Estudo mostra que há uma ligação intensa entre sono e sexo
Clique aqui para ver a imagem ampliada Que tal um sono profundo e reparador, com direito a um despertar tranquilo e bem-humorado? Para algumas pessoas, isso não passa de utopia. Elas têm os chamados distúrbios do sono e, por não dormirem bem, sofrem com a iminência de doenças que vão da depressão à […]
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Que tal um sono profundo e reparador, com direito a um despertar tranquilo e bem-humorado? Para algumas pessoas, isso não passa de utopia. Elas têm os chamados distúrbios do sono e, por não dormirem bem, sofrem com a iminência de doenças que vão da depressão à obesidade. Um estudo feito por Mônica Andersen, professora do Departamento de Psicobiologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), pode deixar homens e mulheres que sofrem de privação do sono ainda mais preocupados. Ela conclui que homens que dormem mal têm três vezes mais chance de apresentar disfunção erétil do que aqueles que dormem regularmente bem. As mulheres também sofrem com disfunções sexuais ligadas à qualidade do sono, causadas por alterações hormonais. Ainda em fase de conclusão, outra pesquisa da professora relaciona a infertilidade com problemas para dormir.
Em um levantamento epidemiológico, o Episono (2007), ela analisou questionários aplicados a 1.042 voluntários da cidade de São Paulo. O resultado revelou que aproximadamente um terço dos entrevistados têm apneia do sono diagnosticada. Ainda nessa pesquisa, 17% dos homens disseram ter disfunção erétil — 7% dos atingidos têm entre 20 e 29 anos e 60% têm 60 anos ou mais. Segundo ela, a privação do sono reduz os níveis de testosterona. Esse hormônio é responsável pelas características masculinas, pelo desejo sexual e pela metabolização de gorduras, entre outras funções. “Percebi, no experimento com ratos, que a privação recorrente aumenta a excitação sexual, mas, mesmo com desejo, não há penetração na fêmea, por não atingirem a função erétil adequada”, observa Mônica.
A pesquisa com ratas, por sua vez, mostrou emoções extremadas. Quando no cio, ou seja, receptivas para o sexo, o desejo sexual aumentou. No entanto, fora desse período, a pesquisadora compara essa fase à época pré-menstrual das mulheres, com a rejeição aos machos levando inclusive a agressões. Segundo ela, os resultados não podem ser simplesmente estendidos às mulheres, pois o desejo delas é muito influenciado por alterações psicológicas e pelo ciclo menstrual. Para avaliar melhor, Andersen e a ginecologista Helena Hachul, também da Unifesp, pesquisam se a privação do sono pode afetar a reprodução das mulheres. Um dado interessante, antecipado por Hachul, é que as mulheres com ciclo menstrual irregular apresentam duas vezes mais chance de ter problemas do sono. “Esse fato mostra a interferência do padrão hormonal na qualidade do sono”, afirma. Mônica faz o caminho inverso e conclui: “A privação do sono pode interferir no ciclo menstrual”.
Equilíbrio
Para o ginecologista André Baylão, o eixo hormonal da mulher — hipófise, tireoide, pâncreas, suprarrenal e ovários — depende da soma, equilibrada, de três ações básicas: dormir regularmente, ter boa alimentação e praticar exercícios físicos. “Se um desses pontos falhar, com certeza influenciará o eixo”, pontua. De acordo com ele, o GH (hormônio hipofisário responsável pelo crescimento e pelo rejuvenescimento) é produzido na fase REM (sigla em inglês para movimentos oculares rápidos; é atingido na fase profunda do sono, quando ocorrem os sonhos) do sono. “Para mantê-lo no organismo, é preciso dormir”, acrescenta.
Baylão explica que, no caso dos homens, o eixo hormonal é praticamente igual ao das mulheres, diferindo, apenas, na troca dos ovários pelos testículos. Portanto, os hábitos saudáveis necessários são os mesmos. Segundo ele, uma das causas da disfunção erétil, entre outros motivos, pode ser uma herança de distúrbio do sono. Ele aconselha que os homens prestem atenção, pois o organismo pode parecer igual ao feminino, mas não é. A menopausa, por exemplo, é inevitável, e a andropausa (algo como a menopausa masculina) é um problema psicogênico ou hormonal. “O estresse e o tabagismo, entre outros fatores, abrem portas para a andropausa”, esclarece.
O administrador Carlos Cardoso*, 56 anos, foi diagnosticado há 16 com apneia do sono. Ele conta que dormir era péssimo e que chegava a acordar cinco vezes na noite. No dia seguinte, ele sentia os sintomas da noite maldormida: cansaço físico, mau humor e falta de concentração. Carlos descobriu que estava hipertenso e, no mapeamento, constatou que a pressão subia de madrugada. Foi aí que detectaram a doença. “Eu sabia que tinha sono ruim, mas não fazia ideia do que isso poderia causar”, relembra. Ele acredita que a doença veio com a obesidade — ele tem 1,66m e 80kg. Dos efeitos colaterais da doença, ele reclamava de não ter sonhos e de sofrer com indisposição constante. Fez cirurgias no nariz e na garganta, sem êxito, e só então iniciou o tratamento da apneia. Hoje, dorme como um “anjo”. Em relação ao desempenho sexual, Carlos diz nunca ter tido problema com ereção, embora afirme, paradoxalmente, que a vida sexual melhorou muito. “Controlei a pressão, faço dieta e vivo muito melhor”, comemora.
Tempos modernos
Com o ritmo acelerado do dia a dia moderno, é natural que as pessoas durmam tarde, acordem cedo e compensem as horas de sono perdido no fim de semana. Quando, porém, a privação do sono é recorrente e independe da vontade de dormir, é bom procurar ajuda médica. Dormir bem está além de um mero descanso. É dormindo que se concluem as etapas da aprendizagem, do equilíbrio emocional e da criatividade. Privar-se dessa fase pode fazer com que o indivíduo tenha deficit cognitivo, mau humor, indisposição e o organismo fraco, mais propício a contrair doenças. Segundo Mônica Andersen, essa privação estimula a grelina (hormônio da fome) e reduz a leptina (hormônio da saciedade), logo, o apetite por pratos calóricos é maior — e o acúmulo de gordura, também.
Para o neurologista Ricardo Teixeira, esse distúrbio é mais sério do que parece. Ele observa que a privação do sono pode levar a síndromes metabólicas, cardiovasculares e derrames, pois, nesse processo, é comum o aumento da pressão arterial. “Tudo o que tira o indivíduo do seu equilíbrio faz mal”, ressalta. Entretanto, ele explica que não há um tempo exato de sono, que esse horário varia de pessoa para pessoa. “A média é de oito horas diárias, mas, para alguns, cinco horas bastam. Para outros, 10 horas é o tempo essencial. Esses são chamados de pequenos ou grandes dormidores”, explica.
O exame que detecta a doença chama-se polissonografia e foi nele que a aposentada Josefa Britto, 77 anos, descobriu, há dois, que chegava a ficar 40 segundos sem respirar. Apesar de roncar muito e de ter os sintomas, Josefa desconhecia a doença. Com a pressão alta e recorrentes dores na coluna, ela lembra quando estava com 50 anos, já na menopausa, e voltou a menstruar após um tratamento sem remédios. Para ela, o problema pode ter ocorrido pela tensão das noites, mas não sabe afirmar se a volta do menstruação se deu pelo mesmo motivo. De acordo com André Baylão, isso pode ocorrer, pois, com o sono desregulado o ciclo menstrual pode ser afetado. “Um está ligado ao outro. Se um falha, consequentemente os outros podem falhar”, esclarece.