Obras de arte desaparecidas há anos são descobertas em hotel de luxo e leilões privados em São Paulo
Reportagem do programa “Fantástico”, da Rede Globo, mostrou a descoberta de peças históricas que há muito eram dadas como perdidas
Obras de arte que há décadas eram consideradas desaparecidas do Patrimônio Histórico e Cultural do Brasil estão reaparecendo em locais inesperados. No domingo (24), o “Fantástico”, da Globo, mostrou a descoberta de uma estátua de São Jorge, com quase 200 anos de história, que estava exposta um hotel de luxo em São Paulo.
A escultura foi tombada como patrimônio histórico nacional na Igreja do Carmo, em Itu, de onde desapareceu há mais de 50 anos. Com detalhes da armadura cobertos de ouro, a estátua do santo estava desmontada e com necessidade de restauração devido a um incidente envolvendo um turista que decidiu montar no cavalo.
No entanto, o cavalo e o dragão, com cerca de um metro e setenta de altura, não faziam parte da obra original, tendo sido modificada para ser exposta no lobby do hotel há quase duas décadas. Ninguém sabe explicar como e por qual motivo a obra de arte sumiu do acervo. Além dela, mais de 40 peças estão atualmente desaparecidas.
O museólogo, Emerson Ribeiro Castilho, disse ao “Fantástico” que as igrejas de Itu tem um patrimônio ‘incomensurável’, considerado um verdadeiro tesouro do país: “Nós temos mais de 178 itens tombados em cada igreja, mas muitas peças foram subtraídas”. Castilho dedicou anos de pesquisa à história dessas obras nas igrejas tombadas de Itu. Inclusive, foi ele quem recentemente denunciou o paradeiro da estátua de São Jorge ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
Em relatório, o museólogo também apontou o sumiço do busto de Santo Elias, uma peça rara que apareceu pela última vez no catálogo de uma exposição nos anos 1980. Além dessa, outras obras valiosas foram redescobertas em catálogos e em negociações realizadas por colecionadores.
Um exemplo é a pintura “Cristo Escoltado”, que estava desaparecida há décadas e passou por diversas mãos de colecionadores antes de entrar no acervo do artista plástico e colecionador Emanuel Araújo, que morreu em 2022.
O advogado, Rubens Nalves, destaca a transparência do processo de inventário conduzido para o acervo de Emanuel Araújo e abre a possibilidade de a pintura ser adquirida por indivíduos interessados, ao ser considerada uma adição relevante ao patrimônio público.
Inicialmente, a obra estava listada em um leilão do acervo do colecionador sob um nome diferente, com um preço mínimo de lance fixado em R$ 40 mil. Contudo, após investigação realizada pela reportagem do “Fantástico”, o Instituto Brasileiro de Museus (Ibram) interveio solicitando a suspensão do leilão, enquanto o Iphan requisitou a retirada da obra do evento.
O Museu de Arte Sacra de São Paulo recebeu duas peça raras, com cerca de 500 anos de história, que estavam desaparecidas. Agora, essas obras podem ser contempladas pelo público.
Sobre a estátua de São Jorge, conforme a apuração do “Fantástico”, o hotel Unique emitiu uma nota afirmando que aguarda um posicionamento do Iphan para compreender melhor a questão.