Afinal, quem é o “Garganta Profunda” do Cruzeiro?

Confira o novo texto do jornalista e colunista da DeFato, Fernando Silva

Afinal, quem é o “Garganta Profunda” do Cruzeiro?

Em 1974, o ex-presidente norte-americano Richard Nixon saiu da “Casa Branca” pelas portas do fundo e entrou para a história. O mandatário renunciou à presidência da maior potência mundial. Escapuliu antes de ser defenestrado por um inevitável processo de impeachment. O republicano deixou o palco depois de longa agonia. Foi sangrado pelas instituições americanas, durante dois anos.

  

O drama começou com um furo de reportagem do jornal “The Washington Post”, em 1972. A edição de 18 de junho veiculou extensa matéria sobre a estranha invasão do comitê do Partido Democrata, no complexo Watergate, na capital do país. Cinco homens foram detidos.

Na ocasião, esses meliantes- como diriam os setoristas de polícia- roubaram documentos e também instalaram um sofisticado sistema de escuta clandestina, no local. O propósito da traquinagem era espionar as estratégias de campanha dos democratas, naturais adversários de Nixon, nas eleições presidenciais de 1976.  Uma malandragem típica de republiquetas de bananas. 

O jovem jornalista Robert (Bob) Woodward (em início de carreira, quase um foca) iniciou uma investigação sobre o estranho acontecimento. Depois de alguns meses de intenso trabalho, Woodward descobriu um “fio desencapado” que chegava ao gabinete do “homem mais poderoso do mundo”.

E deparou com uma surpresa e tanto: o próprio Nixon havia autorizado a lambança (a invasão do comitê do Democrata). A partir daí, um incontrolável mar de lama inundou o Salão Oval da Casa Branca. E ponto. Acuado, o chefe do executivo ianque não teve alternativa senão dar no pé. 

Mas, como um repórter iniciante descobriu a conspirata republicana, nada republicana? Elementar, meu caro Watson. Uma fonte providencial entregou tudo de mão beijada. O misterioso língua solta recebeu o apelido de “Deep Throat”, ou Garganta Profunda. O profissional de imprensa do “Washington Post” preservou a fonte da delicada informação- como sempre acontece no bom jornalismo. O repórter jamais, em tempo algum, revelou a identidade do famoso X9.

Em agosto de 2005, W. Mark Felt – antigo subdiretor do FBI- escreveu um longo artigo na revista “Vanity Fair” e se identificou como o intrigante “Garganta Profunda”. O ex-policial “fofoqueiro” morreu aos 95 anos, em dezembro de 2008. Essa encrenca da política norte-americana passou à história com o nome de “Escândalo de Watergate”. 

Mas, agora, vamos à versão “mineirês” desse folhetim. Essa narrativa remete à atual situação do Cruzeiro Esporte Clube, o ex- “grande clube da cidade”. Há pouco mais de dois anos, a Raposa mergulhou no mais sombrio inferno dantesco da sua história. O furdunço começou com a invasão da instituição centenária por um bando de cafajestes. 

Os larápios até inventaram um projeto- que de tão ambicioso beirava à megalomania- com um propósito exponencial: a obtenção de um empréstimo bilionário. Uma entidade internacional bancaria o negócio. Esse recurso teria dois fins essenciais: a liquidação da gigantesca dívida global do clube (quase impagável) e pesado investimento em reforços para o elenco. O estranho financista de além-mar seria uma espécie de “Rubens Menin” da vida do Cruzeiro. 

O plano ambicioso seguia a todo vapor até que… o “Garganta Profunda” do Barro Preto pintou na área. A tragédia pré-anunciada foi fruto de picuinhas domésticas, comezinhas fofocas e subalternos jogos de interesse. Desmedido desejo de vingança despejou lama no ventilador (ou microfones da Rede Globo).

Um enigmático “conselheiro” entregou ao “Fantástico” a comprovação de sigilosas maracutaias internas. A bomba explodiu com potência necessária e suficiente para arruinar a Toca da Raposa e imediações. E nada nunca mais foi como antes era.  

A primeira consequência do Watergate caipira foi letal: o investidor estrangeiro picou a mula. Escafedeu-se. E ponto. Daí pra frente o Cruzeiro só desceu ladeira abaixo. Mas, que fique muito claro. No futebol tupiniquim, há malfeitos de cabo a rabo.

As trambicagens nascem na Confederação, crescem nas federações e contaminam os times país afora, com raríssimas exceções. E aqui vai a tal pergunta que insiste não silenciar: por que a emissora de Roberto Marinho só se interessou pelas entranhas putrificadas da Raposa? Cadê as roubalheiras dos coirmãos?  

Um detalhe carece explicação. Os dirigentes corruptos do Cruzeiro sempre mencionaram um quê perturbador: a existência de um fantasma responsável pelo vazamento de documentos comprometedores para a “Vênus Platinada”. Mas, até agora, ninguém ousou apresentar o “magnífico” indivíduo para o distinto público. O sujeito continua sossegadamente na moita. E, mais: outro ator muito influente escancarou as portas da Globo para esse verdadeiro monumento à honestidade (o gargantinha azul).  

Até agora, apenas duas entidades foram punidas pelas gatunagens dos antigos mandarins: o clube e os torcedores. Os verdadeiros ladravazes continuam leves e soltos na baixada. Andam por aí se banhando em uísque e em permanente temporada de caça à garota de programa. Curtem tranquilamente as baladas das fascinantes noitadas da capital mineira. Enquanto isso, um time pra lá de medíocre flerta perigosamente com a série C. 

Então, esse é o momento oportuno para se prestar uma singela homenagem ao “Garganta Profundo” estrelado- o homem que “moralizou” o esporte bretão e destruiu o Cruzeiro. A torcida até deveria construir uma estátua para esse “herói azul”. E qual é mesmo o nome dele? Ninguém parece saber. O tal sujeito teve uma atitude “muito digna”, mas ainda não retornou ao palco para receber os “merecidos aplausos”. Por que o cara (e esse é o cara) ainda não botou as fuças pra fora da toca? Essa renitência em não aparecer tem um nome próprio: medo, covardia ou modéstia. Você decide.

Fernando Silva é jornalista e escreve sobre política em DeFato Online.

O conteúdo expresso é de total responsabilidade do colunista e não representa a opinião da DeFato.

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