Segunda vitória seguida ajuda Cruzeiro a se apresentar aos atleticanos que de tão desinformados soam arrogantes
Raposa bateu o maior rival por 2 a 0 no último sábado
Um filme que se repete. Em sua nova casa, a Arena MRV, o milionário Atlético enfrenta um Cruzeiro bem mais limitado. E perde. A vitória celeste no último sábado (3), por 2 a 0, traduz a imprevisibilidade dos clássicos, mas mais do que isso: deixa alguns recados importantes a dirigentes e torcedores atleticanos.
Acompanhando a repercussão do jogo, me deparei com muitos comentários do tipo: “não conheço ninguém do time do Cruzeiro, mas eles entram com muita raça no clássico, ao contrário do Galo”. Embora soe como um reconhecimento ao rival e uma crítica ao seu clube, a frase denota uma arrogância que ajuda a explicar os fracassos recentes do Atlético nos clássicos.
Para surpresa de muitos desses torcedores “desantenados”, o atual camisa 10 do Cruzeiro (uma função tão ressentida no futebol atual) atuava em alto nível na Premier League há poucas temporadas. Estamos falando do melhor campeonato nacional do mundo atualmente.
Talvez se esse torcedor se propusesse a conhecer melhor seu rival, saberia que Rafael Cabral, embora instável, é capaz de grandes defesas (como aquela em chute de Paulinho, no primeiro tempo do sábado). Também saberia que a dupla de laterais da Raposa, longe da badalação, vive a melhor fase das suas respectivas carreiras. Poucos laterais do Brasil influenciam tanto o jogo dos seus times quanto William e Marlon.
Também saberia que, mesmo atuando pouco até então, João Marcelo já se mostrou um zagueiro de excelente nível. No sábado, uma grande partida dele e de Zé Ivaldo, capaz de partidas muito seguras quando guarda para si alguns dos seus “impulsos”.
Saberiam, ainda, que Lucas Romero sempre foi ótimo volante e parece ter voltado mais completo. Incansável sem a bola e consciente com ela, provou, logo em sua reestreia, que será peça fundamental desse momento de transição do clube.
Por fim, para não me alongar demais, também saberiam que o ataque do Cruzeiro, tão inofensivo em 2023, dá indícios de evolução nesta temporada. Dinenno, principal contratação do setor, estreou com gol na primeira rodada e entregou o que foi possível em seu primeiro clássico. Rafa Silva, dentro da atual realidade celeste, é ótima peça de banco, capaz de atuar em mais de uma posição. E João Pedro fez um gol que o seu chefe assinaria. Aliás, se for pra indicar alguém que merece ter a história de vida conhecida, faça esse favor a si mesmo e leia a matéria publicada pela DeFato há algumas semanas (clicando aqui).
E se o elenco cruzeirense é pouco conhecido por alguns torcedores rivais, o do Galo é destaque nacional. Porém, o talento que Paulinho, Hulk, Arana, Zaracho e outros atletas demonstram em campo regularmente, parece se perder quando o assunto é clássico. Mas não os culpo: o problema vai muito além dos jogadores, que inclusive não deixaram de se esforçar na derrota de sábado.
O problema passa, principalmente, pela incapacidade do treinador em criar alternativas contra sistemas defensivos bem montados (algo que não chega a ser novidade tratando-se de Felipão). E a partir disso surge um questionamento natural: valia mesmo insistir em Luiz Felipe Scolari para 2024? Não sei se o treinador pentacampeão do mundo possui capacidade ou mesmo a vontade necessária para conduzir o time às evoluções necessárias.
Mas estes são problemas a serem avaliados internamente e com muito cuidado. Por ora, fica uma dica mais simples e aplicável ao Atlético: trate de conhecer melhor seu rival, pois ele já parece conhecê-lo muito bem.
Victor Eduardo é jornalista e escreve sobre esportes em DeFato Online.
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