A dramática, lamentável e patética situação da Prefeitura de BH
O quase prefeito Álvaro Damião (União Brasil) porta-se como uma caravela à procura do caminho para as Índias. Mas tem um problema
Falta transparência política no quadro clínico do prefeito “de fato” de Belo Horizonte. O drama de Fuad Noman (PSD) é lamentável. Já a paisagem institucional da prefeitura da capital é patética. O quase prefeito Álvaro Damião (União Brasil) porta-se como uma caravela à procura do caminho para as Índias. Mas tem um problema. A nau sem rumo nunca dá de cara com o Cabo da Boa Esperança. O comandante não tem bússola. E só para emergir. O “Cara” é uma ilha rodeada por seres sobrenaturais (o secretariado de Fuad). Coisa camoniana.
Na verdade, o radialista esportivo tenta gerenciar uma equipe que não é da sua conta. O suposto prefeito se comporta como treinador de seleção convocada por outro técnico. Não há ninguém de sua confiança no time. E todo mundo bate cabeças. Até agora, Damião conseguiu emplacar apenas “meia dúzia de três gatos pingados” na administração municipal.
O conto kafkiano de BH tem dois capítulos. O primeiro é encenado no hospital Mater Dei. A via-crúcis de Fuad começou com o diagnóstico de linfoma não Hodgkin (LNH), no mês de junho do ano passado, em pleno processo eleitoral. Naquele momento, o candidato à reeleição era o azarão da disputa. O apresentador Mauro Tramonte (Republicanos) liderava com folga todas as pesquisas de opinião. A três meses do pleito, a fatura parecia liquidada para o empregado de Edir Macedo. Mas deu zebra na reta final. O homem dos suspensórios superou a terrível adversidade e derrotou meio mundo. E melhor ainda. No decorrer da campanha, anunciou a remissão do câncer.
Depois da abertura das urnas, porém, o estado patológico do vencedor degringolou. O pessedista teria cometido excessos na batalha pelo voto? Sabe-se lá. O vitorioso tomou posse de forma virtual. Estava bastante debilitado na ocasião. E piorou ainda mais. Em 3 de janeiro, foi internado por conta de insuficiência respiratória. E nunca mais deixou a casa de saúde. Encontra-se em tratamento até hoje (ou 80 dias). Tem um ponto fora da curva nesse enredo. Oficialmente, Noman permanece chefe do Executivo da quinta maior metrópole do País. Mantém-se no poder por meio de sucessivos atestados médicos quinzenais, data limite para não perder o cargo. Então, ele é um ex-prefeito em aparente exercício.
O segundo capítulo deste dramalhão mexicano se desenvolve no teatro (sem artes) da avenida Afonso Pena, na prefeitura da cidade. Nesse palco, a encenação é constrangedora. Os secretários da máquina pública, na Prefeitura de BH, são escolhas de Noman, não do atual fictício mandatário. Álvaro Damião “mexe, remexe” e não sai do lugar. O “Cara” está com as mãos amarradas. Existe simples solução para esse bizarro imbróglio: a turma de Noman, em nome do bom senso, deveria pedir o boné e dar no pé (pintou até improvável rima). Difícil esta possibilidade se concretizar. Uma cena, na porta da cozinha da casa da minha avó paterna, lá na zona rural de Ouro Preto, ilustra esta exótica passagem da vida pública mineira: a cachorrada nunca largava o osso na hora da comida.
Fernando Silva é jornalista e escreve sobre política em DeFato Online.
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