Bruno de Souza: o artista itabirano que conquistou o mundo da animação

O curta Penca no Parque (2024) chega hoje a Portugal para sua 8ª mostra internacional, na Festa Internacional de Cinema Universitário do Algarve (FICUA)

Bruno de Souza: o artista itabirano que conquistou o mundo da animação
Foto: Reprodução/Arquivo/ BrunodeSouza

De Itabira para o mundo, Bruno de Souza, de 30 anos, é cineasta, ilustrador, animador e artista digital que vem conquistando reconhecimento no cenário artístico nacional e internacional. Baseado em Belo Horizonte desde 2019, Bruno leva seu olhar itabirano e contemplativo para a capital, unindo técnica e sensibilidade, qualidades que desenvolve desde muito jovem. Nesta quinta (22) e sexta-feira (23), um dos seus trabalhos de maior destaque, Penca no Parque (2024), desembarca em Portugal para sua 25ª exibição, na III edição da FICUA.

Desde criança, Bruno era fascinado por produções como Tom & Jerry, Looney Tunes, Pokémon e, especialmente, One Piece. O desejo de criar histórias, personagens e universos próprios surgiu naturalmente, primeiro por meio de desenhos e quadrinhos. “A mágica do movimento era algo que me encantava, mas, na época, me senti intimidado pela complexidade da animação. Só fui me dedicar de forma mais séria em 2021, pouco antes de entrar no curso da UFMG”, relembra.

Atualmente, o artista cursa o sétimo período de Cinema de Animação e Artes Digitais na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), onde encontrou um ambiente fértil para expandir sua visão criativa e construir conexões que ampliaram seu horizonte profissional. Inicialmente, Bruno deveria produzir uma cena animada de 20 segundos, incluindo storyboard, cenários, personagens e montagem, como exercício da disciplina de Animação de Personagem. No entanto, a empolgação com o projeto o levou a expandi-lo por conta própria, criando novos cenários, elaborando o design sonoro e realizando a pós-produção.

Fascinado por primatas, Bruno escolheu como inspiração o mico-estrela, símbolo ecológico de Belo Horizonte. O enredo se desenvolve no Parque Municipal Américo Renné Giannetti, um dos seus lugares preferidos na capital mineira, e acompanha Penca, um mico folgado e carismático, em suas trapalhadas na tentativa de conseguir uma penca de bananas.

Bruno de Souza: o artista itabirano que conquistou o mundo da animação
Penca no Parque (2024). Foto: Reprodução Bruno de Souza

O curta foi desenvolvido com a técnica quadro a quadro, na qual cada frame é criado individualmente, com pequenas variações na posição de objetos ou personagens. “É minha técnica favorita. Ela exige muito desenho, mas permite uma liberdade criativa enorme. Gosto de brincar com os clichês clássicos da animação, como olhos saltando ou objetos surgindo do nada”, explica.

Desde sua estreia, Penca no Parque já foi selecionado para 25 festivais, sendo oito deles internacionais. O curta passou por mostras na Rússia, Indonésia, Colômbia, Filadélfia (EUA) e, agora, na III edição da FICUA, em Portugal. “A sensação hoje não é mais de surpresa, como foi nas primeiras seleções, mas de validação. Vejo que o projeto carrega uma potência que talvez eu não tivesse percebido quando o criei”, diz Bruno.

O sucesso internacional do curta reforça sua universalidade que, apesar de despretensioso, cativa públicos diversos. “No início, até me perguntava o que as pessoas viam de tão atrativo no Penca. Mas percebo que ele sintetiza muitas coisas: é engraçado, acessível, carismático e traz uma estética que conversa tanto com o público infantil quanto com o adulto”, avalia.

Bruno define o desenho como “uma necessidade básica” e iniciou sua trajetória na ilustração e na arte digital em 2009. Desde 2014, atua profissionalmente como ilustrador e artista gráfico, consolidando uma carreira que transita por diversos formatos e plataformas. Além dos trabalhos acadêmicos, integra a equipe do Grupo Girino, tradicional grupo de teatro de bonecos de Belo Horizonte, onde atua com ilustração, animação, design e audiovisual. Também é ilustrador e artista de conceito e cenário na série animada Heroínas Negras Mineiras, desenvolvida pela produtora Sarasvati, com estreia prevista para 2027. Na mesma produtora, trabalhou na série Heroínas Negras Brasileiras, que em breve será exibida nos canais de TV pública do país.

O multiartista mantém uma atuação consistente como freelancer, realizando projetos que vão de livros e videoclipes a documentários e materiais institucionais. Em 2024, dirigiu e animou seu primeiro clipe de animação para a dupla Ogoin & Linguini, em parceria com o cantor FBC, no single Atenção.

Seu vínculo com a cidade natal permanece forte. No 47º Festival de Inverno de Itabira, em 2021, Bruno produziu ilustrações personalizadas dos principais pontos turísticos da cidade, que foram projetadas em murais digitais durante os espetáculos do evento.

Ao refletir sobre sua trajetória, Bruno reconhece que seu olhar de artista carrega muito da experiência de ser um itabirano vivendo em Belo Horizonte. “Ser de Itabira me torna, antes de tudo, alguém poético, contemplativo. Levo isso comigo, seja na forma como enxergo os espaços, seja na maneira como conto histórias. Aqui em BH, esse olhar se mistura à diversidade da cidade grande, e isso, com certeza, influencia diretamente minha arte”, conclui.

Atualmente, o artista trabalha no desenvolvimento de Casquinha, um curta-metragem produzido em parceria com colegas da UFMG, e no projeto autoral Bola de Chiclé. “São projetos que, com certeza, vão me trazer muitos aprendizados e amadurecimento. Tudo isso me prepara para dar um passo maior com a série do Penca”, afirma.

Bruno adianta que podemos esperar mais histórias de Penca. O cineasta contou que está se preparando para transformar Penca no Parque em uma série de animação. A proposta é ampliar o universo dos personagens, explorar novos cenários e trazer ainda mais humor e reflexões sobre a vida nas cidades.

Assista aqui o curta.