O importante e silencioso recado enviado pelo torcedor aos chefões do futebol brasileiro
Modernizar os estádios tornou-se sinônimo de exclusão para a maioria massacrante dos torcedores, inseridos em um país pobre e desigual
Se as edições de 2023 e 2024 do Campeonato Brasileiro apresentaram ótimas médias de público (ambas lideram o ranking histórico da competição), a atual Série A vive realidade diferente. Ligar a TV e se deparar com arquibancadas vazias tem sido recorrente, inclusive, em partidas de maior apelo, como clássicos regionais.
O “Grenal” do último sábado (19), por exemplo, foi acompanhado de perto por 27.286 torcedores, o segundo pior público do clássico na Arena do Grêmio, atrás somente dos 24.572 gremistas e colorados registrados no empate por 1 a 1 do Campeonato Gaúcho de 2014. Disputado no mesmo sábado, o clássico entre Vasco e Flamengo contou com 39 mil presentes, metade da capacidade atual do Maracanã.
Fortaleza x Palmeiras, com 23.877 presentes, Atlético e Botafogo, com 24.528 torcedores, e Fluminense e Vitória, que levaram 29.065 pessoas ao “Maraca”, também estão entre os fracos públicos desta rodada. Um pífio engajamento que desvaloriza ainda mais um produto já desvalorizado.
É impossível vender um futebol mal jogado e apitado, envolto em velhas polêmicas e desprestigiado pelos próprios torcedores. Todos os clubes da Série A deveriam se reunir com a CBF para discutir este fenômeno, cuja explicação passa por vários fatores.
Um deles, o mais óbvio, o preço do ingresso. Modernizar os estádios tornou-se sinônimo de exclusão para a maioria massacrante dos torcedores, inseridos em um país pobre e desigual. Cobrar ingressos ou planos de sócios a 100 reais é uma enorme desconexão da realidade. E desde 2014 naturalizamos isso.
Para se ter uma ideia, em um jogo contra o seu maior rival, o Manchester City, a torcida do United protestou contra as 66 libras cobradas pelo ingresso. Isso porque estamos falando de uma população com um poder de compra muito superior ao nosso e um produto muito mais atraente. Então por que no Brasil deveria ser diferente?
Mais do que melhorar o nível técnico do futebol brasileiro, precisamos devolvê-lo a quem sempre o carregou e foi esquecido sob os escombros dos antigos estádios transformados em arenas.
Sobre o colunista
Victor Eduardo é jornalista e escreve sobre esportes em DeFato Online.
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