Moradores de vila em Essequibo rejeitam ocupação da Venezuela
A disputa por Essequibo ressurgiu após a ExxonMobil descobrir 11 bilhões de barris do ouro negro nas águas locais
A bandeira da Guiana tremula no topo de uma imensa formação rochosa conhecida como Tepui Pakaramba, no extremo oeste do pequeno país. Aos seus pés, o povoado de Arau, onde os moradores afirmam ser guianenses, e não venezuelanos, em meio a uma reivindicação centenária sobre o território rico em petróleo de Essequibo.
Jacklyn Peters, enfermeira, 39 anos e mãe de seis filhos, que mora no povoado, a cerca de dez quilômetros da fronteira com a Venezuela, diz orgulhosa: “Isto é Guiana. Nesta montanha está a nossa bandeira. todo dia nós olhamos para ela e noos sentimos felizes e orgulhosos. Foi o próprio presidente que a colocou ali para mostrar que todos pertencemos à Guiana”.
O povoado, onde vivem cerca de 280 pessoas, é formado por casas de palafitas, cajueiros e redes por toda parte onde, em uma delas, o pai dorme com a filha, enquanto em outra, quatro crianças brincam com celulares. Há uma igreja adventista branca, sem esculturas ou pinturas, e uma escola com a bandeira do país a meio mastro, em respeito pela morte de cinco soldados em um acidente de helicóptero no início do mês.
Peters diz temer o conflito: “Estamos aterrorizados. Não queremos guerra, aqui tem crianças e mulheres grávidas”.
A disputa por Essequibo, que ocupa cerca de 70% do território guianense, ressurgiu após a ExxonMobil, gigante americana do petróleo, anunciar a descoberta de 11 bilhões de barris do ouro negro nas águas locais. Ao menos 125 mil pessoas, um quinto da população do país, vivem na região. A Venezuela realizou um polêmico plebiscito na semana passada, para consultar a população sobre a anexação do território, uma reivindicação antiga do governo de Caracas que dura há mais de um século.
Nikolás Maduro, presidente venezuelano, afirma que permitiria que a ExxonMobil continuasse a operar a extração de petróleo na região.
“Aqui é a terra dos Akawaio, antes da chegada dos espanhóis, desde tempos imemoriais. Para nós, não há fronteiras, mas agora, com a política, existe”, desabafa Thomas Devroy, antigo líder da comunidade e prossegue: “Damos as boas vindas aos venezuelanos, somos irmãos dos dois lados da fronteira. Estamos tristes porque eles estão fugindo do seu país. Mas não queremos Maduro, a corrupção, a pobreza. Como ele pode pretender governar aqui?”
A crise econômica e política da Venezuela já fez com que sete milhões de pessoas deixassem o país, milhares rumo à Guiana, minerando ouro, trabalhando na agricultura de subsistência.
Em setembro, talvez premeditando os próximos passos, os militares venezuelanos passaram a cobrar os barcos que abastecem a cidade por meio do rio Cuyuni, fazendo com que os preços disparassem, ao ponto de uma garrafa de Coca-Cola custar US$ 10 dólares, o equivalente a R$ 49,15, e a gasolina, que passou de US$ 10 por cinco galões (19 litros) para US$ 350 (R$1.720).