Mesmo em estado de greve, trabalhadores da Gerdau são demitidos em Barão de Cocais

O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Barão de Cocais, Elizeu Santa Cruz, abordou o assunto em uma entrevista exclusiva hoje (5)

Mesmo em estado de greve, trabalhadores da Gerdau são demitidos em Barão de Cocais
Foto: Divulgação / Gerdau

Após o anúncio da hibernação da mineradora Gerdau em Barão de Cocais, o Sindicato dos Metalúrgicos tem se mobilizado para evitar o fechamento da usina. Na segunda-feira (3), a categoria aprovou estado de greve e, mesmo assim, cerca de 200 trabalhadores podem já ter recebido sua carta de demissão.

Em entrevista para o portal DeFato, presidente do sindicato Elizeu Santa Cruz apontou práticas que considerou errôneas com a equipe da usina durante o processo, como o aviso repentino, a presença de seguranças para escoltar funcionários e até mesmo a indução para que trabalhadores peçam demissão.

DeFato: Qual é a situação atual dos trabalhadores da Gerdau em Barão de Cocais?

Elizeu Santa Cruz: Mesmo quando foi votado o estado de greve, a empresa continuou a demitir. Ontem, ela chamou muitos trabalhadores lá e demitiu um número alto de trabalhadores sabendo que tinha sido votado o estado de greve. Hoje a empresa está chamando os trabalhadores lá e induzindo eles a pedirem contas porque falou que, depois que protocolar o estado de greve, ela não vai mais mandar embora. De certa forma, ela está tendo atitudes assim para o trabalhador que ainda ficou dentro da empresa desacreditar o trabalho do sindicato aqui.

DeFato: Qual o número de trabalhadores que já foram demitidos?

Elizeu Santa Cruz: Eu não tenho um número exato não, mas, ontem, na reunião que parte da diretoria teve com o Pedro Torres, que é da alta direção da Gerdau, ele falou que seriam 200 trabalhadores que já receberam o aviso de demissão.

DeFato: Como o sindicato está acompanhando essa situação?

Elizeu Santa Cruz: Todos os dias a gente está na portaria da empresa. Eu saí de lá agora. Cheguei no sindicato para resolver algumas coisas burocráticas para a gente protocolar esse estado de greve. A gente está acompanhando o trabalhador, só que a gente não consegue ir além do que os trabalhadores pensam, a gente não consegue impedir que os trabalhadores não assinem devido à pressão que está sendo feita lá dentro.

A gente orienta para não assinar, mas alguns trabalhadores estão mandando mensagem para a gente, informando que está sofrendo uma grande pressão lá dentro para assinar documento.

DeFato: Você pode me falar um pouco mais sobre essa pressão?

Elizeu Santa Cruz: Falando que os trabalhadores vão ficar sem receber durante seis meses, que quem não pedir para sair agora, a empresa não vai poder mandar embora depois, tentando usar da boa fé das pessoas mais uma vez para distorcer a verdade.

DeFato: Alguns trabalhadores relataram que estão recebendo mensagens da Gerdau. 

Elizeu Santa Cruz: Isso. Ela chamou todos os trabalhadores, falou que fariam um comunicado com eles na segunda-feira. A gente orientou o trabalhador para não entrar. Muitos dos que entraram receberam um aviso de demissão, de desligamento. Após isso aí, ontem, a gente recebeu algumas fotos de cartas que a empresa está mandando para esses trabalhadores — que a gente pôde buscar lá de fora — de demissão via correio, via AR (Aviso de Recebimento).

Então, assim, a empresa, visivelmente, está no desespero para fazer as coisas de qualquer jeito. Acredito eu que ela não esperava essa atitude mais dura do sindicato, apesar de ela saber como é a postura do sindicato aqui, diante de quando ela tenta atacar os direitos dos trabalhadores.

DeFato: E o que foi discutido na assembleia de segunda-feira? Vocês votaram estado de greve?

Elizeu Santa Cruz: Votamos o estado de greve pedindo a reintegração dos trabalhadores que estariam demitidos, e pedindo também a proposta do sindicato, que a empresa continue com todos os postos de trabalho.

