Itabira 190 anos. E respeitem nossa memória!
Provas que podem e devem ser buscadas na fonte sobre a idade itabirana estão à mercê de quem quer saber no Museu de Itabira ou com a professora Pandolfi
Eu sou do tempo em que algumas pessoas não sabiam o dia em que nasceram. Ou melhor, ainda existem seres humanos que vacilam quando lhe fazem perguntas sobre a idade. Em todo caso, ainda existem os sem certidão de nascimento, seja nas periferias e ou nos cafundós do judas, como tratam os que residem longe. Mas, por incrível que pareça, muita gente não sabe se Itabira tem 175 ou 190 anos de idade.
Se um desconhecido descer de um ônibus na Estação Rodoviária Genaro Mafra e fizer a pergunta para qualquer cidadão ali presente — “Quantos anos esta cidade tem?” — com certeza 99% dirão “não sei” e 0,1% completará a resposta: “Nem o prefeito sabe”. Uma vergonha municipal, que pode ser internacional, sabendo-se que esse viajante eventual está exatamente na terra natal do maior poeta brasileiro de todos os tempos — Carlos Drummond de Andrade.
José Antônio Sampaio
Para o historiador e professor santa-mariense José Antônio Sampaio (1898-1967), em entrevista a este repórter, em 1966, o Museu do Ferro — hoje Museu de Itabira —, que ele dirigiu até o fim de sua vida, guardava todas as informações históricas dos antecedentes da emancipação de Itabira. O arraial pertencia a Caeté, onde atuavam dois vereadores itabiranos: Paulo José de Souza e José Luiz Rodrigues de Moura até 7 de outubro de 1833.
Terezinha Fajardo Incerti
Professora e historiadora que dá nome à biblioteca da UniFuncesi, Terezinha Incerti sempre concedeu entrevista à Itabira em Revista e à DeFato. O tema de todas as conversações era sempre história e, mais especificamente, história de Itabira. Em outubro de 1993, na página 18, edição 10, está registrada sua opinião abalizada:
“Era o povoado de Nossa Senhora do Rosário de Itabira elevado, em 1827, a distrito de Vila Nova da Rainha, hoje Caeté. Em 25 de maio de 1833 foi votada, na sede, resolução que desmembrou Itabira do Mato Dentro de Caeté. A instalação se deu em 7 de outubro de 1833, foi eleita a primeira composição da Câmara Municipal, cujo presidente era Major Paulo José de Souza, o mais votado, com 874 votos.
Em 9 de outubro de 1848, por resolução do governo estadual, todas as sedes dos municípios independentes receberam o foro de cidade. Daí a confusão ou uma manobra política: cem anos depois, isto é, em 1948, o prefeito José de Grisolia resolveu comemorar o Centenário da Cidade”.
Maria José Pandolfi
Ex-vereadora, ex-presidente da Câmara Municipal e ex-professora, Pandolfi prestou serviços ao Museu de Itabira nos anos 2007 e 2008, durante administração de João Izael Querino Coelho, e deu acesso de seu trabalho à DeFato, nomeando a sua contribuição: “Desmistificando a História de Itabira”.
Em exatas 22 páginas do levantamento foram abordados os temas: descoberta, fundação do arraial, primeiros habitantes, emancipação política e econômica, posses de dirigentes, participação de celebridades, discursos de instalação da vila (nome que representa, hoje, município ou cidade), emancipação de Santa Bárbara, Revolução Liberal de 1942, Guerra do Paraguai e outros temas.
Especificamente, a respeito da emancipação de Itabira, a professora dedicou mais páginas, com transcrição de atas; detalhes cronológicos do movimento que levou o município à independência; providências para elaboração de leis; cobrança de impostos; contratação de funcionários e discursos de autoridades. É interessante destacar trecho de pronunciamento do advogado Antônio Alvim, em 7 de outubro de 1933, comemorativo do verdadeiro Centenário de Itabira:
“Itabira, rica em ouro e em homens, passa a alimentar ideias autonomistas. Caeté, a cujo município pertencia, ficava longe e era um lugar antipatizado, como demonstra uma ladainha do tempo: ‘Da justiça da Caeté/Libera-nos, domine’”.
Certidão de nascimento
E agora, homens de Itabira — prefeito, vice-prefeito, vereadores, sociedade civil organizada —, duvidam da história, de nossa memória? Pois visitem o museu. Ou consultem Maria José Pandolfi. Cidadãos sem data de nascimento estão entrando em extinção. E Itabira não quer sair do mapa. Nunca!