À DeFato, Toninho Horta fala sobre novo projeto e rica trajetória musical

Histórico instrumentista está à frente do “Movimento Musical Além das Montanhas”

À DeFato, Toninho Horta fala sobre novo projeto e rica trajetória musical
Em seu currículo, Toninho Horta possui a conquista de um Grammy e parcerias com outros grandes nomes. Foto: Fábio Andrade

Começou neste domingo (23), por meio de uma parceria entre a Anglo American e o Instituto Maestro João Horta, o Movimento Musical Além das Montanhas (MMAM). O evento oferecerá 23 videoaulas de instrumentos, harmonia, arranjo e improvisação, cuja temática será o histórico álbum Clube da Esquina, lançado há 50 anos e considerado uma das maiores obras da música brasileira.

Além das atividades descritas acima, o projeto também oferecerá mesas-redondas, depoimentos e shows didáticos até o dia 30 de janeiro. Para participar do evento, é necessário acessar o hotsite do MMAM, clicando aqui. Para os moradores dos municípios anfitriões das operações da Anglo American, basta apresentar comprovante de endereço ou informar o número de registro na empresa.

Os interessados em nível nacional devem preencher também o cadastro no hotsite e optar pelo pagamento da inscrição no Hotmart.

Valorização da nossa cultura

À frente do Instituto Maestro João Horta e responsável pela iniciativa, o músico Toninho Horta bateu um papo com a DeFato sobre o MMAM, sem deixar de falar sobre sua rica trajetória musical.

Em seu currículo, o instrumentista possui trabalhos com nomes como Gal Costa, Elis Regina, Tom Jobim e uma participação direta no próprio álbum Clube da Esquina. Também foi eleito, em 1977, pela revista Melody Maker, o 5º melhor guitarrista do mundo. Outra revista, desta vez a Rolling Stone Brasil, o incluiu, em 2012, na lista dos 30 maiores ícones brasileiros da guitarra e do violão.

Sobre o Movimento Musical Além das Montanhas, Toninho Horta afirma que busca, por meio do projeto, valorizar as raízes mineiras. E, embora o foco principal seja a MPB, outras vertentes serão incluídas, como ocorreu na trajetória do Clube da Esquina.

“A intenção é valorizar nossa cultura mineira, sem nenhum preconceito. Pelo contrário, com abertura para todas as áreas, chorinho, samba, pop, rock. O Clube da Esquina mesmo mostrou isso através das músicas do Milton Nascimento, Lô Borges, Beto Guedes etc, todas elas tem um caráter pop. A gente faz bossa, samba, tem um pouco de jazz, um pouco da música do trabalhador braçal, aquela coisa que vem do negro, do preto, que vem da raça do Milton, que puxou essa ala. E a gente vem também com a influência das músicas religiosas, tudo isso vai ser apresentado para o público”, explica.

Outro ponto destacado por Toninho é o fato da iniciativa ser voltada a todos os públicos, dos músicos amadores aos profissionais.

“O interessante do projeto é que ele é aberto para pessoas de vários níveis de conhecimento. Pode ser estudante, iniciante, com aulas mais lúdicas, clássicas… Uma série de atividades que vai atender o público amador, estudante, iniciante, até os profissionais”, salienta o artista.

Separamos, por tópicos, declarações do ilustre belorizontino sobre outros temas. Confira todas as respostas logo abaixo!

Tonunho Horta
Multi-instrumentista bateu um papo exclusivo com a DeFato Online. Foto: Toninho Horta/Instagram

Importância do Clube da Esquina I

Toninho Horta: O álbum fez tanto sucesso que virou um divisor de águas na música brasileira. Depois do sucesso da Bossa Nova, depois do Samba Canção, da Época de Ouro, vieram vários movimentos nos anos 70, entre eles a Tropicália, a Vanguarda Paulista. Mas, musicalmente, o Clube da Esquina despontou mais que todos os outros. Então o álbum ficou muito conhecido, pessoas do mundo inteiro foram influenciadas pelos compositores do Clube. E, na verdade, todos nós bebemos das raízes mineiras, do rock inglês, jazz, música clássica, cada componente importante do Clube da Esquina tem uma ligação.

