A eleição paulistana e o ovo da serpente

Quem é o “notável” incendiário do circo institucional paulistano? Anote aí: Pablo Henrique Costa Marçal

A eleição paulistana e o ovo da serpente
Reprodução/Instagram/@pablomarcal1
O conteúdo continua após o anúncio


O processo eleitoral das capitais mantém-se num ritmo monocórdio. Nenhuma emoção mais forte no cenário. O velório de um indigente tem mais animação que a disputa de Belo Horizonte, por exemplo. Tudo muito previsível. Os candidatos recitam a ladainha de sempre.

E, de repente, não mais que de repente, a pauliceia extravasa o seu jeito desvairado de ser. A briga (literalmente) pelo Palácio do Anhangabaú entrou no modo combustão. Quem é o “notável” incendiário do circo institucional paulistano? Anote aí: Pablo Henrique Costa Marçal. Memorize bem o nome e sobrenome da personagem. Pablo é um problema à procura de improvável solução. Trata-se de um outsider encrencado com a Justiça e polícias.

Em um passado, nem tão distante, foi contumaz frequentador de fóruns e delegacias. Tornou-se quase um ex-presidiário. Escapou das grades por muito pouco. Hoje, já grã-fino, autodenomina-se coach. E o que significa coach? Nesse contexto, ninguém sabe. Há, no entanto, um indício.  A declaração patrimonial do “artista” à Justiça Eleitoral revela a fortuna de R$ 168 milhões.  Um real tsunami nas contas bancárias.

Um dia, um anjo torto, desses que vivem no “breu das tocas”, disse ao nosso herói: “vai, Pablo, ser coach na vida”.

A história do “cara” é fascinante. Ele foi adolescente prodígio. Ainda muito jovem, virou um expert em cibernética.  Usou, com rara maestria, a informática para golpes bancários na internet. “Velhinhos” aposentados eram as vítimas preferenciais.  O candidato a prefeito de São Paulo ameniza o delito. “Eu apenas dava manutenção nos computadores de uns caras. Eu faturava R$ 300,00 para ajudar nas despesas lá de casa”.

Marçal é debochado e encarna o extremo conservadorismo.  A estratégia de campanha parece bem definida. A sua mira preferencial é o cérebro de Guilherme Boulos. Até agora deu certo.  O líder do PSOL encontra-se numa perturbadora encruzilhada. Responde aos ataques no mesmo tom ou contemporiza? Difícil decisão. Se dançar a mesma música de Pablo, se transforma num irresponsável radical. Caso ignore, passa a imagem de fujão da raia. Então, essa é a síntese da encrenca: se ficar o bicho come, se correr o bicho pega.

Uma constatação resta muito clara. Marçal literalmente avacalhou o processo eleitoral das margens do Tietê.  A artilharia suja e pesada teve uma resposta animadora nas pesquisas de opinião. O neopolítico subiu de 7% para 21%, em apenas três semanas, segundo o instituto Datafolha.  O Donald Trump dos trópicos está tecnicamente empatado com Boulos e Ricardo Nunes, atual prefeito da capital paulista. E qual é a causa de tão retumbante sucesso eleitoral?  Os chutes no saco. Marçal não tem escrúpulos e desconhece princípios éticos. Resumo do perfil psicólogo do indivíduo: conservador de araque, arrogante, agressivo, vulgar e rasteiro.

Em recente entrevista ao canal Globo News, deu um show de intelectualidade tacanha. Quando questionado sobre as suas demandas na Justiça, pudicamente respondeu: “eu queria ser uma pessoa que nunca foi processada, um menino que nem peida. Mas não foi assim. Infelizmente, fui injustiçado”. Essa é a malcheirosa metáfora do mais famoso ex-coach do país.

A coisa começa a tomar um ar de seriedade. O astro das eleições de “Sampa” aparenta estar fora de controle. Sua verborragia não tem como alvo apenas os “comunistas”.  Algumas alfinetadas foram direcionadas a Jair Bolsonaro e seus rebentos 02 e 03(Carlos e Eduardo). Pablo é muito  malcriado, mas não necessariamente burro. O sujeito percebeu que tem luz própria.  Notou que o Sol é muito mais importante que a Lua.

O penetra, porém, corre sérios riscos de ser barrado do baile pela Justiça. Isso, todavia, não tem a mínima importância. Aconteça o que acontecer, Pablo   é um vitorioso. Veja o cenário futuro para o franco atirador.  A presença no segundo turno está praticamente garantida, provavelmente contra Guilherme Boulos. E pouco importa o resultado final da quebradeira. A perda, nesse caso, não significa derrota. Afinal, o   pigmeu se transformou em Gulliver. E o mais impactante em tudo isso: todos os caminhos levam a 2026. O aloprado conta com três alternativas e entra no processo de daqui a dois anos com elevado potencial de competividade: candidato a senador, governador de São Paulo ou presidente da República. Provavelmente, chegará lá como a única estrela da extrema-direita capaz de encarar o presidente Lula.

Como se vê, a terra dos bandeirantes está chocando o ovo da serpente. Mas, no meio do caminho, tem a Justiça. Vamos aguardar os próximos capítulos dessa trama.

P.S.: uma circunstância inusitada elevou ainda mais a temperatura da sucessão paulistana: o fator Tabata Amaral. A jovem deputada chamou Marçal para a briga. E foi com tudo para cima do ex- coach. Chutou no meio da canela.  Marçal sentiu o golpe. Ele, no decorrer da campanha, tomou uma atitude imprevidente: cutucou Tabata com vara curta. E despertou um monstro da retórica.   Esse embate promete fortes emoções, se a Justiça não retirar Marçal do rigue.

Fernando Silva é jornalista e escreve sobre política em DeFato Online.

O conteúdo expresso é de total responsabilidade do colunista e não representa a opinião da DeFato.

MAIS NOTÍCIAS