Após repercussão do caso Herycson dos Santos, itabiranos relatam dificuldades no atendimento neurocirúrgico no município
Sem estrutura para atendimento complexos dessa especialidade, itabiranos precisam ser transferidos para BH, mas baixa oferta de leitos na capital dificulta o tratamento

O caso recente de Herycson Ferreira dos Santos, de 32 anos, diagnosticado com um aneurisma, reacendeu um debate quanto ao atendimento neurocirúrgico de alta complexidade na saúde pública de Itabira. O itabirano, mesmo após uma decisão da Justiça, que determina a sua transferência urgente para Belo Horizonte para uma cirurgia, permanece aguardando por mais de uma semana por essa remoção — o que tem colocado a sua vida em risco.
A história, publicada na segunda-feira (26) pelo portal DeFato Online, suscitou discussão sobre o tratamento neurológico na cidade, sobretudo nos casos considerados graves. De acordo com informações da Secretaria Municipal de Saúde, o município não dispõe do serviço de neurocirurgia, neurointensiva e centro de reabilitação neurológico ou neurocirúrgico. Dessa forma, nos atendimento de alta complexidade da neurologia, é necessário transferir os pacientes para centros especializados em Belo Horizonte.
Porém, devido a baixa oferta de leitos e alta demanda por serviços, há uma dificuldade de para a transferência de pacientes de Itabira e região para unidades hospitalares da capital mineira, como apontam os relatos publicados nas redes sociais do portal DeFato Online e transcritos abaixo:
Anísio Martins: “Meu irmão ficou nessa mesma situação [do Herycson], em fevereiro deste ano, durante 16 dias, no PSM de Itabira. Quando conseguiu a transferência já era tarde demais. Chegando a um hospital de BH, foram feitos alguns exames e constataram a morte cerebral. Então, doou alguns órgãos e voltou a Itabira para encontrar com Criador. Isso é revoltante, Itabira tem uma das maiores arrecadações de MG e não tem atendimento médico especializado e centro cirúrgico para atender os pacientes com esse quadro grave de saúde. Quem não tem plano de saúde está à mercê dessa situação caótica”.
Rejane Santos: “Misericórdia, aconteceu comigo. Fiquei 2 mês esperando no pronto-socorro entramos na justiça, aí, então, internei no Hospital Metropolitano Célio Castro. Até hoje trato lá, pus um stent na cabeça que custa 100 mil e tirei mais três aneurismas”.
Angellica Sil: “A minha [sic] ficou lá no mesmo estado, há 20 dias. Isso, neste domingo, depois de determinação judicial, que ela foi transferida pra BH, com AVC hemorrágico. Esperaram ela piorar e ter outro AVC. Espero que não aconteça o mesmo com meu amigo Herycson”.
Cleide Dias: “Isso aconteceu comigo. Fiquei 32 dias na semi-intensiva do pronto-socorro. O Juiz determinou que as secretarias de saúde do município e do Estado deixassem uma conta aberta para que fosse pago a minha cirurgia, porém, só a Secretaria do Estado deixou a conta para o Juiz movimentar. A secretária de Saúde de Itabira descumpriu todas as ordens judiciais. Após os 32 dias de muitas lutas e angústia, fui transferida para Hospital Metropolitano Célio de Castro, hospital cem por cento SUS, que é referência neste tipo de cirurgia. Nem parece hospital do SUS, a estrutura física e humana é coisa de primeiro mundo.. Até heliponto o hospital tem.. Atendimento de primeiro mundo..”.
Problema antigo
Infelizmente, problemas no atendimento neurológico em Itabira não são novidades. Casos anteriores já mostraram a dificuldade de transferência e o sofrimento de pacientes e familiares. Em 2023, Maria Rejane Dos Santos, paciente com aneurisma, aguardou por mais de um mês por uma transferência para Belo Horizonte. À época, ela estava internada no Hospital Nossa Senhora das Dores (HNSD), principal unidade hospitalar da cidade.
Posteriormente, Maria Rejane dos Santos, a paciente em questão, conseguiu realizar a cirurgia em Belo Horizonte, após uma longa espera que colocou sua vida em risco.
Relembre o caso nos links abaixo:
+ Após longa espera, Maria Rejane dos Santos passa por cirurgia em Belo Horizonte
Outro lado
Em contato com a reportagem do portal DeFato Online, a secretária municipal de Saúde, Fabiana Machado, relatou que “Itabira não dispõe do serviço de neurocirurgia, neurointensiva e centro de reabilitação neurológico/neurocirúrgico”.
Confira abaixo a íntegra da nota emitida pela Secretaria Municipal de Saúde:
“Segundo a Secretaria Municipal de Saúde, o paciente H. F. S de 32 anos, está cadastrado na Central de Leitos desde o dia 19 de maio e aguarda disponibilidade de leito em uma unidade hospitalar de referência para tratamento neurológico na capital.
É importante esclarecer que a transferência depende da oferta de vaga e da regulação realizada pela central de leitos, em Belo Horizonte, que organiza toda a demanda do estado de forma a alocar o paciente no serviço e leito necessários para o tratamento, dentre as especialidades.
Dentro deste quadro, uma das especialidades com menor oferta de vagas é a Neurocirurgia devido a alta demanda.
A Secretária Municipal de Saúde reafirma o compromisso de continuar empenhada em manter o melhor e mais humanizado atendimento ao paciente dentro dos recursos disponíveis diante da gravidade do quadro clínico. O paciente dispõe de assistência intensiva 24 horas, análises e acompanhamento da situação da vaga, permanentemente, pelo setor do SUS FÁCIL – PSMI”.
O Hospital Nossa Senhora das Dores (HNSD), responsável por gerenciar o Pronto-Socorro Municipal de Itabira (PSMI), também emitiu uma nota sobre a situação de Herycson dos Santos:
“Sobre o atendimento do referido paciente, o Pronto-Socorro Municipal de Itabira (PSMI) e Hospital Nossa Senhora das Dores informam que:
A transferência de pacientes para centros especializados depende da disponibilidade de vagas e da Regulação realizada pela Central de Internações SUS-Fácil, com sede em Belo Horizonte.
Essa Central é responsável por organizar a demanda de todo o Estado de Minas Gerais, alocando os pacientes conforme o perfil clínico, em serviços e leitos adequados. Destacamos que a especialidade de neurocirurgia está entre as que apresentam maior dificuldade na obtenção de vagas em razão da alta demanda em todo o Estado.
Apesar desse cenário, o Pronto-Socorro Municipal de Itabira permanece empenhado em garantir o melhor atendimento possível, com assistência intensiva e humanizada prestada 24 horas por dia.
Esclarecemos que, até o momento, todos os exames disponíveis em Itabira que foram solicitados para o paciente foram realizados, não havendo pendências.
Quanto ao contato com os familiares, informamos que o boletim médico é atualizado diariamente. Além disso, a gerência administrativa e a coordenação de enfermagem do Pronto-Socorro acolheram e prestaram todos os esclarecimentos solicitados pelos familiares sempre que procuradas. O Diretor Médico do PSMI também manteve contato direto com os familiares e com médicos amigos da família, repassando informações detalhadas sobre o caso.
Dessa forma, informamos que todo o suporte necessário tem sido oferecido pelo PSMI.
O PSMI e Hospital Nossa Senhora das Dores reafirmam seu compromisso com a ética, a transparência e a humanização no cuidado aos pacientes e seus familiares”.