Análises técnicas sobre Vinicius Jr. não podem ser desvinculadas da luta racial em que está inserido

Desempenho do jogador na seleção segue aquém do apresentado no Real Madrid

Análises técnicas sobre Vinicius Jr. não podem ser desvinculadas da luta racial em que está inserido

Nesta terça-feira (26), a seleção brasileira do novato Dorival Júnior encerrou seu primeiro ciclo de amistosos, com um empate diante da Espanha por 3 a 3. Aliado à vitória contra a Inglaterra por 1 a 0, no último sábado (23), o resultado deixa boas expectativas em relação ao novo trabalho. Porém, o desempenho aquém de Vinicius Júnior pela seleção, muito diferente do apresentado no Real Madrid, ainda desperta dúvidas e críticas em vários torcedores.

Porém, é injusto fazer uma análise técnica do atacante sem levar em consideração os episódios racistas vividos por ele recentemente. Especialmente em um amistoso construído em torno dele e sua batalha. Vini não é a primeira vítima deste crime hediondo, mas se tornou um dos poucos a assumir a luta. 

Ao invés de sucumbir ao sistema, preferiu enfrentá-lo. Mas não se trata de uma luta fácil. Do outro lado, Vinicius Júnior enfrenta milhares de torcedores, dirigentes, jornalistas e outras figuras racistas. Gente que sempre se sentiu à vontade para destilar seu ódio sem ser incomodado, mas que hoje vê um jovem rapaz preto, vindo do interior do Rio, não abaixar a cabeça diante da interminável tentativa de silenciamento.

Por todo esse contexto, é impossível imaginar que isso não afete o mental da principal estrela do Real Madrid. Mesmo incentivado por muitos, Vini tem lutado praticamente sozinho durante todo esse tempo, afinal, por mais que palavras de apoio sejam bem vindas, quem ouve os horrorosos gritos de “Mono!” em um estádio lotado é ele.

Se para este que vos escreve, ler matérias completas sobre esses episódios já é um sacrifício, imagina para quem os vive? Vinicius Júnior não entra em campo suportando apenas críticas, algo comum a qualquer jogador de futebol. Ele carrega consigo uma luta secular, que mata e silencia milhares de negros há muito tempo. Alguém se arrisca a imaginar como é trabalhar desta forma? Eu não.

Ao tomar uma atitude revolucionária, Vini nos apresenta a um novo cenário. Enquanto seguir jogando, estará exposto a críticas e elogios, estes muito mais frequentes, diga-se. Mas caberá a nós analisar seu desempenho sem esquecer a tudo que ele tem sido submetido nos últimos anos. Ou seguiremos tratando o futebol como um universo à parte, um erro que deixa diversas vítimas, entre elas a principal estrela da seleção brasileira.

Victor Eduardo é jornalista e escreve sobre esportes em DeFato Online.

O conteúdo expresso é de total responsabilidade do colunista e não representa a opinião da DeFato.

cassino criptomoedas

MAIS NOTÍCIAS