Em 2023, mais de 54 mil mineiros ficaram sem energia elétrica por causa de queimadas
A Cemig registrou 110 ocorrências no sistema elétrico provocadas por queimadas entre janeiro e julho deste ano
Além de causar danos irreparáveis ao meio ambiente e colocar em risco a fauna local, as queimadas também trazem outros prejuízos significativos para a população. Somente nos sete primeiros meses de 2023, os incêndios causaram interrupções no fornecimento de energia elétrica para mais de 54 mil pessoas, em um total de 110 ocorrências envolvendo a rede de distribuição da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig).
No início desta semana, 380 moradores na região Centro-Sul de Belo Horizonte tiveram o fornecimento de energia interrompido por causa de uma queimada em uma mata próxima ao bairro Serra. O fogo danificou um equipamento da rede de distribuição, que precisou ser substituído em um local de difícil acesso.
Somente na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH) foram 28 ocorrências de queimadas, que prejudicaram quase 23 mil pessoas. Apenas na capital mineira e no município de Betim, cerca de 17 mil habitantes tiveram o fornecimento de energia interrompido em decorrência de incêndios até julho.
As ocorrências de queimadas no sistema elétrico tendem a se intensificar no segundo semestre, pouco antes do período chuvoso. É importante destacar que provocar queimadas — além de deixar hospitais, comércios e escolas sem energia — pode ser considerado crime e levar à prisão. De acordo com o art. 41 da Lei 9.605/98, provocar incêndio em mata ou floresta é tipificado como crime ambiental, que pode resultar em pena de reclusão de dois a quatro anos, além de multa.
A técnica de supervisão e controle do sistema elétrico da Cemig, Suellen Karine Braga Vieira, explica que grande parte dos focos de incêndio é causada por ação humana. “Por isso, a companhia procura reduzir os desligamentos provocados por queimadas que atingem o sistema elétrico alertando a população a respeito dos riscos e consequências dessa prática, que é mais comum nesta época do ano, caracterizada por baixa umidade e vegetação seca”, explica.
Dificuldade de acesso prejudica atuação da Cemig
Ainda segundo Suellen Vieira, os equipamentos da rede elétrica, quando expostos às queimadas, têm seu funcionamento prejudicado, o que pode causar o desligamento de linhas de transmissão, de distribuição e subestações, bem como causar graves acidentes com pessoas que estão próximas a estas áreas. “Um dos maiores desafios para as equipes de campo é chegar ao local da ocorrência para fazer o reparo. Normalmente, são locais de difícil acesso e em áreas rurais muito amplas. Além disso, levar estruturas pesadas, como torres e postes, em áreas acidentadas, torna ainda mais desafiadora a manutenção das redes danificadas pelas queimadas”, relata.
A especialista da Cemig destaca que as queimadas podem prejudicar o fornecimento para hospitais e centros de saúde. “As chamas danificam equipamentos e tornam o restabelecimento mais demorado, o que pode trazer transtornos para todos. Além disso, o alto volume de fumaça pode trazer sérios danos à saúde, principalmente nesta época do ano em que doenças respiratórias são mais comuns. As pessoas precisam se conscientizar dos impactos causados por suas ações, pensar de forma coletiva e evitar dar início a focos de incêndio que podem tomar grandes proporções e causar grandes estragos”, alerta.
Atuação preventiva e medidas de segurança
Para minimizar ocorrências deste tipo em sua área de concessão, a Cemig realiza, constantemente, ações preventivas, investindo na limpeza de faixas de servidão, com poda de árvores e arbustos, além da remoção da vegetação ao redor dos postes e torres. A companhia também realiza inspeções em suas linhas de transmissão, para identificar e mitigar riscos potenciais e tentar evitar ocorrências causadas por queimadas.
Algumas medidas simples podem ser tomadas pela população para conter os riscos. As pessoas devem apagar com água o resto do fogo em acampamentos, para evitar que o vento leve as brasas para a mata, além de não jogar pontas de cigarros acesas na estrada ou em áreas rurais.
Outra atitude consciente é não deixar garrafas plásticas ou de vidro expostas ao sol em áreas com vegetação, porque estes materiais podem criar focos de incêndio. Também existem restrições para a realização de queimadas mesmo quando permitidas por lei: não devem ser realizadas a menos de 15 metros de rodovias, ferrovias e do limite das faixas de segurança das linhas de transmissão e distribuição de energia. A Cemig lembra, ainda, que é proibido o uso de fogo em áreas de reservas ecológicas, preservação permanente e parques florestais.
Em caso de incêndios, a Cemig, pelo telefone 116, e o Corpo de Bombeiros, no número 193, devem ser avisados o mais rápido possível. Vale destacar que todos podem denunciar a prática de queimadas ilegais, de maneira anônima, ligando gratuitamente para o telefone 181.
Tecnologia contra queimadas
A Cemig investe na tecnologia do projeto Apaga o Fogo!, em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Por meio da plataforma online www.apagaofogo.eco.br, que disponibiliza imagens em tempo real, a empresa e qualquer usuário voluntário podem identificar focos de incêndio em sua fase inicial.
Essas imagens são processadas por algoritmos de inteligência artificial que podem validar — já no início — focos de fumaça, além de monitorar a evolução de um incêndio. A plataforma também permite a participação de internautas, que podem se cadastrar e auxiliar na identificação dessas queimadas.
“Dessa forma, as áreas de preservação ambiental poderão ser supervisionadas 24 horas por dia, e ainda podem contar com uma ampla colaboração dos internautas. O objetivo do projeto é reduzir os registros de incêndio. Também vem para melhorar a qualidade dos serviços da companhia, por meio da redução das interrupções no fornecimento de energia elétrica causadas por incêndios próximos às redes de transmissão e distribuição da empresa”, explica o engenheiro de Transmissão da Cemig, Carlos Alexandre Meireles do Nascimento.
Atualmente, o site Apaga o Fogo! monitora, em tempo real em caráter experimental, a Reserva Biológica da UFMG, por meio de câmeras instaladas no Parque Tecnológico de Belo Horizonte (BH-Tec), e a Mata Serra Verde, a partir de câmeras instaladas na Cidade Administrativa. A serra Rola Moça conta com seis pontos de monitoramento no site.
A expansão dessa cobertura irá aproveitar a estrutura já existente nas linhas de transmissão e distribuição de energia para abrigar novas câmeras do projeto. No feriado de 7 de setembro, o Apaga o Fogo! identificou uma queimada na Serra do Rola Moça, que poderia desligar linhas de transmissão e de distribuição da Cemig. Contudo, com o alerta e a ação rápida da brigada de incêndio, a estrutura da companhia não foi afetada.