“A discriminação é um crime, machuca, fere”, diz mulher que denunciou motorista racista em BH
Maria Nazaré teve corrida negada por motorista de aplicativo na capital mineira
A pós-graduanda em Direito, Maria Nazaré Paulino, denuncia racismo sofrido ao solicitar uma corrida em um aplicativo de transporte, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte, no dia 17 de outubro. Ela conta que foi chamada pelo motorista de “preta vagabunda”.
A vítima gravou um vídeo em que desabafa sobre o ocorrido e relata o que aconteceu. Ela conta que estava saindo de um evento, ao fim da tarde do domingo (17), e foi solicitar um Uber.
“O carro chegou e parou a mais ou menos uns 20 metros de mim. Eu fazendo sinal, e ele não se movia. Eu acreditei que seria porque onde eu estava era ruim de estacionar. Aí me aproximei do carro e esse senhor não abria a porta. Eu mostrei meu telefone pra ele, identificando que eu era a passageira e ele não abria. Diante da minha insistência, ele abriu (a janela) e falou que o carro dele não carregava ‘preto vagabundo’. Eu fiquei tão assustada que não tive reação”, relata Maria Nazaré.
Ela relata que em seguida, ainda em estado de choque, solicitou outra corrida em outro aplicativo de transporte. Maria Nazaré contou que ao entrar no carro, começou a chorar e desabafar com o motorista. A corrida tinha como destino a casa da filha, que foi essencial no suporte e auxílio à mãe que foi vítima de racismo.
A pós-graduanda em Direito conta que o apoio da família foi de extrema importância para que ela denunciasse o motorista. “Eu tenho cinco filhos. Três filhos naturais, dois filhos que são enteados, que eu amo tanto quanto, e dois netos. Eles cuidam de mim com extremo zelo. E meu pai, que faleceu há um ano, deixou essa semente da resistência muito bem plantada em mim”, contou com orgulho ao portal DeFato Online.
Denúncia
Depois de receber o apoio da filha, Maria Nazaré começou a juntar as provas contra o motorista de aplicativo. Ela denunciou o caso de racismo pelo Disque Denúncia 100 e, na última quinta-feira (21), foi à Delegacia Plantão Especializada em Atendimento à Mulher, Criança, Adolescente e Vítima de Intolerâncias, no Barro Preto, na Região Centro-Sul da capital, para prestar depoimento.
O advogado da vítima, William Santos, relatou à DeFato que espera que a condenação do motorista seja classificado como crime de racismo, e não de injúria racial.
“O crime de injúria racial é um dos crimes contra a honra. Ou seja, atinge a pessoa, o indivíduo. A pena é de 1 a 6 meses e pode ser convertida em prestação de serviços comunitários, pagamento de cestas básicas , se quem nos últimos 5 anos já praticou o crime. O crime de racismo não admite fiança e é imprescritível. É um crime que atinge todo um coletivo, que foi o caso desse motorista quando ele afirmou que não transporta ‘preto vagabundo’, ele se refere ao coletivo. Nesse caso, a pena é de 1 a 3 anos”, explica o advogado.
Resistência
Maria Nazaré reforçou a importância em denunciar casos de discriminação e racismo, para que sejam de conhecimento público. A pós-graduanda também falou sobre a importância da resistência dos grupos em minoria social.
“Nós somos como somos. E devemos ser felizes como somos. Não sofram por isso. Resistam apenas. E vamos ser felizes. A discriminação é um crime. A discriminação machuca, fere, dói, faz as pessoas desistirem, suicidarem, faz as pessoas não quererem realizar projetos, porque se acham menores e nós vamos aceitar isso assim? Não, não, não vamos”, reforçou Maria Nazaré.
Nota da Uber
Procurada pela DeFato Online, a empresa enviou uma nota quanto ao caso de racismo feito pelo motorista da plataforma. A nota na íntegra pode ser lido abaixo:
“A Uber possui uma política de tolerância zero a qualquer forma de discriminação em viagens pelo aplicativo. A Uber busca oferecer opções de mobilidade eficientes e acessíveis a todos. A empresa reafirma o seu compromisso de promover o respeito, igualdade e inclusão para todas as pessoas que utilizam o app. A empresa desativou o motorista parceiro citado no caso em questão e se coloca à disposição para colaborar com as autoridades no curso das investigações.
Sabemos que o preconceito, infelizmente, permeia a nossa sociedade e que cabe a todos nós combatê-lo. Como parte desses esforços, a Uber lançou, por exemplo, o podcast Fala Parceiro de Respeito, em parceria com a Promundo, com conteúdos educativos sobre racismo. Além disso, em parceria com as advogadas da deFEMde, a empresa revisou o processo de atendimento na plataforma, a fim de facilitar as denúncias de racismo e acolher melhor o relato da vítima. Recentemente, a Uber também lançou uma campanha que convida usuários e motoristas parceiros para serem aliados no combate ao racismo. A iniciativa tem o objetivo de promover um conteúdo educativo dentro do próprio aplicativo e é parte de um compromisso global assumido pela empresa no ano passado com o objetivo de combater o racismo e criar produtos igualitários por meio da tecnologia.”