Após sofrer golpe, bombeiros civis de Itabira finalizam curso com pequenos aprendizes

A ação foi concretizada voluntariamente pelos profissionais

Após sofrer golpe, bombeiros civis de Itabira finalizam curso com pequenos aprendizes
Foto: Júlia Souza / DeFato
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Em março deste ano, o Portal DeFato noticiou o caso do golpe do curso de bombeiro aprendiz, em que dezenas de famílias foram lesadas, assim como os profissionais que ministravam o curso, os quais são bombeiros civis de Itabira e estavam prestando serviço. O caso repercutiu, gerando até ameaças ao veículo e motivando algumas das vítimas a prestar queixa na Polícia Civil. Agora, os profissionais que vivenciaram essa situação demonstram resiliência e solidariedade, pois finalizaram o curso voluntariamente com alguns dos pequenos aprendizes. 

 

No último sábado (3), aconteceu a graduação dos bombeirinhos que retomaram o curso. Um acontecimento que só foi possível graças ao apoio de voluntários, união de alguns dos familiares lesados e a ação dos bombeiros civis. 

Relembre o caso 

Diversas famílias itabiranas sofreram um golpe que envolvia a realização de um curso de bombeiro aprendiz civil para crianças. Seriam oferecidas 24 aulas e, dessas, apenas nove foram realmente ministradas. Após isso, os organizadores e administradores, que eram de São Paulo, desapareceram, sem terminar a formação. Eles também não devolveram o dinheiro dos pais, ou sequer pagaram os profissionais que ministraram as aulas.

Alguns desses trabalhadores tinham seus próprios filhos matriculados no curso que iam ministrar, o que os motivou a reunir ajuda para tentar finalizar a formação com os jovens. O representante da equipe de brigadistas de Itabira, responsável por dar as aulas para as crianças e também lesado no golpe, Esdras Francisco, falou sobre a situação: 

“Nós fomos contratados para dar o curso e também ficamos no prejuízo, não recebemos. Porém, tivemos essa oportunidade de finalizar o curso das crianças de forma voluntária. O que nos motivou a tentar continuar foi ver a nossa filha, que também estava matriculada, triste em casa, querendo ter as aulas e não tendo. Assim, nós juntamos a equipe, fizemos uma reunião e decidimos retomar as aulas voluntariamente.”

Esdras e a equipe de brigadistas durante a cerimônia de formatura realizada pelos voluntários 
Foto: Júlia Souza / DeFato

O bombeiro civil também explicou que a equipe recebeu apoio para continuar a formação: 

“Nós procuramos algumas ajudas, a Igreja esteve de portas abertas, nos ajudando. O pastor, Dr. Marco Antônio, nos disponibilizou a igreja para continuar e terminar o curso, além da formatura hoje com as crianças.” 

A formação inicial começou no Clube Arfita, porém os proprietários também foram lesados, não recebendo o valor do aluguel. Portanto, ao decidir continuar com as aulas, os bombeiros precisaram desse apoio, que veio da Igreja Batista Central, a qual abrigou as aulas voluntárias aos pequenos, que tinham idade de 5 a 16 anos, além do evento de formatura. 

O vice-prefeito Dr. Marco Antônio Gomes cumprimenta um aluno pela formatura
Foto: Júlia Souza / DeFato

O pastor da Igreja Batista é o vice-prefeito de Itabira, Marco Antônio Gomes (PL), que contribuiu na concessão do espaço. Em entrevista ao Portal Defato, ele falou sobre o assunto: 

“Fiquei sabendo do caso através do Esdras, o qual é um irmão nosso aqui e um  bombeiro civil com essa oportunidade de estar servindo. E a igreja, como também é uma entidade que serve, tem que servir à população e às crianças. Os familiares que ficaram sentidos com a promessa de que colocariam as crianças nesse ‘bombeiro aprendiz’, gastaram dinheiro… mas, é lógico, a esperança nunca morre. Então, quando ele chegou aqui na igreja e fez a proposta, eu abri as portas. Porque não só para a família, para as crianças, mas para a comunidade, quando você instrui as crianças dessa maneira, você protege a própria família. Eles aprendem a lidar com situações difíceis e a respeitar os pais e a sociedade.” 

Desconfianças 

Apesar de todo o grupo de familiares e profissionais ter vivenciado esse abalo em conjunto, ainda existem desconfianças e problemáticas na questão. Alguns pais que foram lesados, decidiram não participar da formação voluntária com seus filhos, porque estariam desconfiados de que tudo fora armado pelos profissionais de Itabira. 

Todavia, existem provas concretas de que o grupo que organizou o curso inicialmente é de outro estado, como dados presentes no contrato, o CNPJ da empresa, informações sobre os proprietários, entre outras informações. 

Uma das brigadistas que trabalhou no curso e também tinha o seu filho matriculado desabafou sobre a questão: 

“Com esse negócio do golpe, os próprios pais montaram um grupo de WhatsApp para combinar entre eles de entrar na justiça contra a escola de São Paulo. Aí colocaram a gente no grupo, porque somos pais de alunos… então, no grupo, os pais sugeriram que continuássemos dando as aulas. Aí combinamos em uma reunião e decidimos fazer tudo voluntário.” 

Ao deliberar por retomar o curso, os brigadistas divulgaram no grupo e reuniram os pais que ainda estavam interessados em retomar as atividades. Assim, foram continuadas as lições até o fim do cronograma combinado inicialmente. 

Ela também explicou que foi realizada uma rifa para arrecadar dinheiro para comprar lembrancinhas e materiais para realizar a pequena festa para os alunos que continuaram o curso: 

“Fizemos uma homenagem para as crianças, com todo o conteúdo que eles aprenderam. Eu estava sem dinheiro, todo mundo na mesma situação, então fiz uma rifa para arrecadar dinheiro para a formatura, e as mães se sensibilizaram com a atitude e resolveram fazer uma rifa delas, para poder comprar uma lembrancinha para as crianças. Foi tudo de iniciativa coletiva, em comum acordo.” 

Confira um trecho da formatura que aconteceu na Igreja Batista Central: 

Agora, os bombeiros aprendizes têm conhecimento de primeiros-socorros e também foram iniciados no desejo pela profissão. Durante a solenidade de formatura, dois dos alunos mais velhos, ambos com 16 anos, destacaram o desejo de seguir na carreira de brigadista, pontuando que vão se preparar para isso após terem passado pela experiência do curso.