Caramujo africano: mitos e verdades sobre a espécie
Entenda os reais riscos à saúde e ao meio ambiente causados pelo molusco exótico que se espalhou pelo Brasil
O Achatina fulica, conhecido popularmente como “caramujo africano”, ganhou destaque em diversas cidades brasileiras, incluindo Itabira, após a infestação em 2023. Embora o animal desperte preocupações, biólogos afirmam que o risco à saúde pública pode ser significativamente reduzido com informação correta e ações simples de manejo.
Segundo pesquisadores, a espécie foi introduzida no País durante a década de 1980, em feiras agropecuárias no Paraná, com a promessa de lucro na criação como alternativa ao escargot. No entanto, como o consumo desse molusco não faz parte da cultura alimentar brasileira, muitos criadores abandonaram os animais na natureza, provocando sua rápida disseminação em ambientes urbanos e rurais.
O biólogo e consultor de meio ambiente, Sérgio Barreto, explicou como decorre a proliferação e os fatores que propiciam o descontrole populacional:
“Geralmente, uma espécie exótica não possui predadores naturais, como ocorre com as espécies nativas. Aqui, temos uma cadeia alimentar estabelecida, que mantém o equilíbrio da população de caramujos locais. O risco para a biodiversidade é que a espécie invasora compete com as nativas pelo mesmo alimento, espaço e recursos, com a vantagem de não ter predadores naturais”.
Com o aumento dos relatos, a população passou a eliminar qualquer caramujo encontrado, o que pode ameaçar espécies nativas importantes para o ecossistema. O biólogo e educador ambiental, Samuel Iginio, orienta sobre como reconhecer cada espécie:
“O caramujo nativo possui coloração mais clara, enquanto o africano tem a concha mais escura e pontiaguda na parte de trás”.
De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde de Itabira, a presença da espécie é constante, não só em Itabira, mas em várias regiões de Minas e do Brasil:
“Em Itabira, Minas Gerais, os primeiros registros de infestação ocorreram por volta de 2022, com relatos de moradores observando a presença do caramujo em áreas urbanas. A presença do molusco tem sido particularmente notada em locais com vegetação densa e úmida, como terrenos baldios e áreas próximas a matas”.
Caso encontre e identifique um caramujo africano, o recomendado é fazer a coleta utilizando luvas de borracha e descartar corretamente. Nunca se deve manusear o molusco sem proteção. A Secretaria de Saúde de Itabira disponibiliza orientações específicas em um flyer com as instruções adequadas. Confira abaixo.
Mitos e verdades sobre o caramujo africano
- O caramujo africano é um molusco comum no Brasil?
Mito.
O caramujo africano pode ser considerado uma espécie invasora, segundo Sérgio Barreto: “Quando a gente fala de espécies invasoras, estamos nos referindo a espécies exóticas que foram introduzidas no Brasil, entram em contato com o ambiente e conseguem se proliferar. Isso acontece, normalmente, quando encontram condições similares às do local de origem”.
- O caramujo africano transmite doenças pelo toque?
Mito.
“O caramujo não possui peçonha e nem veneno, mas pode transmitir doenças em caso de ingestão do animal”, esclarece Samuel Iginio.
- É verdade que pode causar meningite?
Verdade.
“O caramujo pode ser vetor de duas doenças: angiostrongilose abdominal e meningite eosinofílica, mas apenas se estiver infectado e for consumido”, explica Samuel Iginio.
- Ele prejudica o meio ambiente?
Verdade.
“O caramujo africano pode competir e transmitir doenças para a fauna nativa. Além disso, podem gerar danos às matas nativas, uma vez que se alimentam dos brotos das árvores”, afirma Samuel.