Por que Chico Bento não toleraria o Imperador de Ipoema?

A desavença entre Zema e Lage veio à tona no fim do mês passado

Por que Chico Bento não toleraria o Imperador de Ipoema?
Foto: Divulgação/Prefeitura de Itabira
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Romeu Zema não dissimula seu jeito caipira de ser. Faz questão de entabular uma conversa típica de mineiro do cafundó com a distinta plateia. O linguajar peculiar não passa despercebido e até ganhou espaço na mídia. A fala mansa do “Cara” inspirou o colunista Ricardo Kertzman do Portal Uai — um órgão de imprensa parceiro da DeFato. Kertzman apelidou Zema de Chico Bento — o simpático sertanejo dos quadrinhos de Mauricio de Souza.

O prefeito de Itabira é contraponto ao araxaense. Marco Lage é caipira com verniz aristocrático. Gosta de ostentar certo elitismo. Essa opção, porém, vai de encontro às suas origens. A contradição marquiana também teve natural consequência. O prefeito foi agraciado com o carinhoso título “Imperador de Ipoema”. A falsa pose do cidadão de Turim não se sustenta. No fundo, Marco é rústico morador da velha “Boitempo”.

A desavença entre Zema e Lage veio à tona no fim do mês passado. Na noite de quinta-feira (22 de junho), o sucessor de JK foi recebido com pompa e circunstância em Bom Jesus do Amparo. E com razão. Depois de 41 anos, um chefe do Executivo mineiro botou os pés na terra do Cardeal Dom Carlos Motta. Antes, Francelino Pereira apareceu por lá para inaugurar uma ponte. A solenidade de há quatro décadas foi apenas um pretexto para garimpagem de votos. Pereira pretendia passar as chaves do Palácio da Liberdade para Eliseu Resende — o candidato da ditadura militar ao governo de Minas Gerais. Esse cenário é de 1982. Não adiantou nada. A “ponte caiu” e Tancredo Neves se elegeu.

Romeu — com aquele modo roceiro — vendeu seu peixe na inauguração da sede do Sindicato dos Produtores Rurais. Quase todos os prefeitos da região bateram ponto na solenidade. Noves fora Marco Antônio Lage — o mandarim do mais importante município desse espaço geográfico. A “ilustre” ausência foi muito comentada. Até mesmo por um motivo básico. Holofotes são tão vitais para Marco Lage quanto sangue para Drácula. Ambos (prefeito e conde) são notáveis vampiros.

Por que o sofista itabirano rejeitou a intensa luminosidade de ocasião? Nas rodinhas de fofocas proliferaram especulações. Uma suposição parece muito consistente. O atual morador da “Cidade Administrativa” andaria fulo da vida com o “socialista” itabirano. E não sem razão. O rei de Araxá acomodou o Imperador de Ipoema num importante cargo comissionado: Diretor de Relações Institucionais, Comunicação e Sustentabilidade da Cemig.

E aqui vai uma curiosidade extra. O TRE-MG — por meio de um malabarismo heterodoxo — transformou essa diretoria em mera assessoria. O entendimento dos magistrados livrou a cabeça do ex-dirigente da Fiat de uma guilhotina letal. O moço quase perdeu o mandato de prefeito, no nascedouro. Ele não havia se desincompatibilizado em tempo hábil para disputar as eleições de 2020. O juiz eleitoral de Itabira assinalou a bandeirada. Diretor de empresa pública obrigatoriamente necessita cumprir um prazo legal para “largar o osso”. Essa exigência não prevalece para assessores. Entenderam o mandrakismo jurídico? A controversa boquinha (diretor da estatal mineira) é ocupada por pessoas de extrema confiança do detentor do poder discricionário (chefes do Executivo). Lage só desembarcou do posto para tentar a Prefeitura de Mato Dentro, um pouco fora de hora.

Mas o tempo passou. Os ponteiros apontaram para o pleito do ano passado. E o que fez Lage no processo eleitoral? Simplesmente declarou apoio à dupla Lula/ Kalil — os grandes adversários de Chico Bento. Nada de tão surpreendente. A política é também a arte da trairagem. Os compêndios estão repletos de exemplos de rasteiras institucionais. O episódio, no entanto, deixa claro que o ipoemense é um político ideologicamente camaleônico — troca de cor de acordo com as circunstâncias e oportunidades. Ele já passeou pelo mundo encantado da direita. Foi um liberal “sem medo de ser feliz”. A contextualização do refrão do jingle lulista ilustra as ambiguidades do ex-cartola do Cruzeiro de Itair Machado e Wagner Pires. O popular Marco 40 agora desfila com desenvoltura nas passarelas progressistas. Até quando? Qual será a próxima aventura desse ser camuflável por natureza?

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