Itabirana relata que teve casa danificada após detonação da Vale: ‘‘Foi muito assustador’’
Apesar de conviver a vida inteira com os impactos da mineração, a moradora afirmou que o tremor foi o maior já observado por ela
No último dia 19 de julho, Itabira foi palco de um novo tremor de terra, ocasionado por detonações nas minas da Vale. Em diversos pontos da cidade, moradores disseram ter se assustado e sentido a vibração de janelas, portas e demais itens. Mas o que para muitos foi algo corriqueiro e que já estavam acostumados, para outros foi motivo de pânico e prejuízos. Kátia Fonseca, moradora da rua Arenito, no bairro Moinho Velho, relatou que o tremor causou grandes rachaduras, trinca em uma janela e queda de pedaços de telhas e concreto das paredes de sua casa.
‘‘Eu estava com a minha filha na cozinha, a gente estava fazendo café, o lanche da tarde. De repente teve o tremor e o barulho do telhado foi muito intenso. Logo em seguida a gente percebeu o barulho da parede do quarto do meu menino caindo e do meu quarto também’’.
Apesar de conviver a vida inteira com os impactos da mineração, a moradora afirmou que o tremor foi o maior já observado por ela e que – sem saber qual reação tomar junto da sua filha – só se preocupou em buscar às pressas o seu neto, de apenas 3 meses, que estava deitado na cama.
Questionada se havia procurado alguma autoridade ou a mineradora para tratar sobr eo tema, Kátia disse: ‘‘Anteriormente, há mais ou menos um ano e ‘pouco’, eu já mandei para a comunicação da Vale. Até hoje eu não obtive respostas. Mandei também via WhatsApp para uma pessoa responsável pela comunicação da Vale, até agora também nada.’’
Nuvem de poeira
Ainda no mês de julho, no dia 13, Itabira foi atingida — mais uma vez — por uma nuvem de poeira vinda das minas da Vale. Esse tipo de incidente, que acontece de maneira rotineira na cidade, causa preocupação em relação aos impactos socioambientais, sobretudo na saúde do itabirano. O ‘fenômeno’ também já havia sido registrado no mês anterior.
Rosângela Reis, moradora do bairro Areão e que viveu por muitos anos na Vila Amélia, também participou do ‘DeFato nos Bairros’ e deu o seu relato acerca da situação:
‘‘Isso já acontece há muitos anos, eu estou com 60 anos e desde pequena que eu vejo isso acontecendo. Vejo meu pai, nós morávamos na Vila Amélia, onde os moradores de lá lutaram para ver se a Vale fazia alguma coisa para isso não acontecer, porque as casas lá são cheias de rachaduras. [Os moradores] tiraram e gastaram dinheiro com fotografias para montar um processo e não deu em nada’’
Confira a reportagem
Posicionamento da Defesa Civil e da Vale sobre o ocorrido,
Um dia após o tremor (20/07), em contato com a DeFato, a Defesa Civil Municipal informou que recebeu pelo menos uma queixa sobre tremores e que realizou duas vistorias, sem constatar nenhum dano ocasionado pela detonação. Também um dia após o tremor de terra, a Vale emitiu a seguinte nota:
“A Vale esclarece que as atividades de desmonte de rocha são realizadas conforme os padrões normativos, e monitoradas por equipe especializada e equipamentos específicos. Os trabalhos executados na última quarta-feira (19/7), na Mina Periquito, em Itabira, mantiveram-se dentro dos limites preconizados na norma. Reafirmando o compromisso com a segurança das pessoas das localidades onde atua e de seus empregados, a companhia tem investido continuamente em novas tecnologias, visando mitigar os efeitos de suas operações nessas comunidades”, diz a íntegra da nota divulgada pela mineradora;
** Após ouvir os relatos dos moradores para o DeFato nos Bairros, a DeFato vai entrar em contato com a Vale e com as demais autoridades responsáveis para tentar obter um posicionamento acerca das reclamações. Os posicionamentos completos do quadro serão publicados em um vídeo exclusivo, no fim de agosto, no canal do YouTube, site e redes sociais da DeFato.