De olho nos pequenos

Diagnóstico precoce e diálogo entre Juliana e Letícia garantiram melhor qualidade de vida

De olho nos pequenos
Quando se fala em diabetes, doença cujo dia mundial é celebrado em 14 de novembro, normalmente, o mal é associado a adultos e idosos. No entanto, crianças e adolescentes podem ser afetados pelo tipo 1 da doença, possível de ser contraída em qualquer idade. Segundo dados da Sociedade Brasileira de Diabetes, o crescimento do número de casos de diabetes do tipo 1 é de 3% ao ano. Na maioria das vezes, de acordo com especialistas, quando as crianças desenvolvem diabetes, os pais ficam perdidos, sem saber como lidar com o problema.
 
Observando os hábitos da filha Letícia, de 6 anos, a enfermeira Juliana de Faria Pessoa Moreira Costa, 30, notou que havia algo errado. “Percebi que ela começou a fazer xixi na cama, coisa que não acontecia mais devido a sua idade, e também a ir muito ao banheiro. Ao mesmo tempo em que urinava, me pedia água. Ela também perdeu peso rapidamente”, conta a mãe. “Por trabalhar na área da saúde, eu já imaginava que poderia ser diabetes, mas não queria acreditar que fosse”, conclui.
 
A doença foi diagnosticada no dia 12 de maio de 2009, antes mesmo que a menina completasse quatro anos, data que ficou marcada para as duas. Desde então, toda a família precisou mudar a rotina em função de Letícia. Logo que teve certeza do diagnóstico, o pediatra encaminhou a menina ao endocrinologista. A partir daí, tomar insulina passou a fazer parte da rotina da menina.
 
A enfermeira conta que sua primeira atitude foi explicar detalhes da doença e dos cuidados que a filha deveria tomar daquele momento em diante. A decisão foi sábia. Graças ao diálogo, rapidamente Letícia desenvolveu a consciência sobre como agir. “Na escola, por exemplo, ela não come lanche oferecido por coleguinhas, porque sabe que não pode. Quando sente que está com a glicose baixa, ela mesma avisa à professora. Ela é quem vai conviver com a doença, portanto, precisa saber se cuidar”, diz Juliana.
 
Hoje, além de visitar regularmente o endocrinologista, Letícia faz a medição da glicose em casa, diariamente, por meio de um aparelho fornecido pela Secretaria de Estado da Saúde, distribuído por meio da Prefeitura. A garota tem acompanhamento também de um nutricionista/ personal diet, que orienta a família acerca de como deve ser a alimentação. “É muito saudável, rica em verduras, frutas, sem muito carboidrato e açúcar. Ela se cuida bem e tem uma vida completamente normal”, conta a mãe.
 
Em função dos cuidados e informações, Letícia nunca ficou internada, fato que a mãe atribui também ao diagnóstico precoce da doença.
 
O diagnóstico
O endocrinologista itabirano Cláudio Alvarenga afirma que a primeira condição para modificar a realidade consiste em conhecer o diabetes. Segundo o especialista, como não há formas de se prevenir ou evitar a doença em crianças, é imprescindível que o diagnóstico e o uso da insulina sejam feitos imediatamente. Caso contrário, a criança poderá entrar em coma. “É uma doença do pâncreas, na qual ocorre a destruição das células beta, responsáveis pela fabricação da insulina. Não há uma idade exata para que apareça numa criança. Há casos de o paciente já nascer diabético”, diz o especialista.
 
Os exames disponíveis atualmente não são capazes de identificar se uma criança poderá ter a doença no futuro. Caso haja ocorrências de doentes na família, os especialistas recomendam que, durante as consultas periódicas com pediatras, o tema seja abordado, para que o médico possa solicitar exames. “Os sintomas são considerados uma defesa do organismo, que vai tentar eliminar, de qualquer modo, esse excesso de glicose que está no sangue. Então os rins passam a filtrar a glicose e a expeli-la junto da urina. A criança passa a urinar muito, levantando-se várias vezes à noite, perdendo grande volume de água e passando a ter muita sede”, detalha o médico.
 
Tanto para adultos quanto para crianças, o diagnóstico do diabetes é feito quando os níveis da glicose excedem 125 mg, valor que ainda não provoca nenhum sintoma. Geralmente, os sintomas só aparecem quando a glicose já está muito alta. “Quando se descobre que uma pessoa é diabética, normalmente ela já está doente há anos e não sabe. Por isso é preciso ficar atento e fazer exames periodicamente”, explica o endocrinologista.
 
A criança diabética e seus familiares devem ser capazes de realizar a contagem dos carboidratos, o que significa saber em quanto cada alimento vai aumentar a glicose e quantas unidades de insulina deverão ser usadas para fazê-la voltar ao normal. O descontrole dos níveis de açúcar no sangue pode trazer complicações graves, como perda da visão e amputação de membros.
 
