A perigosa vacilada do ministro Alexandre de Moraes
Reportagem do jornal “Folha de São Paulo” escancarou os bastidores da metodologia de trabalho da equipe do ex-presidente do TSE no inquérito das fakes news
O ministro Alexandre de Moraes não poderia jamais, em tempo algum, cair nas armadilhas de um hacker. “Não, mil vezes não”, exclamaria Osmar Santos, um ícone da narração esportiva do Brasil. Moraes cobrou um pênalti e errou o alvo. Chutou nas alturas. Lançou a bola além da estratosfera. “Não, mil vezes não”.
O planeta virou um imenso Big Brother e a privacidade é um espécime em extinção. Hoje em dia, ninguém escapa de involuntária bisbilhotice. Tudo se vê, sente-se e ouve. Já se disse na crônica anterior. E assim caminha a humanidade. Aqui, agora, resgata-se a publicidade da vodka Orloff — de muito sucesso na década de 1980. A alegoria ilustra a saia justa do Judiciário tupiniquim. Observe o diálogo revelador. O onisciente Alexandre de Moraes olha fixamente nos olhos do ex-juiz Sergio Moro e murmura: “eu sou você, amanhã”.
A estrela cintilante do STF (o Rei Sol) se transformou na personagem mais poderosa do bananal. A trajetória do “capa preta”, porém, é recheada de antagônicas aversões. Ele é (ou foi) muito mal falado por petistas e bolsonaristas. No passado, era inspiração para as línguas afiadas dos “companheiros”. E com razão. Moraes sempre votou contra todas as tentativas de se livrar Lula da masmorra. Nos dias de hoje, é odiado por bolsonaristas. Também por motivos óbvios.
A assessoria de um ator tão exposto não deveria dar sopa para o azar. Em determinada ocasião, a deputada Carla Zambelli (PL/SP) sonhou invadir o aparelho celular de “Xandão”. Contratou para esse fim Walter Delgatti Neto, o hacker demolidor da operação Lava Jato. Delgatti, contudo, não deu conta do recado. Moraes parecia instransponível, um ser imune às traquinagens do submundo da informática. Mas não é bem assim. A realidade mostrou o contrário. Um sujeito oculto conseguiu entrar sorrateiramente no WhatsApp do staff do togado- mor. E deu no que deu.
Reportagem do jornal “Folha de São Paulo” escancarou os bastidores da metodologia de trabalho da equipe do ex-presidente do TSE no inquérito das fakes news. O comportamento é muito semelhante ao “modus operandi” de Sergio Moro, Deltan Dallagnol e Cia. Os diálogos raqueados são reveladores demais. Uma aberração sem defesa prévia. Os simpatizantes do ex-presidente Jair Bolsonaro foram compulsivamente selecionados para investigações. Nomes como Rodrigo Constantino, Eduardo Bolsonaro e Paulo Figueiredo viviam na mira dos “justiceiros” da corte.
As Ironias das mensagens denotam imparcialidade e revelam os objetivos das manobras de bastidores. O cenário é pantanoso. O plebeísmo linguístico lavajatista predominava no palavreado. A conversa rasa entre os assessores de Alexandre de Moraes tem muita semelhança com o bate-papo rasteiro dos membros da chamada República de Curitiba: “estamos lascados”, “vai dar merda”. Até os internetês “kkkkkk e Rsrsrs” descontraíam o ambiente virtual. Valia tudo para comemorar a captura de alguma incauta figura do bolsonarismo.
As consequências da derrapagem “moraísta” são imprevisíveis. Vem aí uma série de iniciativas para anular importantes decisões do magistrado. Um furacão institucional encontra-se em formação na linha do horizonte. Alexandre, então, mergulhará num dos nove círculos do inferno de Dante: aquele que contempla uma clara possiblidade de impeachment. Dois argumentos fundamentariam esse propósito: abuso de poder e desvio de função. Os próximos capítulos dessa trama prometem intensas emoções.
PS1: o impeachment de Alexandre de Moraes é coisa remota. Não se iludam. O presidente do Senado Rodrigo Pacheco despachará para o arquivo esse sonho bolsonarista. A não ser que novas revelações tornem mais turvas as águas institucionais. A ver.
PS2: e continua a masturbação bolivariana. Lula sobe o tom e afirma que não reconhece a suposta vitória de Maduro. E mais. Deixa claro que as relações com a Venezuela se deterioraram. Enquanto isso, o mexicano Andrés Lopés Obrador apresenta uma proposta surreal: ele sugere deixar a resolução do imbróglio nas mãos da justiça (sic) venezuelana. O presidente do México aparenta ser bem menos inteligente que um labrador.
Fernando Silva é jornalista e escreve sobre política em DeFato Online.
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