A vingança de Tutu Caramujo

O amanhã foi abolido em Itabira. A ordem é viver o hoje. O futuro não há, é pura ilusão

A vingança de Tutu Caramujo
Foto: Brander Gomes
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Tenho quatro inimigos em Itabira. É uma constatação baseada no “Instagram” do site DeFato. Pode não ser verdade, mas se a matemática é exata, os números sustentam meus presságios. Sob protesto dos que compõem esse quarteto infalível, que me prestigia semanalmente com o seu “deslike”, eu também me sinto um tanto quanto ofendido por só ter quatro leitores antagonistas, que seriam meus únicos sacrificados leitores.

Ao dedilhar esse parágrafo acima alguém disposto a monitorar a disputa de um contra quatro, diria exatamente isto: “Esses contrários nada leem, metem o dedo no desaprovo apenas mecanicamente”. Apesar dessa colocação possível, continuo pensando que só tenho quatro adversários que não me estendem a mão para cumprimentar, nem aceitariam beber um chope ali no boteco da esquina.

Desde criança aprendi que ler e escrever são atitudes dos que nunca ficam sozinhos. Se me falta o parente, o amigo, quem quer que seja, naquele ou em todos os momentos,  um bom livro, ou um interessante filme preenchem o vazio. Os quatro que me alegram com o desprezo ou o aplauso, para aumento de minha tristeza  eu os conheço pessoalmente de conversas profundas, das que revelam personalidades.

É mais ou menos o que queria dizer hoje: convidar os meus diletos daninhos, um a um, a levantarem uma caneca de chope ali pertinho, em qualquer casa da moda. A noite itabirana, por enquanto, graças à despedida das vacas gordas, que beneficiam somente os forasteiros, nada tem a ver mais com o poema de Drummond que escreveu: “A vontade de amar, que me paralisa o trabalho, vem de Itabira, de suas noites brancas, sem mulheres e sem horizontes”.

Por aí se vê que a terra itabirana  já teve noites sem graça, agora a agitação toma conta da atualidade, cujo estado enche-se de falsas sensações de prazer. E, enrolando e levando os bobos abismos abaixo, sem se preocupar com aa responsabilidade pública, pensam com seus botões e fechos éclairs: “Dane-se o dia seguinte!”. Sim, o manhã dos maus e dos males voltará a ser oco e dele se ouvirá apenas, sempre, o venerado Drummond, traído pelos vagabundos: Na cidade toda de ferro as ferraduras batem como sinos. Os meninos seguem para a escola. Os homens olham para o chão. Os ingleses compram a mina.

Infelizmente, Antônio Alves de Araújo, lembrado hoje apenas pelos caramujos que invadem a avenida mais chique da cidade, a Mauro Ribeiro, voltarão, inevitavelmente para uma Itabira com pelo menos a metade de seu potencial econômico. Preparemo-nos

Se riram dele, o visionário itabirano do século XIX, pessimista mas sonhador, quem não tem medo que ele retorne para ser o real pesadelo e resolva eternizar-se na frase drummondiana? —  “Só, na porta da venda, Tutu Caramujo cisma na derrota incomparável”.

E inadiável. Infelizmente.

A vingança de Tutu Caramujo
Caramujo gigantes reproduzindo em Itabira: será praga do debochado Tutu? – Foto: Reprodução

José Sana é jornalista, historiador, professor de Letras e ex-vereador em Itabira por dois mandatos, onde reside desde 1966

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