Trabalhos com artistas históricos

Toninho Horta: Eu, graças a Deus, tenho uma carreira privilegiada. Viajei por mais de 40 países, toquei com artistas do mundo inteiro nos principais centros culturais, como Europa, Ásia…minha música é muito instrumental, vem do lado do jazz, da MPB. Comecei tocando baile com meu irmão aqui em Belo Horizonte no final dos anos 60. Aí conheci o Milton, daí a pouco já fomos para o Rio classificados em festival, depois gravei com Elis Regina em 1970, aí em 1972 gravei o Clube da Esquina, em 1973 toquei com Gal Costa. Aí veio Nana Caymmi, outros cantores, orquestras. Daí comecei a gravar meu disco, lançado em 1979, e viajei pelo mundo tocando minha música e também no trabalho de outras pessoas famosas.

Carência musical no Brasil

Toninho Horta: Eu continuo como compositor efervescente, sempre fazendo música. Como viajei muito, vejo a carência que o pessoal do Brasil tem das coisas novas, então procuro incentivar as nossas raízes às novas gerações. Porque o Clube da Esquina, a  garotada que tem 15, 20, 30 anos hoje não conheceu o Clube da Esquina. Então eu sou meio ideológico para essas coisas.

Falta de oportunidades

Toninho Horta: Tem talentos demais por aí no Brasil, mas eles não têm muita oportunidade de aparecer a nível nacional como antigamente, com o suporte das gravadoras e tudo. Então, não gostaria de falar em nomes, porque posso ser injusto, mas pode saber que nas grandes capitais, Belém, Piauí, Fortaleza, Bahia, Rio Grande do Sul, locais fora do eixo Rio e São Paulo, tem gente talentosa demais. Acho que o Brasil nunca deixou de ter essa qualidade de criadores, é questão só da mídia estar divulgando uma coisa mais imediatista que acaba não favorecendo outras pessoas aparecerem.

Incentivo aos jovens

Toninho Horta: Eu estou em plena atividade, minha música rola lá fora, tem sempre turnê. Agora, depois da pandemia, esse ano é que as coisas vão voltar a ficar mais tranquilas. Mas continuo compondo, e sempre tendo essas ideias de agregar às pessoas, os novos movimentos, porque tem muita gente de talento que está aí. Se você incentivar o jovem a se desenvolver musicalmente, já é um prêmio muito grande você colocar a garotada numa linha mais de se valorizar, de ser futuramente um senhor de si, fazer a própria música, conduzir sua própria carreira. E eu tenho esse ideal através do Instituto Maestro João Horta.

Pandemia

Toninho Horta: Estou na ativa direto. Nesses dois anos fiz muitas lives com muita gente não só do Brasil, produtores do Japão, Europa. Em 2021, em janeiro, viajei pro Piauí, depois toquei no SESC São Paulo, festival Tapajazz etc. Foram poucas viagens, com muito medo da pandemia, mas consegui sobreviver com a quantidade de lives, porque eu tinha ganhado um Grammy com minha banda Orquestra Fantasma. Fizemos um álbum duplo chamado “Belo Horizonte”, que ganhou um Grammy de melhor álbum de MPB de 2020. Com isso, as pessoas queriam que eu aparecesse em alguns lugares, mas com a pandemia só através das lives interativas. O Grammy ajudou a valorizar meu trabalho. Também aproveitei (período de quarentena) para fazer muita música nova, organizei minha vida, partituras, direitos autorais.

Morte de Elza Soares

Toninho: Conheci a Elza ainda nos anos 70, 80, porque eu circulava muito pelo Rio, São Paulo. Ela sempre foi uma artista muito vibrante, com muita energia. E foi incrível porque até com uma idade mais avançada ela continuou firme cantando, gravando discos. Há oito, 10 anos atrás a gente se encontrou aqui em BH, ela estava com um projeto. E por coincidência concorremos ao mesmo prêmio do Latin Grammy, e dessa vez eles resolveram dar o prêmio para um instrumentista, que sou eu. É uma tristeza muito grande, era uma artista já consagrada, e sempre que as pessoas partem será deixada uma lacuna. Mas ela foi brilhante até o final da carreira.