DeFato: E com relação aos trabalhadores terceirizados?

Elizeu Santa Cruz: Na verdade, a gente não tinha como representar a categoria dos trabalhadores [terceirizados] da Gerdau. A gente não votou nenhuma proposta que impactaria os trabalhadores terceirizados, não. Até porque muitos deles não são representados por esse sindicato. Por exemplo, o pessoal da limpeza, eles não são representados por esse sindicato aqui.

DeFato: Você pode me falar como está a situação de trabalhadores que ainda estão atuando? Qual a quantidade exata?

Elizeu Santa Cruz: O número exato, eu também não consigo te informar. Na verdade, tem todos os setores. Setor de logística, que segundo a empresa é porque ela precisava despachar o material ainda, que tinha contrato para entregar. Tem trabalhadores na (inaudível), também da aciaria. Alto-forno tem um pouco também. Em todos os setores tem trabalhadores que ainda estão atuando. Segundo a empresa, esses trabalhadores estariam atuando até o final deste mês. Isso são palavras da empresa. O que a empresa passou para a gente.

Só seguindo mais um pouco nesse assunto, amanhã o Sindicato dos Metalúrgicos tem uma reunião com a empresa no Ministério Público do Trabalho, em Coronel Fabriciano. Acredito que é outra reunião. A gente vai ter uma posição diferente, tanto para passar para o trabalhador quanto para a cidade, de forma geral, o que está acontecendo. Mas, assim, da minha parte, eu acredito que não se resolva só no dia de amanhã.

Na próxima segunda-feira, a gente tem outra reunião com a empresa, na Superintendência Regional do Trabalho, em BH. A reunião de ontem, que o sindicato teve, eu não pude ir porque tinha outra audiência que é referente a um fato do sindicato.

Então, foi uma equipe lá, foi o prefeito de Barão e mais dois diretores nossos. Aí o Pedro Torres, que é um dos diretores da Gerdau, descartou a possibilidade — palavra da Gerdau —  de estar continuando com a empresa aqui em Barão de Cocais, no momento. Falou que seria hibernação no momento.

DeFato: O Sindicato dos Metalúrgicos de Barão de Cocais está contando com alguma outra parceria, com outros sindicatos, com outros movimentos sociais?

Elizeu Santa Cruz: A gente tem a parceria da CSP Conlutas, que está aqui. A Câmara de Vereadores, que já propôs para a gente fazer uma audiência pública lá. E a gente vai tentar audiência pública também na Assembleia [Legislativa de Minas Gerais]. O prefeito, até então, foi ele que convidou a gente para essa reunião de ontem, com o Pedro Torres. Alguns ex-prefeitos, o ex-prefeito também Geraldo Abade também tentou entrar em contato com alguns outros políticos para ver se consegue um momento de fala com deles com o sindicato.

DeFato: Como você avalia essa situação toda, levando em conta a questão econômica relacionada ao aço?

Elizeu Santa Cruz: Olha, avalio a informação no todo. A postura da empresa, que de uma certa forma, errou com os trabalhadores, porque na segunda-feira, no dia 27, ela começou todo esse processo errado.

Na segunda-feira, dia 27, ela impediu que alguns trabalhadores entrassem no banheiro, no horário que ela informou que estaria fazendo essa hibernação. Logo após, informou que alguns trabalhadores entrassem no refeitório, e aí, quando eles foram pegar os seus pertences nos armários, eles foram acompanhados por segurança da empresa. Então, no todo, está se dando isso dessa forma porque a empresa começou errado.

Hoje, a empresa fala que, em momento algum, ela falou que Barão não dá lucro. O que ela fala para o sindicato é que, no momento, ela vai concentrar a produtividade dela nas plantas maiores e, por isso, essa hibernação nas unidades menores.

A gente entende que isso é uma injustiça com os trabalhadores, que isso é uma injustiça com o povo de Barão de Cocais, de uma unidade que ela sempre teve lucro, e que há pouco tempo, a usina de Barão de Cocais foi citada como modelo de usina ecologicamente correta.