Seja menos simpático!
Na busca por sermos pessoas agradáveis, às vezes sem perceber, o que geramos é desconexão e distanciamento
Eu sei que você provavelmente achou estranho o título deste artigo. Mas o convite dessa leitura é para uma reflexão que te leve a sair da superfície para criar conexões autênticas e profundas com as pessoas à sua volta. Em nossa cultura crescemos aprendendo a ser simpáticos com os outros. No entanto, na busca por sermos pessoas agradáveis, às vezes sem perceber, o que geramos é desconexão e distanciamento.
Isso acontece porque somos simpáticos demais e empáticos de menos. A diferença entre empatia e simpatia pode parecer bem sutil, mas olhando de perto elas não são tão próximas assim. Empatia — a palavra da vez — embora muito difundida nos dias atuais, não é simples de ser colocada em prática. Ser empático envolve entender e compartilhar os sentimentos de outra pessoa, a ponto de ser capaz de reconhecer e validar suas emoções e experiências. A empatia traz conexão verdadeira entre as pessoas e isso é coisa rara de se ver. É preciso reconhecer: nosso dia a dia somos mais simpáticos do que empáticos.
Afinal, ser simpático dá menos trabalho, toma menos tempo e requer menos envolvimento. Eu posso até me compadecer ou sentir pena de alguém, mas não é necessário dispender energia para compartilhar das experiências e emoções do outro. Podemos expressar: “Sinto muito” ou “Que pena que isso aconteceu”, mas sem estabelecer uma conexão emocional com o que a pessoa está sentindo. A simpatia pode até ser bem-intencionada, porém na maioria das vezes acaba soando como palavras distantes ou impessoais, uma vez que você está “de fora” do que o outro está vivendo.
Uma pessoa simpática pode, por exemplo, dizer a alguém que está enfrentando um divórcio “Sinto muito, mas ainda bem que você ainda tem os seus filhos com você” ou para alguém que perdeu um emprego “Fique tranquilo, tem algo melhor te esperando”. Um pai simpático pode dizer ao filho diante da perda de um amigo “Pense pelo lado positivo, você tem tantos outros colegas na sua sala!”. Frases simpáticas são reações comuns que temos ao nos depararmos com as situações desafiadoras que as pessoas vivenciam. Temos, quase que de forma automática, a tendência de querer corrigir a situação ou consolar a pessoa rapidamente. Porém raramente conseguiremos ajudar alguém apenas sendo simpáticos. O efeito pode ser inverso, pois ao não se sentir compreendida, a pessoa pode se afastar ou deixar de compartilhar os fatos da vida com você.
Para conexões verdadeiras é preciso ir além. É essencial desenvolvermos a empatia, para olhar além da superfície e estar presente de verdade para o outro, partilhando sua dor ou alegria, sem fugir da situação ou tentar fazer que as pessoas se sintam “melhor” instantaneamente.
Diante de situações difíceis, o que um ser humano mais precisa é de outro ser humano com coragem de estar vulnerável para se conectar com as suas emoções e validar suas experiências. E isso não se trata de dizer frases agradáveis ou tentar consertar as coisas, como se estivesse “pintando um guarda-chuva colorido no dia nublado”. Diante dos desafios, a necessidade latente não é de um conselho para resolver o problema ou uma frase de efeito superficial. É preciso mais pessoas disponíveis e capazes de dizer com suas atitudes “Eu vejo você, eu entendo sua dor, e estou aqui com você”. A empatia, através de uma escuta profunda, presença e não julgamento é o segredo para as pessoas se sentirem mais compreendidas e menos solitárias em suas experiências de vida.
Que aprendamos a ser menos simpáticos mais empáticos!
Sobre a colunista
Nina Magalhães é mãe de três, Terapeuta Ocupacional, mestre em Educação e Saúde e certificada como Educadora Parental e Consultora em Encorajamento. Palestrante e escritora, atua em diversos projetos em defesa da infância.