

Em nota, a ABLA disse: “A prorrogação impede exatamente o principal cliente das montadoras, responsável pela compra de 30% dos automóveis e comerciais leves vendidos no país, e que assim contribui diretamente para a estabilidade da indústria automotiva, de participar do programa que também foi criado para que as montadoras pudessem vender seus estoques parados. Caso a medida venha a contemplar todos os compradores, PJ e PF, em um cenário em que o incentivo se torne isonômico e não discriminatório, aí sim alcançará o objetivo de também ampliar a produção, o que é fundamental para a efetividade da MP e o fomento aos empregos na indústria automotiva”.

Montadoras queriam as locadoras no programa de incentivo

Márcio de Lima Leite, presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), deixou claro que as montadoras gostariam que as locadoras possam usufruir do benefício. “Desde o primeiro momento foram dados 15 dias para que os consumidores físicos (PF) pudessem ter acesso ao seu carro e, na sequência, as pessoas jurídicas entrariam. Nós lembramos que para os fabricantes é fundamental que as pessoas jurídicas também participem desse programa, pois são esses clientes que mantêm nossas fábricas em funcionamento”, disse.

Lima analisa que, se não fossem as locadoras, provavelmente outras fábricas teriam parado mais vezes nos últimos meses. “Nós tivemos 14 paradas de fábricas neste ano; não fossem as locadoras o número seria muito maior, talvez 20 ou 25”, declarou.

A Wolkswagen anunciou na terça-feira (27), a suspensão temporária da produção das suas três fábricas (São Bernardo do Campo-SP, São José dos Pinhais-PR e Taubaté-SP), devido a estagnação do mercado.