A importância das eleições municipais no contexto geral da política

Num período de quatro anos, o Brasil gasta a metade do tempo no exercício de campanhas eleitorais antecipadas

O processo eleitoral de 2024 já entrou em campo. O fim do Carnaval representa o começo da movimentação das peças no complexo tabuleiro da sucessão municipal. Essa alegoria evidencia uma tradição desse país tropical abençoado por “Ele” e amaldiçoado pelo “Outro”. E aqui sobra até espaço para reflexões metafísicas: o político tupiniquim é uma criação “Deste” ou “Daquele”?

Um exemplo de atraso de vida: eleições de dois em dois anos. A coisa virou um círculo vicioso (e viciado). O ponto final dos pleitos para a presidência da República significa o pontapé inicial das corridas pelas Prefeituras. Então – num período de quatro anos – o  Brasil gasta a metade do tempo no exercício de campanhas eleitorais antecipadas. Um monumento ao desperdício. A PEC 12/2022 tem por objetivo o fim do instituto da reeleição. O dispositivo ainda prevê a unificação da disputa eleitoral em todos os níveis da federação. E mais. Os mandatos serão esticados para cinco anos. Ganho prático da mudança. Em um único dia, serão eleitos presidente da República, governadores, senadores, deputados (estaduais e federais), prefeitos e vereadores.

Mas enquanto essa alteração não acontece, divirtam-se com o arranca-rabo desse ano. A refrega já desponta na linha do horizonte. Alguns “sábios” afirmam que o jogo paroquial é irrelevante. Discordo. O resultado da competição municipal terá acentuado peso no processo eleitoral seguinte (daqui a dois anos). As urnas mostrarão claras evidências para o cenário de 2026. Veja bem. O Brasil ainda vivencia consistente (e persistente) polarização. Numa ponta, o petismo. No outro extremo, o bolsonarismo. E não há o mais leve sinal de esgotamento dessa dicotomia.

A paisagem política para 2024 parece muito concreta. As duas vertentes ideológicas procurarão se cacifar nas cidades. Essa estratégia é fundamental para a próxima “briga” pelo Palácio do Planalto. Nesse contexto, a polarização ainda será um fator exponencial. Assim, o PL de Bolsonaro e o PT de Lula serão os principais protagonistas. As duas agremiações têm como meta fundamental a conquista de um número representativo de Prefeituras, principalmente das capitais. E o mais importante. A votação explicitará o humor da população. O povo encontra-se satisfeito com o atual governo do país? Eis a questão.

Essa equação, porém, exibe uma complicada incógnita: a situação do ex-presidente durante o processo eleitoral. Livre – mesmo inelegível – Jair Bolsonaro é poderoso cabo eleitoral. Mas existe a concreta possiblidade de seu encarceramento até outubro. Essa circunstância enfraquecerá a ponta direita do segmento político. Sobra uma expectativa bastante promissora para esse agrupamento ideológico: a possível transformação de Bolsonaro em vítima (ou mito) poderá render milhões de votos. Resta saber se o velho capitão desempenhará esse papel com competência. Afinal, a cadeia é o lugar onde o filho chora e a mãe não ouve. Nas masmorras, todas as luzes se apagam. Poucas pessoas consegue manter brilho próprio nas trevas. A conferir.

PS: Naturalmente, Jair Bolsonaro será preso em algum momento. Esse fato é inevitável. Mas não será em breve. O Mito ainda nem réu é. Ele só será encarcerado depois do trânsito em julgado da sentença penal condenatória, pois terá direito a todos os recursos do devido processo legal. Mas há perspectivas mais sombrias pela frente. Bolsonaro encontra-se inelegível por oito anos. O ex-presidente é alvo em cinco inquéritos no Supremo Tribunal Federal (STF). Caso condenado, a sua inelegibilidade poderá subir para até 30 anos. Essa dura realidade significará um ponto final na longa carreira eleitoral do morador do condomínio “Vivendas da Barra”. A conferir.

Fernando Silva é jornalista e escreve sobre política em DeFato Online.

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