A situação da Prefeitura de BH continua no “modo patético”
Um panorama surrealista persiste. Damião administra com o time do falecido Fuad Noman. Tem tudo para não dar certo

Uma cena, na porta da cozinha da casa da minha avó paterna, lá na zona rural de Ouro Preto, ilustra exótica passagem da política mineira na atualidade: a cachorrada nunca largava o osso na hora da comida. Mas o que sinaliza essa contextualização? Vamos em frente. O drama do ex-prefeito Fuad Noman (PSD) comoveu Minas Gerais. Esse tipo de enredo, porém, é faceta trágica do cotidiano. Trata-se apenas de mais um lamentável acontecimento da vida nossa de cada dia. A ocorrência seria menos traumática, caso a finitude fosse motivo de reflexão. Mas não é. A humanidade prefere sobreviver como se não houvesse amanhã. Então, normalmente, a onipresença da morte se transforma num fenômeno extremamente constrangedor.
Fuad cumpriu dignamente a sua missão. A bola agora está com Álvaro Damião (União Brasil). A política é a arte do imponderável. É muito difícil uma previsão de futuro neste segmento social. As bolas de cristal das pitonisas sempre sofrem um curto-circuito na hora H. O atual cenário da capital mineira é bom exemplo desta imprevisibilidade. Quem diria, há cinco anos, que um ator (literalmente desconhecido) se tornaria o prefeito da quinta maior metrópole brasileira? Alguém já havia ouvido falar de Fuad Noman? Isso é nome? Mais parece pseudônimo de autor de ficção.
Como tão incógnita personagem alcançou a “ilustre” posição de chefe do Executivo de Belo Horizonte? Tem explicação. Um ato intempestivo provocou a inusitada ocorrência. O dono cativo da principal cadeira da prefeitura de BH resolveu embarcar numa temerária aventura. O conturbado Alexandre Kalil (à época no PSD, hoje no Republicanos) tentou praticar paraquedismo na Cidade Administrativa. O árabe, contudo, levou bomba e deixou o abacaxi nas mãos do sírio-libanês.
Quem diria, há cinco anos, que um irreverente repórter da Rádio Itatiaia, cheio de mexes e remexes, assumiria o cargo de prefeito? Nessa conjuntura, o acaso bateu duas vezes na porta do protagonista. No primeiro toque, o vereador Damião topou participar de uma “odisseia” de alto risco. Na base do tudo ou nada, aceitou ser vice de uma chapa aparentemente fadada ao fracasso. A segunda pancada foi a morte precoce do improvável vitorioso nas urnas. Consequência deste confuso script. Álvaro entrou definitivamente no imponente prédio da avenida Afonso Pena — a sede do governo municipal.
E agora? Neste ponto, chegamos à aventura da cachorrada na casa da minha avó. Um panorama surrealista persiste. Damião administra com o time do falecido Fuad Noman. Tem tudo para não dar certo. O novo mandarim dos belorizontinos continua se comportando como treinador de seleção alheia. Os atletas não são da sua confiança. É tudo muito bizarro. Até quando esse picadeiro se manterá? Os caras de Noman — que não são escolhas do Cara — ainda não entraram no modo desconfiômetro. Veja bem. Dignidade é bom, não engorda e não tem contraindicação. Use e abuse deste preceito. Então, este é o momento exato dos fuadistas vazarem na braquiara. Afinal, apenas o prefeito conta com o respaldo das urnas.
P.S.1: a Polícia Federal deu uma mãozinha para Álvaro Damião e botou para correr o suspeitíssimo secretário de Educação, outra indicação de Fuad Noman;
P.S.2: e Damião ameaça timidamente uma mudança no secretariado. Um pedido de exoneração coletivo, porém, ajudaria muito.
Sobre o colunista
Fernando Silva é jornalista e escreve sobre política em DeFato Online.
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