Realidade difícil
A falta de controle do diabetes tem afetado a qualidade de vida de Nicole, de 13 anos. Por diversas vezes ela precisou ser internada e chegou a ficar por 16 dias no hospital durante uma das crises. Diabética desde os dois anos, por não ter o aparelho de medição, ainda não disponibilizado pela Saúde Pública quando houve o diagnóstico, a menina não teve condições de controlar corretamente os níveis de glicose. Hoje ela precisa injetar 28 seringas de insulina por dia, sendo 14 antes do café, três na hora do almoço e mais oito às 22h.
 
Sua mãe, Margarete Felix Aparecida dos Reis, 32, descobriu a doença de Nicole após uma consulta com o pediatra. Antes disso, não tinha informação alguma sobre a questão. “Aqui não há doces, bala, refrigerante. Quando compro, tem que ser diet. Até adoçante aprendemos a usar. No entanto, não tenho condições de comprar sempre tudo de que ela precisa e ainda falta o medidor de glicose com as faixas, que até o hoje não temos”, lamenta Margarete, mãe de outros dois filhos.
 
Nicole recebe insulina por meio de programas públicos de saúde, assim como o controle com o endocrinologista, mas ainda espera pelo aparelho de medição de glicose. “Sei quando a glicose está baixa, porque a Nicole fica fria, fica bamba e começa a tremer”, diz.
 
Por conta da doença, a menina não tem conseguido estudar direito. Constantemente passa mal na escola. A mãe não a permite participar de festas de amigos, com medo de que ela exagere com as guloseimas. “Às vezes até os irmãos são impedidos de ir às festinhas. Quando ela vai, tem sempre que ter uma pessoa vigiando. Ela ainda não aceita o diabetes”, revela a mãe.
 
Passando por dificuldades financeiras, a dona de casa reclamava, além da falta do aparelho para medir a glicose da filha, a perda da cesta básica, desde o final do ano passado, que recebia da Prefeitura por meio de programas sociais, o que dificultava ainda mais que a menina tivesse uma alimentação adequada.
 
A Secretaria Municipal de Ação Social, após verificar a situação de Margarete e Nicole, detectou que o problema era relacionado somente a uma mudança de endereço do Centro de Referência de Assistência Social (Cras) no qual a família estava inscrita. O cadastro também estava desatualizado. Ciente das providências a serem tomadas, a mãe espera que, daqui em diante, o futuro da filha seja de dias mais prósperos e tranquilos.
 
Os médicos alertam que, se a doença for tratada devidamente desde a descoberta, é possível controlar o diabetes e os pacientes podem levar uma vida normal.          
 
Atendimento ao Público
Em novembro de 2010, foi inaugurado em Itabira, em parceria entre Prefeitura e Governo do Estado, o Centro Viva Vida Hiperdia. No local, são atendidos pacientes com hipertensão e diabetes.
 
Segundo a enfermeira Daniele Vitoreti, responsável pelo setor de atendimento aos diabéticos, o Centro recebe pacientes com diabetes do tipo I, encaminhados pelo Programa Saúde da Família (PSF), incumbido pela atenção primária aos pacientes. Já os diabéticos do tipo II são atendidos no Hiperdia apenas se os casos forem considerados graves. Quando são controlados, retornam aos cuidados do PSF.
 
No Centro Viva Vida, os diabéticos atendidos recebem acompanhamento de psicólogo, nutricionista, assistente social, enfermeira e endocrinologista. Daniele explica que a enfermeira acompanha o pé diabético, que acomete pessoas que têm a doença há mais de 10 anos. “Após esse período, os diabéticos começam a perder a sensibilidade dos pés e precisam de acompanhamento, principalmente, as crianças em que o diabetes aparece muito cedo”, explica.
 
A enfermeira enfatiza a importância do acompanhamento psicológico para quem descobre a doença e para os familiares. “Com o passar dos anos, alguns diabéticos deixam de cuidar de forma correta da alimentação e do tratamento. A psicóloga os estimula a não deixarem o tratamento nunca”, conclui.
 
A assistente social do Hiperdia orienta os atendidos quanto a seus direitos. A insulina regular, NPH e Glargina são enviadas pelo Estado aos municípios, que cuidam de repassá-los gratuitamente aos assistidos. O mesmo acontece com relação ao aparelho de medir a glicose, enviado a todos os pacientes do tipo I de Itabira.
 
O Centro Viva Vida Hiperdia fica na Avenida João Pinheiro, nº 791, Centro, Itabira. Telefone: (31) 3831-2900

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