Ministério Público denuncia delegado por omissão de acusações de assédio da escrivã Rafaela Drumond
Rafaela trabalhava em uma delegacia em Carandaí e, meses antes do fato, enviou áudios para a família e amigos relatando situações de abuso e assédio
O Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), em documento enviado ao Juizado Especial Criminal de Carandaí, pediu o agendamento de audiência preliminar contra o delegado Itamar Claudio Neto, que trabalhava na mesma delegacia que Rafaela Drummond, que tirou a própria vida em 9 de junho deste ano. A denúncia ao juizado foi enviada no dia 27 de setembro. Tanto para o Ministério Público, quanto para a Polícia Civil, o delegado responsável pela delegacia teria responsabilidades por não tomar providências disciplinares contra os envolvidos nas denúncias de assédio.
Assim como os investigadores do caso, o MPMG entendeu que Neto cometeu o crime de condescendência criminosa. Quando o superior deixa, por indulgência, de responsabilizar o subordinado que cometeu infração no exercício do cargo ou, quando falte competência a ele, não levar o fato ao conhecimento da autoridade que a tenha.
Rafaela Drummond era lotada em uma delegacia em Carandaí, na Região do Campo das Vertentes, quando tirou a própria vida. Meses antes do fato, ela enviou áudios para a família e amigos relatando situações de abuso e assédio por parte de colegas. Na época, os suspeitos de assediá-la foram transferidos da unidade onde trabalhavam. Tanto para o Ministério Público, quanto para a Polícia Civil, o delegado responsável pela delegacia teria responsabilidades por não tomar providências disciplinares contra os envolvidos nas denúncias.
Como penalidade ao crime que o delegado foi acusado, o MPMG propôs uma transação penal. Nesse caso, é colocado ao réu uma forma de acordo de pena alternativa imediata. Após o tempo determinado pelo órgão, o caso é arquivado. “As ofensas proferidas pelo investigador de polícia sofreram o efeito da decadência por não terem sido adotadas, dentro do prazo, as providências exigidas por lei”, informou o órgão.
Tanto o celular de Rafaela quanto vídeos enviados por ela aos amigos foram periciados. Nos áudios obtidos pela investigação, a escrivã relata situações de assédio moral e sexual, perseguição, boicote e até uma tentativa de agressão física por parte de um colega de trabalho. Em uma das mensagens, ela explica que não queria tomar providências em relação aos fatos por medo.
Afastamento
No inquérito, a Polícia Civil também indiciou o investigador Celso Trindade de Andrade pelo crime de injúria. No entanto, o processo contra ele será descontinuado e arquivado, já que o prazo para que se dê entrada judicial em crimes contra a honra, como a injúria, é de seis meses. A investigação apontou que os fatos ocorridos entre Celso e Rafaela aconteceram em 2022.
Celso e o delegado Itamar foram citados por Rafaela. Nos áudios vazados, que foram gravados pelo celular da vítimaa, ambos são citados como prováveis autores dos assédios sofridos por ela.
Relembre o caso
A escrivã Rafaela Drumond, de 31 anos, tirou a própria vida em 9 de junho, na casa de seus pais no distrito de Antônio Carlos, na Região do Campo das Vertentes. Ela trabalhava em uma delegacia em Carandaí e, meses antes do fato, enviou áudios para a família e amigos relatando situações de abuso e assédio por parte de colegas de trabalho. O caso ainda está sendo apurado pela Corregedoria-Geral da Polícia Civil de Minas Gerais. Os suspeitos de assediar a mulher foram transferidos da unidade em que trabalhavam, mas permanecem trabalhando.
“Não quis tomar providência porque ia me expor. Isso é Carandaí, cidade pequena. Com certeza ia se voltar contra quem? Contra a mulher. Eu deixei, prefiro abafar. Eu só não quero olhar na cara desse boçal nunca mais”, narra.
*Com Estado de Minas