Torcida única em Minas é atestado de incompetência e símbolo de grave problema do futebol moderno
Decisão prova que o esporte de muitos está nas mãos de poucos
Nos próximos dois anos, o clássico Cruzeiro e Atlético será jogado com torcida única. A decisão foi confirmada por ambos nesta segunda-feira (29), e se mostrou tanto vexatória quanto simbólica. Simbólica porque atesta como o esporte de muitos está nas mãos de poucos, que se sentem aptos a tomarem quaisquer decisões de forma autoritária.
Ronaldo retornou a Belo Horizonte em 2022, e foi inegavelmente importante para o resgate do Cruzeiro. Não fosse sua gestão, provavelmente a Raposa estaria em um buraco de profundidade desconhecida. Porém, isso não lhe dá o direito de agir da forma como quiser com o torcedor.
Há algum tempo, o mesmo dirigente chegou a defender torcida única em todos os jogos, sendo clássicos ou não. Levando em conta que trata-se do mesmo indivíduo que acusou o cruzeirense de atrapalhar o time que não ganhava em casa no ano passado, fica claro que Ronaldo não faz muita questão do torcedor.
No Galo, a situação não é muito diferente. Dirigentes elitistas, intensamente criticados no início do ano ao anunciarem um caríssimo pacote de ingressos para essa temporada. Também parecem desconhecer a história da “massa” que tanto já orgulhou o clube.
Para além do seu teor antidemocrático, a decisão por torcida única escancara a incompetência das duas gestões em lidar com os recorrentes problemas vistos em clássicos. Alguns deles, inclusive, causados pelos próprios clubes. Ou alguém já se esqueceu do tratamento dado pela cúpula do Galo aos cruzeirenses no jogo do segundo turno do ano passado?
Em vez de sentarem com o Ministério Público e a Polícia Militar para alinhar medidas de segurança mais eficazes, preferem tirar do torcedor seu direito maior: ir ao estádio assistir a uma partida de futebol. Falando em PM e MP, também é fundamental enfatizar que a decisão não partiu por ordem da dupla, o que deixa tudo ainda pior.
Há, na verdade, relatos da própria polícia admitindo que clássicos 50 a 50 costumam facilitar o trabalho da corporação. A afirmação foi feita pelo tenente-coronel Giafranco Cafaia, em 2016, e seis anos depois por Flávio Santiago, que ocupava o mesmo cargo.
Enfim, não faltavam motivos para que a partida do próximo sábado fosse acompanhada pelas duas torcidas, respeitando, claro, o mando atleticano. Porém, a ojeriza ao torcedor (visto apenas como um mero consumidor) falou mais alto. Perde o futebol mineiro.
Victor Eduardo é jornalista e escreve sobre esportes em DeFato Online.
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