“A morte de uma criança mexe com o emocional e choca”, diz delegado do Caso Henry
Em entrevista, diretor do Departamento-Geral de Polícia Civil do Rio de Janeiro fala do empenho da equipe em resolver o caso

O delegado Antenor Lopes Martins Junior é diretor do Departamento-Geral da Polícia Civil do Rio de Janeiro deu uma entrevista coletiva em que deu detalhes sobre as investigações do Caso Henry. Graças ao trabalho dele, e de sua equipe, foi possível realizar a prisão da mãe da criança, Monique Medeiros, e do padrasto Dr. Jairinho.
A Polícia Civil indiciou o casal por homicídio duplamente qualificado, com impossibilidade de defesa da vítima e pelo emprego de tortura. Henry Borel tinha apenas 4 anos. Antenor Lopes revela que o caminho para concluir a investigação foi delicado.
Segundo o diretor da Polícia Civil, o caso chamou a atenção de outro delegado, Henrique Damasceno, titular da Barra da Tijuca. “Ele me ligou, dizendo que tinha um caso sensível, da morte de uma criança de apenas 4 anos. E o relato apresentado era de acidente doméstico. No entanto, como ele tinha muita experiência com homicídios, ele estava achando o caso estranho”.
Ambos entenderam que a investigação necessitaria de uma atenção especial da Polícia Civil.
“A família está abalada, enlutada, perdeu uma criança de 4 anos. É um caso que por si só já exige da polícia muita sensibilidade, cautela, humanidade. Por mais que a gente desconfie, precisa ter muito cuidado. E assim foi feito. Foi feita uma perícia preliminar. O corpo foi encaminhado pro IML”, explica
Primeiras desconfianças
Quando veio o resultado, os delegados ficaram ainda mais alertas. As lesões, numa primeira análise, pareciam incompatíveis com o relato da família que dizia que o menino havia sofrido um acidente numa queda da cama. “Nem a mãe nem o padrasto, num primeiro momento, foram depor. Quem apresentou o fato na delegacia foi o pai, que não estava no apartamento”, contou.
Com a investigação sendo cada vez mais aprofundada, o delegado Antenor Lopes convocou mais uma autoridade policial para liderar as investigações. “Eu a nomeei delegada-assistente Ana Carolina Medeiros porque entendi que seria bom ter uma mulher, já que envolvia uma mãe”, relembra.
Para o diretor de polícia, o caso se tornava cada vez mais desafiador. Ele detalha que ficou impactado com o caminho que as investigações tomara. “Eu tenho 20 anos como delegado de polícia. Ao longo da nossa carreira, a gente vai se habituando com crimes violentos, mas quando a gente se depara com a morte de uma criança, isso mexe com seu emocional, isso te choca”, confessa.
A equipe policial se aprofundou no caso. Foram diversos depoimentos, laudos, testemunhos, imagens de câmeras de segurança, conversas com médicos-legistas. Antenor Lopes conta que ideia era esgotar todas as possibilidades até não restar mais dúvidas sobre o que havia acontecido.
“Era uma angústia para toda a equipe esclarecer a verdade e não permitir que fosse feita uma injustiça. Nós só pedimos a prisão do casal quando tivemos a convicção de que, infelizmente, o menino havia sido assassinado por esse vereador. Mas, muito mais difícil, foi responsabilizar criminalmente uma mãe que perdeu seu filho de 4 anos”, relata.
A preocupação da equipe era juntar provas que, tecnicamente, comprovassem o assassinato. O delegado recorda uma em que vários peritos buscavam por literatura estrangeira para estudar sobre queda. “Lembro que alguém achou um livro mostrando que o menino, pra ter aquelas lesões, teria que ter caído de uma altura de cinco metros. E, mesmo assim, a chance de uma lesão como aquela no fígado era de 1%”.
Foi a partir daí que a polícia civil resolveu buscar o histórico do vereador Dr. Jairinho. Foi como se as coisas tivessem começado e se encaixar. Durante a investigação, Antenor Lopes descobriu que o padrasto de Henry tinha tentado liberar o corpo do menino sem passar pelo Instituto Médico Legal (IML). Essa foi a primeira prova de que o casal estava aliciando testemunhas.
Surpresas com o comportamento da mãe
O policial não escondeu a surpresa com o comportamento de Monique Medeiros, mãe de Henry Borel.
“Ela sabia a verdade, mas tentou administrar. Ela estava numa situação da vida dela que ela queria manter: status, boa vida, um belo apartamento, um salário 400% mais alto, um namoro com um político de prestígio. É uma espécie de cegueira deliberada, sabe? O que nos causou perplexidade é que ela tinha que ter tirado o filho daquele apartamento, afastado daquele cara estranho, de comportamento anormal. Ninguém está responsabilizando ela à toa”, declara.
Para o delegado, o fato da mãe sustentar versão mentirosa do marido, era o atestado de culpa. “A Monique falou seis horas na delegacia, teve todas as oportunidades, e não quis contar nada”.
Antenor Lopes acredita que sua equipe fez tudo o que podia para provar o assassinato do menino de 4 anos. “Eu nunca tinha visto um engajamento tão espontâneo como o da equipe nesse caso. As pessoas estavam ali de corpo e alma. Agora, esperamos que Justiça dê a palavra final”, concluiu.