O governo de Israel alimentou cobras
Benjamin Netanyahu arrumou a cama para dormir com o inimigo. Alimentou cobras no quintal de sua própria casa
O 11 de setembro dos Estados Unidos é o 7 de outubro de Israel. Foram duas incursões terroristas distintas. Em ambas, o sistema de defesa dos dois países teve um encontro marcado com o fiasco. O grupo Hamas invadiu o estado judeu por ar, terra e água. Uma tempestade perfeita. Os facínoras massacraram indefesos civis e praticamente não encontraram resistência. O fator surpresa prevaleceu. Roteiro similar aconteceu na América do Norte há 22 anos. Militantes da Al Qaeda de Osama bin Laden demoliram as Torres Gêmeas de Nova York com muita facilidade, em 2001. A destruição de World Trade Center se transformou num símbolo da grande tragédia de nossa era.
Mas note-se. Bin Laden foi uma invenção da geopolítica norte-americana. Durante certo tempo, o saudita desempenhou papel de potencial aliado de Tio Sam. Aprendeu suas malvadezas com especialistas da maior potência do mundo. E o que isso tem a ver com o novo conflito do Oriente Médio? Quase tudo. Nas histórias descritas, os dispositivos de segurança e os serviços de inteligência fizeram um papelão. E há um ponto crucial em comum nesse drama todo. A arrogância de americanos e judeus alimentou monstros. Os Estados Unidos pariram bin Laden. Israel afaga os fundamentalistas da Faixa de Gaza há muito tempo.
A estratégia do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu (o Bibi) foi de uma burrice digna de dó. Aqui está o script patético da tragédia anunciada. Vamos ao ponto. Gaza — um minúsculo território de 365 km² — faz fronteira com Egito e Israel. Nessa nanica localidade, vivem 2 milhões de pessoas — a maioria de palestinos em situação degradante. Tudo é muito precário na área. Cerca de 600 mil refugiados também se encontram no local, em diversos acampamentos. Alguns dados estatísticos — bastantes familiares — expõem a real dimensão desse caos humanitário. Veja bem. Há 113 mil moradores nos 1.254 km² do município de Itabira. Esses números escancaram a lata de sardinha chamada Gaza.
Mas onde o premier Netanyahu derrapou? Num troca-troca preferencial. Até 2006, a Faixa de Gaza encontrava-se sob controle da Autoridade Nacional Palestina (ANP). Em 2006, o Hamas derrubou essa instituição e assumiu o governo local. Note bem. A ANP tem reconhecimento internacional e até ocupa um posto de observadora na Organização das Nações Unidas (ONU). E nada disso sensibilizou Israel. O que fez o atual manda-chuva judeu? Decidiu enfraquecer o legítimo governo palestino. Para isso, o desastrado político estabeleceu uma parceria bastante clara com o Hamas por meio de aportes financeiros e fornecimento de bens materiais, inclusive equipamentos bélicos. O “inocente” Bibi imaginou que neutralizaria os carniceiros com esses “presentinhos”. Erro crasso imperdoável.
O mandarim de Sion arrumou a cama para dormir com o inimigo. Alimentou cobras no quintal de sua própria casa (a Faixa de Gaza). As consequências da imprevidência aí estão. Até agora, milhares de cadáveres estão empilhados nos dois lados da contenda. A maioria de inocentes cidadãos. E pior. A retaliação é o único caminho que restou ao Estado de Israel. Então, estamos na iminência de mais um grande massacre produzido pelo espécime “hegemônico” desse asteroide com pinta de planeta. Melhor soltar os cachorros. A humanidade parece ser uma aposta perdida.
P.S. 1: Mas qual o real motivo para esse novo conflito? Uma decisão da Arábia Saudita provocou forte reação no mundo árabe. Em breve, o governo de Riad assinará um acordo de paz com Israel. Aí está a principal causa da radical reação dos terroristas do Hamas;
P.S. 2: É bom ficar atento às movimentações de duas peças fundamentais no xadrez bélico do Oriente Médio: o Irã e o Hezbollah — um grupo fundamentalista paramilitar. Tudo pode piorar ainda mais;
P.S. 3: Sugestão para a Prefeitura de Itabira: Que tal despachar os agentes da Transita para o teatro de guerra do Oriente Médio? De preferência para atuarem como defensores da Faixa de Gaza.
Fernando Silva é jornalista e escreve sobre política em DeFato Online.
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