Mudança na economia: brasileiros abandonam sonho de medicina na Argentina
Desde que assumiu a presidência da República, Milei tem tomado medidas de desregulação e cortes em estatais em função da crise econômica, com a inflação acumulada desde o início do ano em 107%
Frustração, esse é o sentimento de todos os jovens brasileiros que se mudaram para a Argentina com o sonho de cursar medicina.
Diante da realidade do país vizinho, é hora de repensar planos para a nova política de reajustes praticadas por estabelecimentos de ensino locais.
Na Fundación Barceló, na capital portenha, a unidade de ensino com o maior número e brasileiros, o valor das mensalidades saiu de 14 mil pesos argentinos em 2022 para até 392 mil (R$2,2 mil) para quem quiser dar sequência ao curso em 2025, segundo informações do Centro de Alunos.
Os reajustes vêm depois do presidente Javier Milei revogar, por meio do Decreto de Necessidade e Urgência (DNU) 70/2023, em dezembro, a lei que limitava reajustes de preços nos diversos segmentos, inclusive o privado, que tornou impossível levar adiante o sonho de se formarem no país.
No último dia 19, um grupo de alunos protestou na frente à instituição clamando por medidas que possam viabilizar a conclusão dos cursos.
Os estudantes reclamam que os reajustes são aplicados mensalmente e só são descobertos quando chega a fatura para pagamento, o que dificulta qualquer planejamento financeiro.
Dara Marques (22), natural de Juatuba (MG), presidente interina do Centro de Alunos que se mudou para Buenos Aires com o sonho de se formar até 2029 diz: “Antes as universidades daqui tinham um topo, elas tinham uma fiscalização de até onde elas poderiam aumentar. Quando o Milei ingressa no governo, ele corta essa fiscalização, fazendo que qualquer universidade privada possa aumentar o tanto que eles acham que devem aumentar. De repente, do dia para a noite, meio que triplicou o custo.”
Leonardo Cinel (23), paulistano, precisou abandonar os estudos por não conseguir arcar com os novos valores praticados. “Esse ano (2024) a gente viu um aumento saindo de R$ 1 mil para R$ 1,5 mil, agora no final do ano eles anunciaram que só a matrícula vai ser de quase R$ 3 mil. Então foi um aumento que não é mais na base da inflação, não é mais na base do poder de compra da Argentina, do IPC (Índice de Preços ao Consumidor)”. Cinel precisou deixar o curso no terceiro ano de formação, após ter tentado, por três anos, ingressar em universidades brasileiras, sem sucesso.
A Fundación Barceló , respondendo aos alunos, divulgou nota lamentando o protesto, afirmando que “um grupo minoritário de estudantes, por meio de suas manifestações, tente afetar o prestígio de nossa instituição e impacte negativamente aqueles estudantes que confiam na Fundación Barcelór para se formar e desenvolver profissionalmente”, e explica: “Entre janeiro de 2022 e outubro de 2024, a inflação acumulada foi de 1.273%, enquanto as mensalidades aumentaram 1.280%, evidenciando que ambos os indicadores cresceram em proporções praticamente similares”, acrescentando que o estabelecimento possui um programa de bolsas e empréstimos de honra para estudantes em dificuldade financeira.
Marianna Moreira (21), paulistana, desistiu do curso em face dos preços elevados e o modelo de ensino adotado, por aplicativo de vídeoconferências (EAD).
A instituição educacional não tem infraestrutura suficiente para atender a demanda estudantil, com as salas de aula comportando no máximo 60 alunos.
A Barceló foi constituída a partir do Instituto de Docência e Investigaciones Biológicas da Argentina, em 1991, e afirma ter contribuído com a formação de mais de 40 mil médicos.
Além da sede na capital, Buenos Aires, ela tem unidades em La Rioja, Corrientes e Misiones.
O ensino privado na Argentina ocupa 48% do mercado.
Desde que assumiu a presidência da República, Milei tem tomado medidas de desregulação e cortes em estatais em função da crise econômica, com a inflação acumulada desde o início do ano em 107%.
* Fonte: Agência Pública