Analista acredita que adiamento do nome do novo presidente da Vale abre brechas para pressões do governo

A escolha do novo presidente da mineradora será feita a partir de uma lista de indicados elaborada por uma empresa que recruta executivos

Analista acredita que adiamento do nome do novo presidente da Vale abre brechas para pressões do governo
Foto: Divulgação/Vale

O Conselho de Administração da mineradora Vale decidiu, na sexta-feira, (8), estender até 31 de dezembro o mandato do CEO Eduardo Bartolomeu enquanto analisa possíveis sucessores na presidência da empresa.
O analista do setor de Metais e Mineração da Genial Investimentos, Igor Guedes, entende que a decisão vai abrir brecha para que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) continue pressionando o Conselho para um nome mais ligado ao governo federal.
Guedes argumenta que, como estenderam o mandato até o final de 2024, , daqui a pouco começa a discussão para uma nova nomeação. Nesse meio tempo o governo pode continuar pressionando, entendendo haver divergências no Conselho da companhia sobre a gestão.
“Existem ruídos atrapalhando o papel da Vale a ganhar tração, atrapalhando a companhia a surfar a onde de desempenho operacional favorável. Esse ruídos são a lentidão na decisão do CEO, a atuação do presidente Lula e as negociações em torno do pacote de indenizações do desastre da Samarco, em Mariana. Para o investidor, o maior risco é a ingerência política”.
A escolha do novo presidente da mineradora será feita a partir de uma lista de indicados elaborada por uma empresa que recruta executivos. Após deixar o comando da companhia, Bartolomeo vai atuar como consultor até 2025.
Fontes da Bloomberg confirmam que a decisão da diretoria não foi unânime e que dois diretores se opuseram a essa solução.
Bartolomeo está no comando da Vale há cinco anos e deixou claro sua vontade de permanecer à frente da empresa após o término de do seu mandato, em 26 de maio; no entanto, o presidente Lula pressionava pela sua saída, sugerindo o nome de Guido Mantega no cargo de CEO. A ideia de Lula causou repercussão negativa.
A partir de então, Lula subiu o tom das críticas à Vale, ressaltando os desastres de Mariana e Brumadinho. Em Brumadinho o desastre deixou mais de 270 mortos. Em Mariana, o rompimento da barragem de fundão destruiu localidades, assoreou e contaminou o Rio Doce até o mar, no estado do Espírito Santo.
Lula afirmou, em um programa de Televisão, que “a Vale precisa prestar contas ao Brasil”. Em recente discurso em público, Lula afirmou que o governo vai fechar um acordo com a companhia para indenização de pessoas que foram vítimas dos desastres ambientais.
Em nota, o presidente do Conselho de Administração da Vale, Daniel Stieler, agradeceu o empenho e dedicação de Bartolomeo.

“Seguiremos o processo sucessório de forma diligente e cumprindo com rigor as políticas internas da companhia”. Bartolomeo afirmou em comunicado que “vai garantir uma transição bem- sucedida para a nova liderança”.